A edição de 31 de dezembro-6 de janeiro da revista Radio Times traz uma matéria sobre a quarta temporada de Sherlock. Confira abaixo a tradução completa:
Lar, doce Holmes*
Sherlock lançou Benedict Cumberbatch para o estrelato – então o que o faz voltar para Baket Street?
Fãs estão passando o tempo nas janelas dos prédios entorno do 221B Baker Street. Do outro lado da rua, perto da Euston Station em Londres, mais milhares de apaixonados estão confinados atrás de cercas de metal temporárias.
Quando seu herói aparece, usando seu característico sobretudo ”Milford” da Belstaff, a multidão – da qual grande parte veio da China e do Japão e passou a noite aqui especificamente para este momento – começa a gritar. Logo eles estão uma imitação bem convincente dos seguidores de Justin Bieber, ou ”Beliebers”, como são conhecidos por aí. Nessa hora, as pessoas dos condados vizinhos com certeza já ficaram sabendo da notícia: Sherlock está na cidade.
Benedict Cumberbatch, que interpreta Sherlock Holmes no drama de sucesso global da BBC1, chegou para filmar uma curta cena exterior do lado de fora do apartamento do detetive consultor. O investigador deve caminhar até sua porta da frente passando por uma monção, cuja ferocidade provavelmente não foi vista deste lado de A Tempestade.
O aguaceiro está sendo criado por três máquinas de chuva gigantes. O pobre membro da equipe segurando esses aparelhos enormes no lugar deve ter o pior trabalho na indústria do entretenimento.
Você poderia pensar que essas condições decididamente inclementes jogaria água fria no entusiasmo dos fãs. Mas, na verdade, a multidão parece se divertir com o espírito da adversidade. Sherlockians são determinados. Quanto mais molhados eles ficam, mais eles comemoram. Absolutamente nada vai estragar seu momento.
Antes da cena da tempestade, Cumberbatch se senta ao calor e conforto de um hotel próximo. Ele está tirando um tempo para discutir a nova temporada de Sherlock, talvez o evento mais ansiosamente esperado desde o nascimento do último bebê real.
Para reforçar a popularidade global da série, que começa sua quarta temporada no dia de ano novo, nossa conversa é interrompida por um fã japonês ávido para dar um presente ao ator: uma graphic novel lindamente produzida baseada num episódio anterior de Sherlock. Cumberbatch fica impressionado com a natureza primorosa do presente, que claramente demandou muitos meses de trabalho. ”Muito obrigado, Japão!”, o ator fala, com um sorrido radiante. ”Eu preciso ler isso de trás pra frente. Maravilhoso. Maravilhoso. Obrigado”.
Em pessoa, Cumberbatch não tem nada da qualidade de socialmente recluso que Sherlock tem. O ator é afetuoso, sagaz e acessível, enquanto seu alter-ego é desprendido, difícil e seco como poeira.
Sherlock é o personagem literário adaptado com maior frequência para as telas. Desde que apareceu pela primeira vez em Um Estudo em Vermelho, em 1887, estima-se que tenha havido mais de 25.000 produções e produtos baseados no eterno detetive de Sir Arthur Conan Doyle pelo mundo.
Mas a performance de Cumberbatch como o investigador agora pode ser comparada com as de Jeremy Brett, Basil Rathbone e Peter Cushing. Quando Seu Último Voto, o último episódio da terceira temporada, foi exibido em janeiro de 2014, quebrou o recorde mundial por gerar 10.000 tweets por minuto.
Com suas feições angulares, inteligência penetrante e rara intensidade, Cumberbatch, de 40 anos de idade, pode ter nascido para o papel de Sherlock. Mas sua performance é enriquecida pela química magnética que ele gera na tela com Martin Freeman, que interpreta o sofrido amigo e colega de trabalho de Sherlock, Dr John Watson.
Mark Gatiss, que co-criou a série com Steven Moffat, diz que o drama ”funciona tão bem na nossa versão por causa do elenco. Quando Benedict e Martin fizeram testes pela primeira vez para os papéis de Sherlock e John, Steven e eu viramos um para o outro e dissemos, ‘Aí está a série’. Nós acidentalmente escolhemos os dois atores mais quentes do mundo”.
Amanda Abbington, que interpreta Mary Watson e é a parceira de Freeman dentro e fora da tela, concorda.”Eu amo uma grande cena de diálogo onde os personagens estão compreendendo as pessoas, e eu acho que Ben e Martin fazem isso um com o outro. Eles têm isso naturalmente no set e na tela – eles simplesmente combinam. É lindo de assistir. É ótimo estar num lugar onde você os vê com aquelas cenas com deduções longas e eles estão complementando um ao outro. É lindo”.
Essa química está de novo em evidência no episódio que abre a nova temporada, As Seis Thatchers. Escrito por Mark Gatiss, o drama continua a partir do final da última temporada, quando Sherlock declarou que ”Moriarty está morto. Mais importante, eu sei exatamente o que ele fará em seguida…”.
Enquanto o detetive espera descobrir qual pode ser o passo póstumo de Moriarty (Andrew Scott), a Scotland Yard enfrenta um caso particularmente desconcertante. Mas Sherlock mira em um detalhe aparentemente trivial. Por que alguém está profanando imagens da ex-primeira ministra Margareth Thatcher? Forças sombrias estão operando? E isso está conectado ao passado misterioso de Mary?
Durante a temporada, a dupla de detetives tem que considerar um novo elemento no relacionamento deles: a filha bebê de John e Mary, que deixa Sherlock bastante confuso. O par também será confrontado por Culverton Smith (Toby Jones), que é o envenenador infame no conto de Doyle A Aventura do Detetive Morimbundo. Moffat o descreve como “o vilão mais malvado que já tivemos”. Então podemos assumir com segurança que algo perverso vem nesta direção.
Sherlock, que ganhou 76 prêmios desde que foi transmitido pela primeira vez em 2010, agora vai ao ar em 240 territórios pelo mundo. Cumberbatch, que é casado com a diretora de teatro Sophie Hunter e tem um filho pequeno e outro bebê para nascer no ano que vem, avalia por que o show tocou uma corda assim internacionalmente.
“Eu acho que muito disso tem a ver com o fato de que Sherlock é um intruso, e isso fala com uma enorme audiência adolescente. Isso é muito importante para mim. Eu quero que minha mãe, meu pai, meus amigos e meu filho se sentem e assistam. É isso que me dá emoção, esse momento do evento.
“Acho que isso acontece toda vez que é transmitido. Ele criou grandes fóruns, debates e amigos pelo mundo, e isso é uma coisa adorável. O boca a boca se espalha muito rápido com blogs, Twitter, Tumblr e todas as outras plataformas de mídia social onde as plateias compartilham suas opiniões.”
Contudo, a pura escala da popularidade global de Sherlock surpreendeu Cumberbatch. “Nós ficamos chocados com isso, para ser sincero. É algo que nós não previmos. Mas no fim das contas, mostra que grandes histórias atravessam culturas, etnias e nações. Grandes histórias abrem caminhos em qualquer diferença cultural.”
Cumberbatch tem bastante de outros peixes cinematográficos para fritar. No começo deste ano, ele foi Ricardo III na adaptação aclamada de Shakespeare da BBC2 The Hollow Crown. Ele também interpretou o personagem título na nova franquia de filmes da Marvel, Doutor Esranho.
E ainda assim ele continua sendo atraído de volta para Sherlock. Parte da atração, Cumberbatch explica, é que o personagem está sempre mudando: “Todos nós evoluímos com esta história. Não seria tão satisfatório se estivéssemos apenas despejando a mesma coisa com o que começamos. Nós miramos alto para começar, e continuamos tentando nos surpreender e tomara que nosso público.
“Existem desfechos nesta temporada que eu sei que em algumas instâncias nem os autores perceberam que estavam acontecendo até que eles estavam começando a escrever, o que é notável. O nível de diversão, imaginação, escuridão e alegria fica melhor e melhor.
“Tem muita coisa séria, e é muito sombrio por vezes. Mas os autores conseguem fazer algo muito engraçado também. Como eu me sinto pessoalmente quanto a isso? Ótimo. E sabe, eu não estaria voltando para fazer mais se não houvesse uma diferença entre esta temporada e a primeira temporada. Eu tenho muita sorte em interpretar um personagem como este, quem eu ainda quero muito interpretar.”
Isto não é pra dizer que ele não está afetado pelo papel. Ele admite, “Existe um contragolpe. Eu sou afetado por ele. Há um senso de estar impaciente. Minha mãe diz que sou muito mais seco com ela quando estou filmando Sherlock“.
Porém, em geral, Cumberbatch não leva Sherlock com ele para casa em um cabriolé. Como ele faz isso? “Obviamente exercício é uma coisa muito importante, apenas para sacudir qualquer coisa. Se você corre ou faz alguma coisa para suar ou queimar as calorias, então sim, isso ajuda grandemente.”
Mas existe outro aspecto da vida dele acima de todos os outros que ajuda Cumberbatch a esquecer os estresses e tensões de interpretar o detetive mais famoso do mundo. “Ter um bebê de um ano é o melhor tônico possível para fazer, ‘Boop!’ Sabe, com um bebê você está imediatamente olhando para fora de si mesmo.”
Mostrando um amor distintamente não-sherlockiano por bebês, Cumberbatch diz, “Imediatamente existe algo mais importante do que você jamais será em sua vida pelo qual é responsável. O lar é um lugar muito maravilhoso!”
TRABALHO DETETIVESCO
Há mensagens secretas escondidas nesta foto do 221B Baker Street?
Um aceno a Doctor Who
Olhe bem de perto e verá que o autor deste livros é Lavinia Smith. Fãs de Doctor Who a conhecerão como a tia de Sarah Jane Smith, uma antiga companheira.
Hiddleston Holmes?
Fãs tem clamado para que Tom Hiddleston seja escalado como o irmão de Holmes. Este exemplar de Henrique V pode ser um sinal – Hiddleston interpretou o monarca em The Hollow Crown.
Uma canção para Moriarty
Vire essa partitura e você verá que ela se chama ”Sente Minha Falta?”. Essa frase é a última coisa que ouvimos do arqui-inimigo de Sherlock, Moriarty.
Escolha do dia: Sherlock
Drama da semana: A parceria de Sherlock Holmes e John Watson encara seu maior teste enquanto o elo de ferro deles parece que pode ser quebrado para sempre. Ainda assim As Seis Thatchers começa da maneira mais divertida, até despreocupada. Sherlock está chapado depois de sua farra no avião no final da última temporada. Ele até se dedicou a tuitar e está tão intelectualmente agitado quanto nós o conhecemos. Enquanto isso, seu cronista afável John Watson e sua esposa Mary (Martin Freeeman e Amanda Abbington) estão enraizados na domesticidade feliz como novos pais.
Mas as nuvens estão chegando enuquanto o pequeno grupo é atraído ao mistério de por que alguém está quebrando bustos de Margareth Thatcher. Todos se levantam para as exigências de uma história brutal que deixa Sherlock (e Benedict Cumberbatch está em seu melhor e mais maduro) perdido no abismo. Emocionante.
*O título da matéria em inglês, ”Home, sweet Holmes”, faz um trocadilho com o ditado ”Lar, doce lar”.
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Tradução: Gi e Aline