Ontem nós postamos em nosso site a primeira parte das opiniões dos principais jornais e revistas do Reino Unido e dos EUA sobre a atuação de Benedict Cumberbatch em Hamlet. Leia abaixo a última parte das críticas que traduzimos. Vale lembrar que caso queira ler a crítica na íntegra (apenas em inglês), basta clicar no link.
ATENÇÃO: CUIDADO SPOILERS! Caso não queria saber o que acontece ou não queira ler as cenas da apresentação descritas em detalhes, NÃO leia os textos abaixo.
The Telegraph – 3/5 Estrelas
Por: Domic Cavendish
Tradução: Bru
(…) Neste julgamento da força de sua atuação, ele emerge, sem dúvida, vitorioso. Ele pode não ter a mau humor de Daniel Day-Lewis, a estranheza de David Tennant ou a inexperiência de Jude Law, mas à sua maneira ele se equala aos melhores Hamlets modernos, faz a sua parte – e sim, justifica a histeria.
Seu Sherlock de classe mundial nos levou a esperar uma inteligência manifestada, e nós a conseguimos aqui – não com ares acadêmicos como Simon Russell Beale deu ao personagem, mas uma agilidade mental palpável. Aquela aparência jovial impetuosamente remarcável (para um homem de 39 anos) é continuamente vigilante; suas palavras são carimbadas com força expressiva, com sua confidência física não muito aparente.
Eu receava que ele fosse ser muito frio, muito remoto, mas ele mostra um sentimento de simpatia que coloca você ao seu lado, em seu mundo, sofrendo com ele os dardos e arremessos de fado sempre adversos – um pai assassinado, sua mãe levada pelo assassino. Você é persuadido na agonia de seu luto, e na fúria auto-dilacerante de sua indecisão, ele se destaca no limite de sua inteligência e no contemplamento de seu suicídio.
Mas – e ai, aqui está o atrito – ele é, na verdade, um resplandecente Hamlet de cinco estrelas preso em uma peça mediana de três estrelas. As energias da noite são dissipadas, ao invés de intensificadas, pelo confinado Elsinor sonhado pela designer Es Devlin e pela tendência da diretora Lyndsey Turner de cortar o texto.
The Guardian – 2/5 Estrelas.
Por: Michael Billington
Tradução: Bru
(…) Minha impressão inicial é que Benedict Cumberbatch é um bom, apresentável Hamlet com uma forte inclinação à ironia da auto-depreciação, mas ele está preso dentro daquele saco de trapos intelectual em forma de produção feito por Lyndsey Turner que é cheio de ideias mal feitas. Dinamarca, Hamlet nos conta, é uma prisão. Aquela produção também é.
O que faz a noite tão frustrante é que Cumberbatch tem muitas das qualidades que alguém procura em um Hamlet. Ele tem um semblante pensativo esguio, uma voz ressonante, uma dádiva para a introspecção. Ele é especialmente bom com solilóquios. “Ser ou não ser”, o qual que recebeu muito conflito, misericordiosamente não abre mais a peça: eu ainda acho que fica melhor se colocado depois, ao invés de antes da chegada dos atores, mas Cumberbatch fala isso com uma intensidade extasiante. Ele também é excelente em “Que obra-prima, o homem” e tem o o semblante certo de auto-dúvida: no meio de seu conselho ao Primeiro Ator em como atuar, ele do nada diz: “que a discrição te sirva de guia”, como se consciente de sua presunção em dar aulas a um velho profissional.
É uma performance cheia de bons toques e calmamente comovente na estoica aceitação final da morte de Hamlet. O problema é que deram ao Cumberbatch, um pouco como aos membros de I’m Sorry, I haven’t a Clue (N/T: programa britânico de rádio), um monte de coisas idiotas para fazer. Ele realmente abre a peça, em seu quarto, debruçado sobre um álbum de família e ouvindo algo no seu gramofone, o que nos nega a primeira aparição do Fantasma nas ameias. Depois, ao assumir uma “caráter bizarro”, Cumberbatch tenta um cocar Nativo Americano e depois se estabelece em ficar perambulando com uma túnica escarlate e um capacete pontiagudo de um soldado de infantaria do século 19. Em algum ponto ele até arrasta uma fortaleza em miniatura – onde foi que ele achou aquilo? – de onde ele passa a tomar potshots imaginários na corte.
(…) O triste é que Cumberbatch poderia ser um Hamlet de primeira categoria. Ele não é apenas um ícone da televisão, mas um ator de verdade com a dádiva de envolver a nossa simpatia e mostrar uma mente naturalmente racional desordenada pela dor, o assassinato e a insuficiência vazia de vingança. Ele me lembra, na verdade, de um ponto feito espirituosamente por George Elliot em The Mill on the Floss de que, caso seu pai tivesse vivido até envelhecer, Hamlet poderia ter seguido a vida com “uma reputação de sanidade, apesar de muitos solilóquios, e muito sarcasmo temperamental direcionado à filha de Polônio”.
Resumindo, Cumberbatch insinua a compostura essencial de Hamlet. Mas ele poderia ter nos dado muito mais, se ele não estivesse preso em uma produção triste que eleva os efeitos visuais acima da coerência narrativa e da exploração de caráter.
Variety – Não classificou com estrelas.
Por: Matt Trueman.
Tradução: Aline.
Cumberbatch começa como o Hamlet que conhecemos e esperamos: Hamlet, o ícone, escondido em seu quarto, vestido de preto e remoendo a morte de seu pai. (Nas primeiras prévias, ele abriu com “Ser ou não ser…”) Ele se senta no chão, olhando para a distância, enquanto Nat King Cole cantarola “Nature Boy” no vinil, quase nos atrevendo a impor sua moral pronta – just to love [só amar] e blá blá blá – na peça de Shakespeare.
(…) O Hamlet dele substitui uma geração, um que está preso na adolescência e esquivando toda a responsabilidade. Ele passa a primeira metade fragmen e, no intervalo, está vestido em várias fantasias de uma vez: tênis de um estudante, calças de um soldado, uma camiseta do David Bowie e um fraque pintado com a palavra “KING” [rei]. Ele é uma crise de identidade ambulante viva e respirando, erudito em um momento, idiota no seguinte e sempre, sempre egoísta. Muitas vezes é dito que nenhum ator pode acertar todas as contradições de Hamlet. Para Cumberbatch é um ato de malabarismo, um traço de cada vez, não Hamlet como um todo. Cumberbatch é múltiplo.
(…) A epifania essencial de Cumberbatch vem no campo de batalha, cercado pelos soldados de Fortimbras em seus sobretudos cinzas: “Eu vejo as mortes iminentes de 20.000 homens”, Hamlet lamenta. Instantaneamente, este príncipe petulante cresce e fica sério.
Tudo isso muda o retorno de Hamlet a Elsonor inteiramente: a ameaça das forças de Fortimbras é tanta que a política da peça diminui qualquer drama doméstico. Hamlet chega com propósito novo, com um peixe maior para fritar do que Cláudio, só para ser cortado cedo demais. Cumberbatch consegue deixar Hamlet messiânico, um salvador para uma geração perdida, antes de Laertre fazê-lo entrar, quase inesperadamente. É o duelo mais lindamente anticlimático, um momento de mutilação que termina com quatro corpos espalhados no chão. Isso deixa um vácuo para Fortimbras e o resto definitivamente não é silêncio. “Uma salva geral.”
The New York Times – Não classificou com estrelas.
Por: Ben Brantley
Tradução: Aline.
(…) Que melhor maneira de moldar um ator cuja aparição na tragédia mais conhecida de Shakespeare transformou o Barbican em um santuário internacional? Esse ator, é claro, é Benedict Cumberbatch, estrela do palco, tela e “Sherlock”, e o objeto de um culto vasto e venerável cuja razão de ser nunca nunca entendi. (Acho que você pode ter que ser mulher para entender completamente.)
Antes de eu ir mais longe, deixe-me dizer que o Sr. Cumberbatch é um Hamlet bom o bastante para me fazer querer que ele fosse ainda melhor. Mas sobre aquele olhar intenso ofuscante que caiu sobre ele e esta produção, que foi encenada com pompa imponente e floreio doido pela diretora Lyndsey Turner (“Machinal” na Broadway) e a cenógrafa Es Devlin.
Quando foi anunciado há mais de um ano que o sr. Cumberbatch assumiria o papel mais cobiçado do catálogo, os ingressos se esgotaram quase imediatamente. Desde então, o Hamlet Cumberbatch (essas palavras não saem da língua facilmente) tem sido a maravilha do mundo que fala em inglês. Mesmo antes do show começar as prévias, houve dissertações na web e em jornais em grande quantidade sobre como o sr. Cumberbatch poderia interpretar Hamlet, se ele tinha ganho o direito de fazê-lo e como todos nós éramos bobos por nos importarmos tanto.
(…) Cheio de espetáculo cênico e viradas e peculiaridades conceituais, este “Hamlet” nunca é chato. Também nunca é emocionalmente comovente – exceto naquelas ocasiões em que o Hamlet do sr. Cumberbatch está sozinho com seus pensamentos, tentando entender de um mundo barulhento e importuno que exige tanto dele.
(…) O sr. Cumberbatch não é estranho ao levantamento pesado no palco. (Ele interpretou memoravelmente os dois papéis principais, alternando com Jonny Lee Miller, na produção de Danny Boyle de Frankenstein de 2011 no National Theatre.) Ele está em estado de luta aqui, e traz energia e precisão a cada palavra e movimento, incluindo o esgrima climático.
Ainda assim este Hamlet raramente parece se relacionar com qualquer outra pessoa no palco. Nas grandes cenas de diálogo, você fica consciente do sr. Cumberbatch percorrendo as palavras apressadas de Shakespeare como uma prancha de surf, como se salvando seu energia interior para os monólogos.
Neles, ele é soberbo, traçando linhas de pensamento meticulosamente em revelações que o atordoam, elevam, exasperam e entristecem. Não há um único solilóquio que não verte insight fresco em como Hamlet pensa. E a sra. Turner os organiza lindamente, apresentando muitos no meio da ação, como o sr. Cumberbatch se afastando enquanto o resto do elenco congela no quadro.
O efeito é de um homem separado da realidade por sua própria mente auto-fascinada. Hamlet nunca pareceu tão sozinho, o que o dá uma pungência adicionada. Esta produção se beneficiaria enormemente, porém, se permitisse que ele brincasse com os outros, também.
Metro – 5/5 Estrelas
Por: Sam Marlowe.
Tradução: Bru
(…) Mas a excelente notícia é que ninguém mais poderia ser [Hamlet]. Essa é uma estridentemente inteligente, visualmente arrebatadora, intensa e fascinante encenação, onde o Príncipe Dinamarquês de Cumberbatch é inquieto, um homem-menino atormentado pela raiva corrosiva, pelo humor negro e feroz, e angustiante tristeza.
Quando ele grita ‘Quem está aí?’ – uma fala usualmente dita por um sentinela, aterrorizado por ver o espírito inquieto do rei morto andando pelas ameias do castelo – você sente o quão perto seus nervos já estão de se romper.
A distorção grotesca de vida familiar, amor e lealdade pela ambição, políticas e guerra é enfatizado repetidamente. Cumberbatch finge loucura ao se vestir – para um efeito de comédia melancólico – como um soldado mecânico de brinquedo.Ocasionalmente, a épica e eletrizante produção de Turner é um toque frenético onde o foco pode se provar mais potente.
Mas esse é um bom Hamlet de uma visão criativa questionadora, onde Cumberbatch se prova mais do que semelhante ao monumental personagem título.