A edição de outubro da revista italiana Best Movie traz Benedict como Doutor Estranho na capa e uma matéria caprichada sobre o filme. Confira abaixo a tradução e o scans da revista:
O doutor criado por Steve Ditko chegará aos cinemas dia 26 de outubro, para aumentar ainda mais o esquadrão de heróis da Marvel desembarcados na tela grande.
Mas quem é Doutor Estranho? Quem é seu mentor e quem são os seus inimigos? Quais são as suas origens nos quadrinhos? Respondemos as perguntas pedindo ajuda a alguns dos autores que o tornaram famoso.
COISAS MAIS ESTRANHAS
Doutor Estranho contará a origem do Mestre das Artes Místicas criado em 1963 por Steve Ditko e desenvolvido depois com ajuda de Stan Lee, o deus ex machina da Marvel, com quem ele já havia criado o Homem-Aranha. O protagonista (Benedict Cumberbatch) é um famoso neurocirurgião que, depressivo após um acidente de carro que comprometeu o uso de suas mãos e, consequentemente, sua carreira, durante uma viagem no Oriente em busca de uma cura encontra O Ancião, que vira seu mentor e o introduz a magia.
Do filme não se sabe muito mais do que isso, a não ser que os dois vilões – Karl Mordo e Kaecilius, também feiticeiros – não corresponderão exatamente aos seus homônimos nos quadrinhos, mas serão uma fusão de vários adversários de Estranho. Enquanto o interesse romântico deverá ser representado pela cirurgiã Christine Palmer (Rachel McAdams), ex-colega do nosso cirurgião.
Falando dos quadrinhos, visto que o Doutor não teve o mesmo sucesso editorial massivo de Homem-Aranha, apesar de a Marvel ter contratado uma tropa de grandes profissionais para valorizá-lo ao longo dos anos, vale a pena se aprofundar na história do personagem e dos coadjuvantes, bons e maus, com a ajuda de algumas figuras ilustres (e de um pequeno guia ao seu mundo).
Como, por exemplo, a de Steve Englehart, roteirista de imaginação vivaz e criador, dentre outras coisas, do Senhor das Estrelas de Guardiões da Galáxia, para quem o Doutor foi designado em 1972. Para a Best Movie, Steve volta na memória para aquele tempo, quando ele e o ilustrador Frank Brunner estavam pensando na nova série. ‘’Decidimos deixar os primeiros números lisérgicos e queríamos de alguma forma reinterpretar o clássico da Disney, Alice no País das Maravilhas. Na época não existia internet, na verdade, não existiam nem VHS e DVD. Se você quisesse assistir a um filme de novo, precisava procurar um cinema na vizinhança que o estivesse passando. Nós encontramos um, era um drive-in que, antes de Alice, estava passando Se Meu Fusca Falasse. Depois do primeiro rolo da obra-prima inspirado no romance de Lewis Carroll, o projetista nos fez ver logo o final do filme, pulando a parte mais útil para nós. Protestamos, mas ele nos disse que éramos os únicos interessados em assisti-lo naquele momento e que ele queria ir para casa: nada de Alice! Eu e Frank tivemos que fazer tudo sozinhos. Criar quadrinhos naquele período era coisa para os fortes!
Isso não impediu Steve de escrever algumas das histórias mais fascinantes da criação de Lee e Ditko. Numa delas, um mago do século XXXI, chamado Sise-Neg, volta no tempo, recolhe toda a energia mística da História e alcança o início do universo, causado um tipo de Big Bang. Testemunha do incidente, Strange conclui que o tal mago do futuro é Deus. Assim que a HQ publicada chega à mesa de Stan Lee, então editor-chefe da Casa das Ideias, O Sorridente (apelido de Lee) pede para Brunner e Englehart escreverem no número sucessivo que aquele mostrado na história não era ”Deus’’, mas ”um deus’’, para evitar que os leitores religiosos se ofendessem.
Em 2004, a Marvel contrata o futuro roteirista de A Troca e Sense 8, J.M. Straczynski, e lhe confia as novas origens do doutor. JMS encontra um dos ilustradores mais amados pelos fãs, Brandon Peterson, que com Strange revoluciona seu traço e dá ao Doutor a aparência definitiva que terá no filme. Peterson nos confessou sempre ter amado o Doutor Estranho. ”Era o personagem mais potente do universo Marvel, enquanto o Homem-Aranha se limitava a combater Hobgoblin. O Doutor basicamente suportava sozinho as forças da Dimensão Negra de Dormammu que queriam invadir nosso universo, mas suas histórias sabiam ser metafóricas e até mesmo introspectivas. Uma vez, depois de ser deixado pelo amor da sua vida, Clea, até mesmo enfrentou uma depressão, encarnada no demônio Desespero.
Trabalhar no reboot das origens de Stephen Strange foi divertidíssimo e agora, depois de mais de 10 anos, me alegra que, a julgar pelos trailers, o diretor tenha recapturado a abordagem visual que J.M. e eu escolhemos para a nossa história.
O DOUTOR NOS QUADRINHOS (quadro da pg. 35)
Acima, a capa e uma imagem de Uma Realidade Separada, volume que contém diversos trabalhos de Frank Brunner e Steve Englehart. Abaixo, a capa de Começos e Fins, contendo cinco trabalhos assinados pela dupla J.M. Straczynski/Brandon Peterson. Por último, a capa do primeiro número de Doutor Estranho, criado em 1963 por Steve Ditko e Stan Lee.
O DOUTOR TÁ NA ÁREA!
Um guia para o mundo do doutor em 5 pontos
Sr. Strange
Quando Ditko propôs o personagem à Stan Lee, ele o chamava de Senhor Estranho, mas Stan mudou seu nome para evitar confusão com o Senhor Fantástico. Depois de criar o Homem-Aranha e os cenários surreais de Doutor Estranho, Ditko deixa a Marvel e desde então não concede entrevistas.
Só se sabe que é um defensor do Objetivismo, a disciplina filosófico-metafísica de Ayn Rand, e que vive recluso em Nova York.Livros mágicos e amuletos
Lee e Ditko, mas também, ao longo dos anos, Steve Englehart, Roy Thomas, Roger Stern e Gene Colan, dotam o Doutor com uma série de artefatos místicos de nomes improváveis e com poderes misteriosos herdados de seu mestre, O Ancião.
Já vimos alguns no trailer de Doutor Estranho e nos filmes precedentes do universo cinematográfico Marvel.Cumberbatch folheia um tomo que tem todo o jeito de ser o Livro do Vishanti (nome da tríade mística Agamotto, Oshtur e Hoggoth), uma coletânea de feitiços. Ademais, veste a Capa da Levitação e o célebre Olho de Agamotto, um amuleto capaz de revelar armadilhas, desfazer feitiços e abrir portais através do tempo e do espaço.
Não confundir com o Globo de Agamotto que aparece no primeiro Thor e que, estamos seguros, terá seu papel no futuro quando todos os heróis da Marvel se encontrarem em Avengers: Infinity War. Atualmente, na continuidade dos quadrinhos, Strange faz parte dos Illuminati e possui uma Joia do Infinito.Bons e Maus
O mentor místico de Strange é O Ancião (interpretado por Tilda Swinton no filme), um epígono de Fu Manchu e Feiticeiro Supremo. Seu arqui-inimigo é Dormammu, o senhor da Dimensão Negra de cabeça flamejante que quer conquistar a Terra. O aprendiz mais antigo do Ancião é Baron Mordo (que tem o rosto do ator nomeado ao Oscar por 12 Anos de Escravidão, Chiwetel Ejiofor) que, pelo menos no trailer, parece o aliado principal de Stephen. Por outro lado, nos quadrinhos, tenta matar seu mestre para tomar seu lugar, mas é descoberto por Strange e expulso do ”curso de magia’’, se transformando assim num inimigo jurado do Mestre das Artes Místicas.
O inimigo principal no filme parece ser Kaecilius (interpretado por Mads Mikkelsen).
Mas atenção: trata-se de um discípulo de Mordo que ele frequentemente controla. Então, estão avisados….o Barão nunca poderá ser amigo do Doutor!
O aliado mais fiel de Strange é Wong, mestre de artes marciais e de magia. Depois de Sherlock Holmes e seu Watson, Benedict Cumberbatch interpreta outro ícone pop dotado de um célebre braço direito…Elementar, Wong!Demônios e Deuses
O Doutor já teve que lidar com entidades cósmicas de todos os tipos. Numa célebre história de Lee/Ditko aparece Eternidade, a personificação do tempo. Num momento, ela é raptada e obrigada a dormir na casa de Pesadelo, uma personificação sombria do sonho, nascida muito antes do Sandman de Neil Gaiman. Encarregado de controlar e manter o equilíbrio cósmico está o Tribunal Vivo, um gigante inquietante sem dedos e com a cabeça tricéfala separada do busto. Na sua primeira aparição, O Tribunal Vivo menciona um outro personagem chamado-o inclusive de ”Deus”. Trata-se doÚnico Sobre Todos, criador do Omniverso Marvel, irmão de ninguém mais, ninguém menos do que da Morte. Deixo para vocês imaginares os visuais sóbrios destes personagens: fantasia amarelo neon, calças verdes, armaduras brilhantes inaceitáveis num filme, mas que funcionam nos quadrinhos e fazem a alegria dos leitores da Marvel mais afeiçoados.
O herói da contracultura
No filme, veremos também o célebre Sanctum Sanctorum, onde Stephen estuda seus feitiços. Assim como um outro personagem célebre (Sherlock, de novo), esse lugar fictício também tem um endereço real. É o 177A de Bleecker Street, em Nova York, no Greenwich Village.
Nos anos sessenta e setenta, o Greenwich era a casa da contracultura, frequentado por usuários de LSD. Lendo o Doutor Estranho da época, não é difícil de acreditar que algum autor tenha feito pesquisa de campo sobre certos hábitos para se inspirar.
Tradução: Gi