Leia o artigo do RadioTimes falando porque os fãs do Benedict devem ser respeitados e não estereotipados como a mídia adora fazer, e porque eles serão um ótimo público para assistir Hamlet.
Por que os fãs de Benedict Cumberbatch são a plateia perfeita para Hamlet
Por Jonathan Holmes
05/08/2015A mídia gosta de estereotipá-los como imbecis gritantes, mas os fãs reais de Cumberbatch serão mais comportados, mais respeitosos e apreciativos do que a maioria dos frequentadores de teatro quando a muita aguardada produção estrear, diz Jonathan Holmes.
Imagine a cena: a cortina se abre, as luzes do Barbican se apagam. Benedict Cumberbatch desliza para o palco, a franja balançando.
Silêncio.
Claudius: …mas agora meu primo Hamlet, e meu filho…
Hamlet: [Para a platéia, sarcástico] Um pouco mais que parente, mas menos que um fi…
[Um rugido ensurdecedor, como um avião Zero colidindo com um show dos Beatles. Ele continua por um minuto, três minutos, sete. Não mostra sinais de parar. Está ficando mais alto.
Cumberbatch se esforça para ser ouvido sobre o zurrar, mas é inútil. Dez minutos. Polonius dá de ombros e acende um cigarro. Qual é a finalidade?
O tom sobe, em seguida quebra. Os Cumberfãs avançam para o palco, muitos em deerstalkers. Um substituto do ator é pisoteado. Laertes golpeia um sherlockiano de 15 anos com sua espada de plástico, mas é inútil, eles o tem.
Hamlet desaparece em um oceano de cosplay e selfies. Eles o agarram, grunhindo como num matadouro, arrancando mechas de cabelo do couro cabeludo real. Ao fundo, o Reino da Dinamarca cai para trás, revelando ainda mais fãs subindo através dos bastidores. Eles estão todos gritando. Todo mundo está gritando.
Enquanto o sangue coze na ribalta, um crítico do Evening Standard sublinha a palavra ‘arch’ (malicioso) no seu bloco de notas. Manchete: “Ser ou não ser? Elementar, meu caro Watson.” Três estrelas.]
As chances são que você já leu muito sobre a vez de Benedict Cumberbatch em Hamlet, que estreia hoje à noite (05/08) no Barbican em Londres. Quão rápido os ingressos se esgotaram, quantas milhas os fãs viajaram, a decisão de não autografar na porta do palco.
Em meio a tudo isso há uma falsa suposição sobre o tipo de pessoa que gastaria esse tanto de dinheiro e tempo para ver seu ídolo na noite de abertura: de que eles são infantis, hormonais, stalkers obsessivos. Eles não pertencem a um teatro, eles pertencem à uma solitária.
As ‘Cumberbitches’ – como a mídia insiste em chamá-las – são um fenômeno lendário, e como alguém que escreve sobre Sherlock para ganhar a vida, eu sei que elas são uma potente força. Mas a ideia que elas irão agir como imbecis gritantes é um estereótipo preguiçoso, incrivelmente insultante e ignorante à natureza do fandom.
Você não irá encontrar uma plateia mais receptiva para Hamlet do que os Cumberfãs. Por um lado, o seu herói é conhecido por interpretar gênios, e Hamlet é o posterboy do intelectual sensível – Morrissey em um ‘codpiece’ (artigo de vestuário para a genitália masculina, no século 15-16). Essa é uma plateia esperta que valoriza a inteligência. Eles não são uns idiotas babões que não conseguem ficar durante um monólogo sem twitar. Na verdade, os fãs estão prontos para policiar uns aos outros, enviando orientações de como agir em um teatro incluindo (docemente), avisos de spoilers sobre aspectos particulares da produção.
Shakespeare não está ‘acima’ dos sherlockianos. Os Cumberfãs são um grupo diverso, e muitos já serão tão obcecados com o Bardo como são com Baker Street. E mesmo que eles não sejam familiarizados com a peça, a Cumberhorda não é nada menos que observadora. Esse é um grupo que contempla nove episódios sem parar, recitando e citando, analisando e improvisando. Eles estão acostumados com uma leitura atenta.
É claro que os aplausos no final serão arrebatadores, mas os Cumberfãs esperaram muito tempo por isso, então porque eles vão arruiná-lo para si mesmos? É mais provável ter um silêncio respeitoso e reverente durante os diálogos do que gritos. David Tennant, Patrick Stewart e Ian McKellen são todos estrelas tanto do palco como das convenções sci-fi. Suas bases de fãs são um benefício, não um aborrecimento. Sim, no intervalo você ocasionalmente verá alguém na fila por sorvete usando roupas com emblemas da Frota Estrelar, mas ninguém está jogando destornilladores sônicos no palco.
Eu vi Tennant interpretando Hamlet em 2008 e sempre vou lembrar de um grupo de jovens fãs amontoados no saguão, removendo as baterias de seus telefones celulares. Eles cuidadosamente colocaram as baterias em um saco de sanduíche, os telefones em outro, fecharam tudo em uma mochila e entraram no teatro.
Depois, enquanto Tennant monologava, avistei um homem de meia-idade em um blazer enviando uma mensagem de texto.
Talvez isso esteja no coração do Cumberesnobismo da mídia: nós não estamos zombando deles por serem obcecados, mas por se importarem. Para a elite exausta, visitar o teatro é uma distração, uma data na agenda, uma crítica a ser escrita. Mas os Cumberfãs são sinceramente apaixonados pelo Benedict Cumberbatch. Vê-lo na noite de estreia é um grande evento, algo para antecipar, saborear e lembrar.
Seu entusiasmo deve ser invejado, não ridicularizado, e espero que muitos deles consigam apreciar seu herói o quanto possível.
O restante de nós merece nossos ingressos? Essa é a questão.
Fonte | Tradução: Juliana.