Leia o artigo do Telegraph sobre os bastidores do especial de Ano Novo “The Abominable Bride”, em que os atores e os criadores de Sherlock falaram sobre a volta ao tempo da série.
Benedict Cumberbatch e Martin Freeman estão voltando o relógio para as origens de Sherlock, Tim Martin descobre
Por Tim Martin
Na sala de estar da Baker Street 221B, onde Benedict Cumberbatch e Martin Freeman se empurraram e discutiram como Holmes e Watson desde que suas aventuras na idade moderna começaram em 2010, algo está diferente. O MacBook cromado de Watson foi substituído por uma máquina de escrever manual barulhenta. O crânio de bisão na parede não usa mais seus fones de ouvido icônicos e a visão da janela mostra um cenário severo dos apartamentos do século XIX ao invés do movimentado norte de Londres de hoje.
Para o episódio único de Sherlock, os criadores da série, Steven Moffat e Mark Gatiss, colocaram sua brilhante adaptação contemporânea girando de volta no tempo à era de Sir Arthur Conan Doyle, em um capítulo especial cheio de estilos góticos, intriga iluminada a gás, bigodes luxuriantes e um chapéu de feltro muito famoso.
“Eu pensei, pelo menos posso ter a p—- de um corte de cabelo. Poderíamos nos livrar daquele monte de cachos saltitantes ridículo na minha cabeça”, diz Benedict Cumberbatch, sorrindo com diversão em um camarim debaixo do Bottle Yard Studios em Bristol. Esse desejo, pelo menos, se tornou realidade: hoje o cabelo de Cumberbatch está penteado para trás, estilo cavalheiro vitoriano, e ele usa colarinho duro e tweed elegante. “Então eu disse — vocês estão loucos”, ele continua. “Eu genuinamente não entendi como eles iriam se sair com isso.”
Assim como seus colegas, ele pode apenas expandir nos tópicos sherlockianos mais incontroversos. Uma quarta temporada está chegando (“Eu disse que iríamos para a produção em um ano, não qualquer ano especifico”, Gatiss disse) e Cumberbatch abre seu sorriso mais diplomático quando perguntado como essa fatia de Vitoriana se amarra no cenário moderno da série — ou como ela resolve o suspense desesperado no fim da última temporada. “Boa tentativa, boa tentativa”, ele murmura ironicamente, admitindo apenas que enquanto a viagem ao século XIX “é uma grande dose de divertimento, adianta coisas. Não está apenas por si só.”
Ele fica muito mais confortável quando descreve como é explorar o personagem como Conan Doyle o escreveu originalmente. “No senso de que ele é um homem ligeiramente fora de seu tempo”, ele diz, “colocá-lo de volta na era em que ele é escrito é uma alegria. As coisas que tentei impor um pouco na versão moderna — sua fisicalidade, sua estatura — são feitas pelas roupas: os colarinhos, os chapéus de feltro e a capa. É uma delícia.”
A transição para uma era mais educada, no entanto, não afetou a franqueza implacável de Sherlock. “Ele é um meritocrata”, Cumberbatch diz. “Ele corta pela meritocracia. Não importa se você é um lorde ou uma dama, se você está dirigindo um cabriolé ou se você é um dos garotos de Baker Street: trata-se puramente do seu valor e de sua qualidade, não sua posição social. Então, sim, ele ainda é grosseiro. É grosseiro com idiotas e pessoas que são pomposas ou sexistas. Ele é um cruzado quanto a isso.”
Freeman, que, como Watson, carrega um ótimo bigode falso parecido com uma lagarta para este episódio, diz, “Estamos tentando não ser muito arrogantes quanto a isso, e muito autoconhecedores. Às vezes quando as coisas são colocadas, digamos, nos anos 1970, é nossa maneira de rir das pessoas dos dias antigos. Não acho isso muito interessante.”
Ao invés disso, ele diz, a definição do período “faz você melhorar o que está fazendo muito ligeiramente. O plano não era apresentar de repente um personagem totalmente diferente, ou mm pastiche, mas te reforça física e vocalmente.”
A ternura surpreendente do relacionamento Holmes-Watson — o bromance que lançou mil fan fictions superaquecidas — sobrevive à transição a uma era mais engomada. “Acho que a diferença é que aquele Watson vitoriano tem mais paciência”, Freeman diz. “Ele é muito mais generoso com sua pensamento externo de que seu amigo é um gênio do que o Watson moderno. O Watson moderno definitivamente acha que seu amigo é um gênio, mas que ele também é um enorme pé no saco.”
Escada acima, e de volta ao set, Moffat e Gatiss estão andando ao redor se preparando para a próxima cena. A dupla de sucesso deles dificilmente é menos fascinante do que a de Holmes e Watson: Gatiss é esbelto, loiro e animado, Moffat baixo, sombrio e pensativo, mas eles terminam as frases um do outro com a facilidade da amizade e colaboração de longa data.
Um episódio vitoriano, Gatiss explica cuidadosamente, não representa um sonho de longa data, porque “isso implicaria que estivemos modernizando de má vontade para chegar a isso. Brincamos com a ideia por muito tempo, mas é tão grandemente atraente fazer os dois. As únicas outras pessoas que fizeram isso” — interpretar Sherlock, ele quer dizer, em um cenário de época e um moderno — “são Basil Rathbone e Nigel Bruce.” Moffat afirma com a cabeça. “Essa série tinha que ser tão grande quanto é agora”, ele exclama, “para fazermos algo maluco assim.”
Aliás, Moffat diz, os ornamentos vitorianos elaborados do cenário representam a “versão preguiçosa” da tarefa do roteirista. “A única na qual colocamos todo o pensamento”, ele diz, “foi encontrar os equivalentes para a era moderna.” Transportar o relacionamento de Cumberbatch e Freeman para o passado foi na verdade “exatamente o mesmo truque que fizemos alguns anos atrás com [o primeiro episódio de Sherlock] A Study in Pink. Nós dissemos, olha, ainda é Sherlock Holmes, não é? Embora tivéssemos mudado tudo.”
Do outro lado da esquina na suíte de edição, um vislumbre rápido de um corte grosseiro prova que por baixo de seus ornamentos de época este é, reconhecidamente, o mesmo Sherlock. Com a revista Strand na mão, um Watson aparentemente atormentado está tentando se defender de desfeitas sobre a veracidade de seu livro de registros de sua senhoria Sra. Hudson, interpretada por Una Stubbs. “De acordo com você eu só mostro a escada para as pessoas e te sirvo café da manhã”, ela reclama. “Eu sou sua senhoria, não um elemento do enredo!”
“Você não é a única, sra. Hudson”, o Sherlock de Cumberbatch comenta. “Eu dificilmente apareci naquele sobre o cachorro.”
Perto está Amanda Abbington, a esposa de Freeman na tela e fora dela que, no fim da última temporada, foi demonstrada ser uma assassina com um passado mortal. “Nós mantivemos a vivacidade de Mary e o resplendor dela”, ela diz firmemente. “Ela tem um pouco de agressividade nela e não queremos perder isso.”
Ela ri quando perguntada se ela e Freeman aplicam uma regra sem-Sherlock na casa deles. “Definitivamente não!” ela diz. “Nos sentamos juntos como uma família e assistimos. Meu filho conhece algumas das cenas e as faz com minha filha. Grace normalmente é a assassina atirando em Joe. Mas, não, não há embargo em Sherlock. Nós adoramos!”
Enquanto Cumberbatch e Freeman se preparam para voltar ao set, eles murmuram sobre as excursão da série ao drama de época. Freeman lamenta o fato de não poder se vestir sozinho, enquanto Cumberbatch tem um mistério de período com que lidar, incluindo uma sepiolita chique que é, ele nota sombriamente, “um cachimbo pirotécnico. Isso não significa que ele explode na minha cara. Só não estou fumando.”
Acredita-se grandemente que a quarta temporada de Sherlock pode ser a última, e embora Gatiss reconhece alegremente que “fazer as pessoas esperar é tudo que fazemos: civilizações inteiras ascenderam e caíram entre as temporadas de Sherlock”, a fama bola de neve dos seus atores dificultou o sincronizar de agendas mais e mais. Nenhum dos dois atores principais parecem preocupados, porém. “Eu sempre acreditei em fazer as coisas enquanto alguém queira fazê-las”, Freeman diz.
E se isso soa ainda que levemente enigmático, Cumberbatch é mais definitivo: “Não conheço nenhum outro ator que tenha sido tão deteriorado com esse papel”, ele diz. “Eu disse muitas vezes que adoraria continuar envelhecendo com ele. E Martin e eu começamos isso relativamente jovens comparado a muitos pares Holmes e Watson. Então por que não?”
Sherlock vai ao ar no da de Ano Novo às 21h (19h horário de Brasília) no BBC One
Tradução: Aline | Fonte