Em entrevista ao site The Age, Benedict falou sobre o que o deixou assustado quando a Marvel o abordou para interpretar o Doutor Estranho no cinema, além da MCU, super heróis e de sua experiência no budismo. Confira!
Por Garry Maddox
Como sua indicação ao Oscar ano passado sugere, Benedict Cumberbatch é um personagem articulado e cheio de ideias em seu melhor nível aos 40 anos.
Os papéis recentes do ator muito inglês variaram do decifrador de códigos da guerra Alan Turing em O Jogo da Imitação ao dragão Smaug em dos filmes O Hobbit e Julian Assange em O Quinto Poder. Ele faz Shakespeare também, com vezes como Ricardo III na série de TV The Hollow Crown e Hamlet no palco na parte oeste de Londres.
Mas uma coisa o assustou quando o presidente da Marvel Studios Kevin Feige o ofereceu o papel do Doutor Estranho, o cirurgião-que-se-tornou-super-herói-com-poderes-mágicos no último espetáculo de quadrinhos da companhia.
“Ele estava convencido de que eu era certo para isso então adiaram as gravações e o lançamento deste filme, o que é a primeira vez que eles fizeram isso na história da Marvel, porque eu estava comprometido a interpretar Hamlet no Barbican”, Cumberbatch disse no telefone de um hotel muito por cima de Hong Kong.
“Eles reorganizaram a agenda deles em torno da minha, o que mostra uma quantidade enorme de fé. Esse foi o aspecto mais assustador. Eu pensei, uau, esses caras realmente investiram muito da crença deles que de eu sou a pessoa certa para o trabalho então é melhor entregar alguma coisa para eles. Foi uma boa motivação para o meu papel tentar e acertar isso.”
Em um filme que ainda teve que ser exibido uma semana antes de seu lançamento mundial, Cumberbatch interpreta um neurocirurgião mundialmente famoso ferido em um terrível acidente de carro. Ao procurar uma maneira de reparar suas mãos danificadas, ele encontra a mística Anciã (Tilda Swinton careca) em um enclave oriental e descobre poderes mágicos.
O mágico mestre que tem aventuras alucinantes foi evocado nos anos 1960 pelo artista Steve Ditko, que também criou o Homem-Aranha com Stan Lee. O personagem se tornou popular entre alunos de faculdade que estava descobrindo experiências psicodélicas e misticismo oriental.
Cumberbatch não sabia de nada disso até [o dia em] que estava promovendo Além da Escuridão: Star Trek três anos atrás.
“Começou com uma conversa em uma cobertura”, ele diz. “Um jornalista quando eu estava fazendo a promoção de Star Trek disse, ‘você faria um ótimo Doutor Estranho’. Eu disse, ‘Doctor Who [Doutor Quem]?’
“E ele disse, ‘bem, isso também’, Eu disse, ‘não, não, não, não vou interpretar Doctor Who. Como assim Doutor Estranho?’ E ele disse, ‘dê uma olhada nos quadrinhos’ então eu olhei.”
Para Cumberbatch não pareceu um papel óbvio para ele.
“Eu pensei ‘não sei… bem, eu posso… oh, eu vi'”, ele diz. “Ele é esperto e arrogante, e tem um pouco de charme e tem um tom Vincent Price a algumas das caracterizações dele nos desenhos.”
Mesmo assim, Cumberbatch não ficou inicialmente interessado quando ouviu que o Doutor Estranho estava seguindo nomes como Homem de Ferro, Thor, Homem-Aranha, Capitão América, Hulk e Os Vingadores para uma nova geração de filmes da Marvel.
“Eu consegui ver as semelhanças com outros personagens interpretei e pensei, não estou muito interessado nisso”, ele diz. “Então a Marvel me ligou e disse, ‘nós adoraríamos conhecer você; gostaríamos que você interpretasse do Doutor Estranho’ e eu disse, ‘Certo, agora estou escutando'”.
Cumberbatch se encontrou com o diretor Scott Derrickson, mais conhecido pela versão com Keanu Reeves de O Dia em que a Terra Parou e o filme de terror com Eric Bana Livrai-nos do Mal, para discutir o filme.
“E sei a ele minhas preocupações”, ele diz. “Eu queria que houvesse mais humor. Queria que fosse uma evolução de um momento de ocultismo do qual os quadrinhos saíram originalmente. Eu queria saber como isso seria recontextualizado agora. Achei que fosse importante acrescentar muito mais arrogância a esse personagem e levá-lo a uma viagem muito rica.
“Ele disse”, Cumberbatch cai em um sotaque americano, “‘Já estamos nisso’. Ele me mostrou o roteiro e era sensacional. Respondeu muitas das minhas preocupações. E todo dia em que fomos trabalhar, sempre se tratava de eu ter ar livre para acrescentar e melhorar ele.”
Como um budista, Cumberbatch foi atraído pela evolução do Doutor Estranho de um médico motorista de Lamborghini materialista e egocêntrico a descobrir um reino espiritual. Quando ele começa a falar sobre o assunto, ele avista alguma coisa do lado de fora da janela do hotel mais alto do mundo.
”Meu Deus’’, ele diz, sua voz subindo em animação. ”Uma borboleta passou voando pela gente. Isso que é espiritualidade. Isso foi extraordinário. Estou num prédio construído com aço e vidro, a 400 metros do nível do mar, e uma borboleta – parecia uma borboleta branca ou amarela, não consegui identificar direito – acabou de passar voando pela janela, na maior tranquilidade. Incrível. Foi bem no ponto’’.
Criado em Londres e educado num internato de classe alta para garotos, o Harrow, o interesse de Cumberbatch pela espiritualidade oriental vem de décadas atrás.
”Eu passei por uma experiência maravilhosa quando era adolescente’’, ele diz. ”Eu fui para Darjeeling lecionar inglês num monastério budista tibetano, uma casa nepalesa convertida cercada de indianos, chineses, tibetanos e nepaleses. Foi uma mistura de culturas como nenhuma outra.
E para uma criança branca que veio de um internato na Inglaterra, foi a troca entre culturas mais esclarecedora para mim. Eu aprendi muito mais do que ensinei. Foi fundamental para a minha compreensão do escopo mais amplo da vida e da morte, e compreensão da mortalidade e de alguma coisa mais profunda, que não é material, não é baseada na lógica’’.
Mais ou menos naquela época, o ator que ainda estava desabrochando também estava lendo livros de ciência popular, incluindo Uma Breve História do Tempo de Stephen Hawking, assim como favoritos dos mochileiros, como o O Tao da Física de Fritjof Capra, que lida com paralelos entre a ciência ocidental e o misticismo oriental.
”Há coisas que não podemos testemunhar, nas quais temos meio que acreditar ou ter algum tipo de fé nesse cruzamento entre certos campos da fé ou da compreensão ou do espiritualismo no oriente’’, ele diz. Foi uma coisa que me atraiu para este papel, de certa forma: este é um homem da ciência e da lógica, um homem muito materialista, que encontra tudo que é o oposto disso e descobre que existe um bem maior a se ter com a concentração de seus poderes, e os poderes de suas mãos, naquele reino’’.
É uma filosofia que parece oportuna para a estrela do filme.
A interconectividade que todos nós esperávamos que a tecnologia nos daria através dos canais das mídias sociais definitivamente existe até um certo ponto, mas eu acho que todos nos damos conta agora de que precisamos de alguma coisa diferente, seja desligar os aparelhos e conversar um com o outro ou simplesmente estar conectados com a natureza e com a percepção e
A interconectividade que todos nós esperávamos que a tecnologia fosse nos dar através dos canais das mídias sociais definitivamente existe até certo ponto, mas eu acho que todos percebemos agora que precisamos de alguma coisa diferente, seja desligar os aparelhos e conversar um com o outro, ou simplesmente estar conectado com a natureza e com a percepção e fazer um retiro em algum lugar onde você possa ouvir o tráfico e o barulho do seu cérebro e tentar acalmá-los.
”Eu acho que todos nós precisamos disso, seja num escritório com vários outros empregados do Google ou simplesmente num banco do parque durante sua pausa para o almoço, ou quando você está nadando, ou quando você está com sua família tomando conta de suas crianças’’.
Cumberbatch também gosta de fazer parte da marcha da Marvel em direção a uma nova era de filmes de quadrinhos.
”Isso está expandido o universo cinematográfico Marvel para um Multiverso, e para esses outros elementos de magia de outras dimensões que estão presentes nos quadrinhos. O maravilhoso, inovador esboço sequencia e a arte de Steve Ditko foram realmente revolucionários para sua época e ainda resiste o teste do tempo – usando o que nós agora somos capazes de fazer no cinema para honrá-los.
”É incrivelmente excitante. Você tem a combinação de um ótimo arco de personagem, muita ação, muito humor e alguns momentos merecidos de heroísmo neste ambiente que vai explodir as mentes das pessoas. É uma perspectiva muito atraente para um ator’’.
A afeição de Cumberbatch por super-heróis veio de adaptações cinematográficas, ao invés de quadrinhos originais que leu quando criança, começando pelo Batman de Tim Burton, com Michael Keaton e Jack Nicholson como o Coringa.
”Realmente intrigou todas as nossas imaginações e entusiasmos quando crianças na escola’’, ele diz. ”Nós tínhamos os pôsteres, tínhamos os chapéus, tínhamos a trilha sonora do Prince ao som da qual nós costumávamos cantar e dançar. Essa foi minha iniciação.
”É muito excitante para um adulto de 40 anos se ver em outdoors do tamanho de prédios e se dar conta de que você está na frente como um dos personagens principais naquele mundo agora.
Cumberbatch mostra seu intelecto afiado enquanto ele fala de Feige e seu planejamento das aparições de Doutor Estranho em outros filmes da Marvel, incluindo uma referência em Thor: Ragnarok, que o diretor neozelandês Taika Waititi quase terminou de filmar em Queensland.
”Kevin e o time introduziram esses personagens com uma boa quantidade de premeditação que envolve um arco de história muito mais longo’’, ele diz. ”E agora não é nenhum segredo para o mundo que eu definitivamente vou estar envolvido com os Vingadores de uma forma significativa e nós veremos para onde o personagem vai talvez em outro filme individual também. Há uma boa dose de animação em torno da ideia do que ele pode trazer.
”As pessoas frequentemente falam que a tela está um pouco lotada demais com a quantidade de personagens que tem nos filmes dos Vingadores. Bem, a tela vai ficar bem maior com esses personagens, então haverá espaço para todos nós. E eu mal posso esperar para interagir com todos esses personagens. Sou um grande fã”.
Tradução: Aline e Gi | Fonte