Ontem à tarde foi promovida a conferência de imprensa de The Current War no Festival Internacional de Cinema de Toronto. Benedict, Michael Shannon, Nicholas Hoult, o diretor do longa Alfonso Gomez-Rejon e o roteirista Michael Mitnick estiveram presentes.
Confiram abaixo a transcrição traduzida das falas do Benedict durante o evento:
Pergunta: ”Benedict, o quanto você sabia sobre a história profissional e pessoal do Thomas Edison antes de entrar no projeto?”
Muito pouco, eu fui descobrindo com o tempo. Eu realmente estava no escuro – não querendo fazer um trocadilho com a frase- mas acho que ele existia na minha mente como um tipo de acompanhante para sua invenção, a lâmpada, que eu pensava que era sua invenção, não o desenvolvimento da invenção de outra pessoa. Muito do que ele alcançou em sua vida foi uma expansão ou progressão das ideias de outras pessoas, bem como de suas próprias ideias originais e únicas que o destacaram.
Eu me senti muito atraído pela ideia de alguém que começou a vida de uma forma muito humilde, que passou por muitas dificuldades, mas que as usou em seu benefício. Sua severa…sua audição ruim. E aí a história em si me pareceu ser mais sobre alguém que escolheu, realmente escolheu, não escutar verdades. Essa é uma coisa que ele não tinha condições de reconhecer, por culpa do quão baixo ele desceu e por como isso o corrompeu. E quanto mais eu pesquisava, Michael (Mitnick) e eu, livros que li como ”Empires of Light’’ e várias biografias de Edison, mais me dava conta de que há uma recepção heterogênea. Uma compreensão e uma apreciação muito heterogêneas desse homem. Então, de certa forma, isso nos deu liberdade para contar a nossa história do jeito que ela é. Mas, sim, a resposta curta para sua pergunta é que eu sabia muito pouco no começo.
Pergunta: O quanto um ator julga o personagem que ele interpreta com base em sua própria pesquisa e como ele se liberta para fazer o personagem da forma que está escrito no roteiro?
Essa é uma pergunta muito boa. Eu acho que julgar seu personagem é uma coisa fatal. Se você está interpretando alguém, você precisa habitá-lo com uma certa quantidade de compreensão, ou empatia ou simpatia, como quiser chamá-la. E, para realizar isso, não se pode assumir lados, não é uma questão de manchetes jornalísticas ou de uma verdade pura e plena versus ficção, ou do mal contra o bem. É muito mais complexo do que isso. E eu acho que o que vemos como um homem que conquistou muitas coisas, partindo de um começo humilde, que se sente atacado no mundo, eu acho que isso nunca o deixou. Não sei onde isso começou, essa necessidade de ser bem sucedido e vencer e ter controle, mas é uma verdade feia. Mas é formada de uma coisa muito humana. Acho que há um grau de salvação, no sentido de que ele admite estar errado. Ele sabe que estava errado e não viu isso como um roubo, mas aí ele seguiu e tomou controle de muitas patentes com as quais ele estava muito envolvido. Ele queria manter a cerca muito longa, muito alta e muito forte e manter as pessoas fora de seu jardim de invenções, digamos assim, ao invés de, como propõe George Westinghouse, simplesmente trabalhar em grupo e ter um jardim maior.
E eu acho que isso…claro, é minha opinião, que é uma maneira melhor….mas quem sabe? Não estávamos lá. E eu acho que na passagem de tempo com a qual lidamos para contar esta história e na história imediata que tentamos caracterizar, para mim foi muito compreensível – não estou fazendo uma associação pessoal com isso, apesar de ter sido muito interessante examinar ideias sobre a fama e como ela pode envenenar a integridade, sobre como você pode perder o ideal em tramas de ciúmes e outras emoções que são muito, muito humanas, apesar dos seus melhores instintos estarem contra elas. Elas me pareceram falhas muitas humanas, ainda tenho uma boa quantidade de simpatia por ele, ainda que ele não tenha decidido ir pelo caminho certo. Dá para ver como ele fez essas escolhas erradas, se são erradas. Eu acho muito, muito….eu deixo para que outras pessoas julguem personagens que eu interpretei, eu acho muito difícil não ser defensivo, pelas próprias razões que você disse. Eu não estou tentando polir alguma coisa, não estou tentando fazer alguma coisa parecer mais bonita do que ela é, não tenho receio em…não tenho vaidade em relação aos meus personagens. Não acho que você precise fazer um bom retoque publicitário neles. Espero que não pareça isso! Mas para examiná-lo completamente…você não consegue evitar sentir algum amor por essas pessoas, independente do quão erradas suas atitudes podem acabar sendo.
Pergunta: Esse amor por personagens históricos…você interpretou Alan Turing há uns anos…você é mais atraído por personagens reais do que por fictícios?
Não, não. Eu acho….Como eu disse, eu não sabia muito sobre Edison, não foi realmente isso que me atraiu. O que me atraiu foi o roteiro e o dilema humano que eu vi nele, não a ideia de interpretar uma enorme figura cultural. E isso é meio…se você faz isso, de certa forma, é assustador. Como Michael (Shannon) disse, em alguns casos esses não são fantasmas, você está lidando com a ideia de alguma coisa, ao invés de sê-la, apesar de estar sendo ela como você a vê, não como a coisa que ela foi, se é que isso faz algum sentido. Você está aproximando, você está interpretando, você está tentando canalizar um pouco dela como um contador de histórias. E é isso que atrai, o desafio. Porque, de certa forma, se você tem as expectativas das pessoas que têm uma perspectiva mais detalhada ou muito forte em relação a um personagem, então você realmente pode parecer desinteressante, eu acho. E isso acontece com ficção também, eu interpretei vários personagens fictícios, seja no mundo dos quadrinhos, Sherlock ou o que seja. E isso…você está pisando em solo santo para muitos fãs, que já estavam lá bem antes de você começar a mexer com o material. Então, você não pode deixar que isso o iniba. Você respeita isso, mas precisa se levar para o trabalho, não as ideias pré-concebidas das outras pessoas sobre como ele deveria ser.
Pergunta: ”De onde vocês tiraram inspirações para interpretar esses personagens? Como foram seus processos criativos?”
Eu tinha um similar (livro usado por Michael Shannon), um volume muito fino, que era um seguimento de um diário de Edison quando ele já tinha uma idade avançada. Eu acho que não está mais em publicação, Alfonso e a produção que encontraram uma cópia e – voltando à pergunta anterior – jogou luz num âmago muito humano deste homem. Ele falava muito francamente sobre seus sonhos, ele era muito engraçado, muito autodepreciativo. Ele falava muito sobre sua dieta, movimento intestinal ou falta dele, ele falava sobre seu amor, sobre seu mundo de fantasia. Falava sobre seu grande amor pela literatura, sobre o que ele estava comprando. Ele falou sobre ser convencido a ir a uma missa em Nova York por que ele perguntou a um condutor num trem em qual ponto ele deveria parar e não conseguiu escutá-lo. E são coisas assim que….Na nossa história, estamos tentando enxergar além do Edison da apresentação do P.T. Barnum, apesar de ter alguns momentos disso, perto do homem privado e quais foram as maquinações dele. E os fracassos também. A negligência de sua família, que veio com sua obsessão. Mas essas coisas me enterneceram. Eu achei que Michael (Mitnick) tinha feito um trabalho incrível com sua imaginação ao ser verdadeiro com aquela faísca de luz vinda de uma fonte real sobre como ele era. (Olhando para Michael) e eu tenho certeza que você também leu os extratos do diário.
Então…sim, essa foi uma inspiração.
Pergunta: Para os principais do filme, como foi trabalhar com o outro? Há alguma história interessante dos bastidores?
Michael Shannon fala que estava animado para gravar a única cena que ele tem com Benedict e disse que o filme começou a ser gravado primeiramente pelas partes do Edison, porque ele ainda não estava disponível e que, por isso, eles gravaram muitas cenas do Benedict primeiro. Então, aconteceu esse diálogo:
Benedict: E eu estava tendo um bebê!
Michael: Sim! Ele estava tendo um bebê.
Benedict falando longe do microfone: Bom, não eu, mas você sabe!
Quando então chegou a vez de Benedict responder, ele disse:
Eu fiquei muito animado quando fiquei sabendo da escalação desses dois, fiquei feliz demais. Acho que esse aqui (aponta para Michael) é um dos maiores atores dessa era, ele é verdadeiramente sensacional e ele mostra o que o cinema pode fazer de melhor. Ele é simplesmente o pacote completo. No teatro também, é que eu só o vi no cinema, infelizmente.
E esse filhote (se vira para Nicholas Hoult):
Benedict: Nós nos encontramos algumas vezes, não encontramos?
Nicholas: Ohhhh sim!
Benedict: Ohhhh sim! O que isso significa?
Não, mas eu estava muito animado para trabalhar com Nick também. Nós nos divertimos e não demorou para eu ter uma crise de riso, porque ele é muito engraçado.
E eu amei minha cena com Michael, porque ele realmente elevou o nível da minha performance e eu meio que quebrei, é um momento tão importante. Esses homens têm um encontro quase conciliatório, né? De certa forma. Quer dizer, termina com a grande pergunta, por que não simplesmente compartilhar seus ganhos, por que não simplesmente aproveitar e seguir em frente juntos? E eu gosto de pensar que, naquele momento, no processo mental do meu personagem -vocês precisam ver o que vocês acham- mas eu gosto de pensar que ele está só pensando ”Eu aceito que eu talvez tenha entendido isso errado’’. Aí ele segue para um novo terreno, e para uma nova tirania nesse terreno mas, naquele breve momento, eu acho que ele talvez tenha tido razão. Não sei.
Ele tinha falado sobre como uma cerca é um bom negócio, porque só um homem faz e o outro se beneficia. Mas ele (aponta para Shannon) tem o argumento mais forte naquela discussão, que é ”você não precisa da cerca, você pode compartilhar’’.
Mas, voltando ao assunto, eu me diverti trabalhando com esses dois.
Tradução: Gi