Benedict é capa da edição de novembro da revista Vanity Fair! Confira a tradução da matéria publicada no site da revista.
Matéria de capa: O impressionante Benedict Cumberbatch
Seus fãs obsessivos tornaram Benedict Cumberbatch o “namorado da Internet”, e Doutor Estranho mês que vem só irá alimentar a chama. Estrelando como outro gênio alienado, esse agora com superpoderes, o ator revela sua própria atração pelo limite.
Quando Benedict Cumberbatch tinha 19 anos, ele ficou perdido nos Himalaias. Não mais um estudante de fraque e chapéu de palha, mas ainda não o astro internacionalmente conhecido de Sherlock e um dos maiores improváveis sex symbols, ele tinha pegado um ano sabático antes da universidade para ter um vislumbre da vida além dos exames de A-level e do domingo na igreja.
Em uma cidade nas montanhas próxima de Darjeeling, ele ensinou inglês para monges tibetanos, dando a si mesmo um curso intensivo em improvisação ao conjurar jogos instrutivos. Nos finais de semana de folga, ele ia em busca de aventura: rafting ao longo do Rio Kali Gandaki, atravessar a deserta província de Rajasthan. Era a estação das monções em qualquer outro lugar, mas as montanhas atraem.
Então ele e três amigos pegaram um ônibus em Kathmandu. Os sherpas são caros, e eles eram estudantes viajando barato, então decidiram, de forma extremamente imprudente, a improvisar. O mal-estar por causa da altitude os descarrilharam um por um: o grupo de quatro passou a ser o de três, e depois um grupo de dois. Na terceira noite, Cumberbatch relembra, “Eu comecei a ter sonhos muito fodidos e estranhos, e senti coisas acontecendo no meu sono. Eu não tinha certeza se eu estava consciente ou acordado.”
Ele e seu amigo chegaram em uma bifurcação espiritual na estrada, que era literalmente uma bifurcação na estrada: pra cima ou pra baixo? Eles escolheram pra cima. E foi aí que eles ficaram completamente, desesperadamente, desconcertantemente, perdidos. Eles ficaram sem biscoitos. Eles beberam água da chuva espremida pra fora do musgo, porque eles leram que era mais seguro do que a água do rio. Quando a noite caiu, com suas lanternas perdendo bateria, eles persistiram através da mata, até que eles avistaram um telhado de aço corrugado na distância: salvação?
Acontece que era um celeiro abandonado. Eles se jogaram de barriga para baixo na palha e adormeceram. Aquela noite, eles tiveram sonhos ainda mais fodidos, cada um deles convencidos de que alguém – ou alguma coisa – estava vasculhando suas mochilas. Mas quando acordaram, não tinha ninguém.
Na manhã seguinte, eles seguiram o rio, esperando que fosse levar a civilização. Eles quase quebraram os pescoços escorregando abaixo das pedras cobertas de musgos. A névoa alpina deu lugar a floresta, e sanguessugas se prenderam aos seus tornozelos. Eles acharam um caminho com excrementos frescos de iaque: um bom sinal. Finalmente, as árvores ficaram mais escassas, e eles chegaram a uma clareira de pastagens geminadas e cabanas de madeiras que pareciam algo saído de “A Noviça Rebelde”. Correndo para os habitantes, eles fizeram a mímica do sinal internacional para fome (dedos indo para bocas abertas) e foram servidos da refeição mais saborosa que já tiveram – verduras não lavadas e uma tigela de ovos – depois da qual Cumberbatch imediatamente pegou disenteria.
“Ah,” o ator suspira 21 anos depois, “você pega os altos com os baixos.”
Cumberbatch está recontando essa história no lobby do Shutters on the Beach, um hotel cinco estrelas em Santa Monica. Ele está ficando aqui a semana toda, fazendo ‘pickups’ – filmagens pequenas depois que a fotografia principal é feita – para Doutor Estranho, o dito filme de fantasia de 165 milhões de dólares, no qual ele interpreta um dos super-heróis mais impressionantes da Marvel. Ele joga seus óculos e chapéu de feltro sob a mesa, depois se reclina em uma cadeira envolta em lona, vestindo camiseta branca e calças, olhando com olhos turvos para os ciclistas e patinadores lá no calçadão. São 11 da manhã, e ele está trabalhando sem dormir.
É sério, sem dormir. Ele estava fora filmando uma sequência noturna externa até às 7:30 da manhã, atuando com co-stars que não estavam realmente lá, pontuada com longos períodos na cadeira de maquiagem nos quais ele lutou para ficar acordado. “É provavelmente, falando de horas, o dia mais maluco de trabalho, se você puder chamar isso de dia, que eu jamais, jamais tive,” ele diz tomando um café gelado. Um pequeno pardal voou para dentro do lobby do hotel e está se lançando em torno dos nossos pés, sua confusão espelhando a do ator de 40 anos. Ele oferece um aviso muito inglês: “Fluidez, precisão, inteligência, humor – todas essas coisas podem ser muito estranhas hoje. Eu realmente não sei quem eu sou.”
E ainda assim, ele passa a falar em uma arrancada tipo “Flight of the Bumblebee”, como Sherlock Holmes vivamente descontruindo uma cena de crime. (“Porque, é óbvio.”) Na tela, a precisão incessante de Cumberbatch e seus olhos azuis afiados podem ler como algo de outro mundo, como se ele fosse um ser humano um pouco mais avançado do que o restante de nós. Se ele foi rotulado, é por interpretar gênios socialmente desafiados, pessoas que calculam mais do que se relacionam: Alan Turing, que decifrou códigos na Segunda Guerra Mundial (em “O Jogo da Imitação”, pelo qual ele foi indicado ao Oscar em 2015), o mentor do WikiLeaks Julian Assange (“O Quinto Poder”) e, é claro, Sherlock, que ele interpretou desde 2010 na popular série da BBC.
Memes e Ben
Ser Benedict Cumberbatch significa viver sob uma lupa, como uma impressão digital sob o olhar de Sherlock. Quase tudo que ele faz é capturado, catalogado, e obcecado por uma sempre crescente multidão de fãs. Alguns chamam a si mesmos de Cumberbitches. Ou, ligeiramente mais politicamente correto (mas não muito), Cumberbabes. Talvez seja seu ‘britanismo’ acentuado – esse nome Dickensiano, essa palidez Brontëana – que o tornou numa espécie de boneco imaginário, um objeto de fetiche da mulher pensadora. Se Laurence Olivier tivesse vivido na era do Tumblr, ele poderia ter siso o “namorado da Internet”, também.
Um bom pedaço da Web é agora dedicado a Cumbercontemplar, ou Cumberfantasiar, ou honestamente Cumberstalkear. A conta @Cumberbitches no twitter, dedicada a “apreciação do sexbomb com altas maçãs do rosto, de olhos azuis, que é Benedict Timothy Carlton Cumberbatch,” tem 256 mil seguidores. Há um agitado grupo Cumberbitch no Reddit, que celebra ““ThrowBatch Thursdays.” Biography.com esboçou as “8 Qualidades Essenciais de uma Cumberbitch,” que incluem ter um “grau de bacharel não-oficial em Cumber-ologia.” Em 2014, The London Review of Books publicou um poema no qual o autor imagina encontrar Cumberbatch em uma festa. Ele é grande na China, onde fãs se referem a Holmes e Watson como Curly Fu e Peanut. Uma confeiteira na Indonésia faz “cumbercupcakes,” completos com estatuetas comestíveis.
O Cumberfrenezi pode ser traçado a 25 de julho de 2010, quando o primeiro episódio de Sherlock foi ao ar no Reino Unido, assistido por 7,5 milhões de espectadores. O Twitter ficou enlouquecido. Alguma coisa na falta de atividade sexual de Sherlock — seu foco quase sociopático em resolver crimes, à exclusão de relações humanas normais — fez dele muito mais irresistível, como se a mulher certa pudesse levá-lo à carnalidade. Ou o homem certo: a série é carregada de insinuações sobre Sherlock e John Watson, interpretado por um Martin Freeman graciosamente confuso. Fóruns de fanfiction “Johnlock” eróticas preencheram os espaços. (De uma história chamada “First Times” [“Primeiras Vezes”]: “Tudo que precisou foi um vislumbre, e foi como se a represa finalmente se quebrasse. Eles não conseguiam mais segurar. John tinha parado, no meio da respiração, e então os lábios dele estavam sobre os de Sherlock”).
Cumberbatch saúda o dilúvio dos fãs — parte dele criativo, parte dele assustador — com um divertimento praticado. No meu caminho para encontrá-lo em Santa Monica, eu verifico online a última leva. Um usuário do Twitter postou: “Às vezes quando eu estou triste imagino um Benedict Cumberbatch sem camisa comendo lentamente um bolinho de maçã. Experimente!”
Quando leio isso a Cumberbatch, ele cora na hora e diz, “Você já tentou isso? Não funcionaria para mim”. Ele ri, um pouco receoso. “Eu fico contente em trazer um raio de luz do sol a um dia de outra forma chato, sendo imaginado comendo bolinhos sem camisa. Mas, eu não sei, isso me faz rir. Eu não me olho no espelho e falo, ‘Sim, absolutamente! Eu vejo o que estão dizendo!’ Eu vejo todos os meus defeitos e tudo que eu sempre vi como meus defeitos”.
Dias de Strange
É claro, nem toda a atenção é tão benevolente. Obsessão cria possessividade, o que pode criar algo mais obscuro. No ano passado, Cumberbatch se casou com a diretora de teatro Sophie Hunter, e eles tiveram um filho, Christopher (apelidado Kit). “Existem pessoas que acreditam que minha esposa é um golpe de publicidade e meu filho é um golpe de publicidade”, ele diz, incerto se ele deveria até trazer isso — ele sabe que não há como discutir com teóricos da conspiração. “Eu acho que tem a ver com a ideia de que o ‘namorado da Internet’ não pode pertencer a mais ninguém a não ser a Internet. É impossível ele pertencer a alguém além de mim. É é isso que é a perseguição. Isso é o que o comportamento obsessivo, iludido e muito assustador é”.
Doutor Estranho certamente acrescentará à histeria. O filme, que estreia em 4 de novembro fará pouco para dissipar a reputação de Cumberbatch como o cara confiável para super-cérebros. (Como ele é rápido em apontar, ele também gosta de interpretar bobos completos”, como o fracassado apaixonado Little Charles em Álbum de Família.) Criado em 1963, pelo mesmo time da Marvel que inventou o Homem-Aranha, o Doutor Stephen Vincent Strange é um neurocirurgião mundialmente famoso cujas mãos são arruinadas em um acidente de carro. Desesperado para reganhar suas habilidades e os luxos materiais que elas proporcionam, ele viaja para a exótica cidade de Kamar-Taj, onde ele conhece uma guru conhecida como a Anciã, interpretada por Tilda Swinton. Treinado nas artes místicas, ele renasce, na descrição de Cumberbatch, como “o primeiro mago na terra e o defensor do nosso domínio contra ameaças de outras dimensões.”
Muito para bobos completos.
Se os papéis espertos dele o definiram, ele insiste que é só porque esses são “os personagens que estouram. São os personagens que as pessoas admiram, porque estão um pouco além de nós”. Ele poderia também começar a descrever seu próprio apelo curioso: parte Sr. Darcy, parte ciborgue. E ainda assim ele não é um chato. “Benedict é uma pessoa extremamente legal com quem trabalhar”, Swinton diz. “Engajado, perspicaz, entusiasmado, gentil e relaxado, disposto a uma risada e devidamente sociável em dias longos, autossuficiente, concentrado, ainda assim repleto de diversão”. (A escalação de Swinton atraiu acusações de whitewashing, já que o personagem nos quadrinhos é um homem asiático.)
Cumberbatch não é nenhum nerd de quadrinhos, embora ele tenha pisado em reinos fantásticos anoes, como o geneticamente criado Khan (outro super humano!) em Além da Escuridão: Star Trek. Quando alguns jornalistas em um evento Star Trek disseram a ele há alguns anos que eles faria um Doutor Estranho perfeito, ele respondeu, “Doutor o Quê?” Ele estava “morno” quanto ao material a princípio, achando os quadrinhos datados demais: ocultismo dos anos 60 encontra ciência da Guerra Fria encontra poupa orientalista. Mas isso o colocou na mente de seu próprio adolescente peregrino, lendo O Tao da Física e procurando “a divindade de dentro”.
E então, no último outono, Cumberbatch pegou um avião para Catmandu, dois dias depois de terminar sua temporada causadora de pânico como Hamlet no Barbican Centre de Londres. (Ingressos antecipados se esgotaram em horas, deixando sãs salivando formando fila na rua.) Foi seis meses depois do terremoto nepalês que matou mais de 8.000 pessoas, e a primeira vez dele lá desde sua viagem mal planejada nos Himalaias. Desta vez, ele foi a antítese de um homem perdido na região selvagem, procurando sinais de humanidade — a humanidade o encontraria agora quer ele gostasse disso ou ou não.
Nos primeiros dias, ele e as câmeras pessoas pela cidade despercebidos, graças ao visual “homem das cavernas desesperado” de Strange: barba desgrenhada, roupas desarrumadas. “Nós fizemos muitas coisas de guerrilha, só andando pelos mercados”, Cumberbatch relembra. No dia em que chegou, ele viu uma cremação na beira do rio. Gravando no topo do Templo do macaco, ele assistiu a “30 mulheres tibetanas vagando pela estupa central com o olho todo sensível no meio, arrastando as mão delas em rodas de oração, balbuciando suas pujas, suas orações”. Foi encantado, pacífico. Mas então a notícia se espalhou, e a equipe foi emboscada por moradores com câmeras gritando, “Benedict! Benedict!” — ou, muitas vezes, “Sherlock! Sherlock!”
“Havia multidões”, relembra Chiwetel Ejiofor, co-astro dele em Doutor Estranho e 12 Anos de Escravidão. “Eu não sabia que Sherlock era grande em Catmandu, mas aparentemente estava errado”. Em certo ponto — preservado no YouTube, Cumberbatch meteu seu rosto barbado para fora de uma janela com vista para a Praça Patan Durbar em Lalitpur e acenou para as multidões; gritos de “Diga xis!” são destacados por uma lamúria grupal distintamente feminina. O Time publicou a manchete: ACONTECE QUE BENEDICT CUMBERBATCH NÃO PODE IR A LUGAR NENHUM.
O Ator dos Atores
Nada da criação dele sugeriu que seu ofício escolhido inspiraria este nível de fanatismo. Ele cresceu em Kensington, o filho único de Timothy Carlton e Wanda Ventham, ambos atores operários que fizeram carreiras no teatro comercial e sitcoms britânicos. (Timothy Carlton tirou o “Cumberbatch” de seu nome artístico, achando que era espalhafatoso demais. O filho dele, após começar sua carreira como Benedict Carlton, fez o contrário, em um conselho de uma agente.) Ventham, que tem uma filha de um casamento anterior, era uma fixação na série de ficção científica UFO e na comédia da BBC Only Fools and Horses. Ela era atraente. “Toda vez que queriam uma garota de glamour ou alguém bastante bonito, traziam a Wanda”, diz a conhecida de longa data dela Una Stubbs, que agora interpreta a senhoria senil de Sherlock, Sra. Hudson; Stubbs se lembra de topar com Ventham na rua e fofocar enquanto o Benedict de quatro anos de idade puxava o vestido de sua mãe.
Através de seus pais, ele observou os altos e baixos da profissão: ‘’Eu vi os períodos ociosos tanto quanto eu vi quando eles estavam seguindo em frente e conseguindo emprego’’. Arrastado para ver sua mãe em outra farsa barata de Feydeau, ele dizia com tom de desprezo, ‘’Se eu assistir mais uma dessas, eu terei que te deserdar’’. Mesmo assim, seus pais trabalharam em dobro para mandá-lo para Harrow, o internato de elite. (Sua avó paterna ajudou com a mensalidade). Harrow foi ‘’obscenamente mimada e privilegiada’’, ele diz – alunos incluem Cecil Beaton e Winston Churchill – e como um filho de atores ele nem sempre se ajustou entre os colegas e príncipes. Mas, em seus dois primeiros anos lá, ele conseguiu dois grandes papéis shakespearianos, ambos femininos. ‘’A primeira vez que eu pisei no palco na frente da multidão de uma escola pública para meninos foi vestido como a rainha das fadas, Titania, com uma peruca à lá Cleo Laine e uma coroa de abacaxi’’.
Jogar rugby e cricket o isolou de insultos. Mas, em seus anos finais, ele largou os esportes para focar na atuação e na pintura; seus colegas de classe, ele diz, ‘’presumiram que, porque eu gostava de arte, eu com certeza era gay’’. Depois de sua peregrinação esclarecedora pelo oriente, ele retornou para estudar drama na Universidade de Manchester e na London Academy of Music and Dramatic Art. Ele trabalhou num ritmo estável, interpretando Stephen Hawking numa biografia para TV e ganhando uma indicação ao Oliver por seu Tesman numa produção de Hedda Gabler no West End. Mas ele aspirava alguma coisa maior do que as carreiras dos seus pais: ‘’Eu queria fazer coisas que eles nunca tiveram a chance de fazer’’.
Agora que Sherlock tornou isso possível, ele pode não demorar no papel. Tendo filmado a quarta temporada, que estreia em janeiro, ele não tem a expectativa de voltar para o personagem ‘’no futuro imediato‘’. Sherlock fez dele um meme; O Jogo da Imitação fez dele um ator de grande calibre; Doutor Estranho pode fazer dele uma mega estrela.
Porque ele parece um visitante frequente da biblioteca de Londres privado de sol, você não imaginaria que Cumberbatch fosse um intrépido, mas ele sempre gravitou em torno do limite: andar de moto, praticar paraquedismo. ‘’Ele definitivamente é um pouco viciado em adrenalina’’, diz seu melhor amigo, Adam Ackland, quem ele conheceu enquanto trabalhava no drama da BBC, The Last Enemy, de 2008. (A produtora deles, SunnyMarch, está desenvolvendo vários veículos de Cumberbatch, incluindo uma adaptação do romance de suspense Rogue Male, de 1939). Atuar, para Cumberbatch, é outra forma de procurar excitação, um jeito de escalar os picos do Himalaia da psique. Hamlet foi um tipo de Everest, um que ele parece ter conquistado. Como o crítico do Telegraph escreveu, ‘’Admiradores do Cumberbatch podem confiar, suas fãs devotadas tem o direito de desfalecer: neste julgamento da força de sua atuação, ele emerge, sem dúvidas, vitorioso’’.
Para entender seu apetite pelo extremo, é necessário voltar para 2004, para uma experiência quase letal ainda mais angustiante do que suas desventuras no Himalaia. Ele estava em KwaZulu-Natal, África do Sul, filmando a minissérie Além dos Confins do Mundo, da BBC, e foi na Baía Sodwana com dois dos seus colegas de elenco, Theo Landey e Denise Black. Enquanto eles voltavam à noite, num trecho de estrada conhecido por sequestro de carros, eles pararam por causa de um pneu furado. Seis homens armados os surpreenderam e levaram seus celulares e cartões de crédito, e depois os empurram para dentro do carro, apontando uma arma para eles, e dirigiram. Num momento, Cumberbatch foi enfiado na mala. ‘’Ben chutou e gritou desesperadamente‘’, Landsey recorda.
Os assaltantes pararam debaixo de uma ponte, onde os atores foram amarrados com os cadarços dos próprios sapatos, agachados no estilo extermínio. Convencido de que eram seus momentos finais, Cumberbatch pleiteou por sua vida. Depois de vários minutos de silêncio, ele se deu conta de que os homens tinham ido embora. Os atores conseguiram se desamarrar e vagaram pela estrada até que eles encontraram algumas mulheres nativas que emprestaram seus celulares para que eles pedissem ajuda.
Ao invés de se isolar,como alguns tendem a fazer depois de um trauma, Cumberbatch diz que o suplício só intensificou seu desejo por aventura. ‘’Eu definitivamente estava mais impaciente para viver uma vida menos comum’’, ele diz. ‘’Eu queria nadar no mar que eu vi na manhã seguinte. Se você sente que você está prestes a morrer, você não pensa que você vai ter essas sensações de novo – uma cerveja gelada, um cigarro, a sensação do sol em sua pele. Todas essas coisas te atingem como experiências novas de novo. É, de certa forma, um novo começo. Mas nós estávamos no nosso caminho de volta do primeiro final de semana de um curso de mergulho, então não era como se eu fosse insular antes daquilo. Eu acho que isso só me fez querer esse tipo de coisa de maneira mais imprudente.
Os últimos dois anos suavizaram, ou talvez transmutaram, sua necessidade de adrenalina. Quando eu pergunto onde ele quer encontrar seu próximo estímulo, ele diz ‘’É uma resposta melosa, mas a verdade é que eu quero procurar estímulos em casa’’. Ele conheceu Hunter há quase duas décadas, no Edinburgh Festival Fringe, mas eles demoraram anos para ficarem juntos. Depois de um cortejo que eles milagrosamente conseguiram manter fora dos tabloides, eles se casaram no Dia dos Namorados de 2015, na Ilha de Wight.
Hunter estava grávida de Kit, que nasceu naquele junho, duas semanas antes de Cumberbatch começar os ensaios de Hamlet. Desde então, ele já parou de andar de moto, quanto mais de pular de aviões.
Ter um filho – é monumental’’, ele diz. ‘’E num nível muito inesperado’’. De repente eu compreendi meus pais muito mais profundamente do que eu já havia compreendido alguma vez na vida’’. A paternidade lhe concedeu um discernimento contra-intuitivo para o papel mais desafiador no cânone teatral. ‘’Eu estava esperando, no que diz respeito a Hamlet, que ser um pai fosse um obstáculo, porque a peça é toda sobre ser um filho. Mas é o oposto. Você compreende muito mais sobre ser um filho ao se tornar um pai’’.
Swinton diz ‘’Minha impressão mais afetuosa dele é de um recém-casado apaixonado por sua garota, e um pai de primeira viagem encantado por seu garoto’’. Ela não se preocupa com a fama poder estragá-lo: ‘’Eu acho que ele sabe que ele quer – e tem – uma vida, antes de mais nada; e que sua vida é adequada para ele, que ela o alenta e que ela faz o mundo girar’’.
Falando nisso, Cumberbatch precisa pegar um avião – de volta para Londres por uns dias, antes de umas férias absolutamente necessárias com Sophie e Kit. O pardal ainda está volteando pelo saguão do hotel, pousando de repente numa cadeira atrás de mim. ‘’Jesus Cristo!’’, eu grito, envergonhadamente sobressaltado. Mas Cumberbatch, sereno, levanta de sua cadeira, caminha até a porta do terraço e a escora com o apoio de uma cunha de borracha.
‘’Isso poderá dar uma chance ao pássaro’’, ele diz, iluminado pela luz do sol.
Parece uma metáfora para alguma coisa, mas Cumberbatch não é nenhum pássaro preso precisando de resgate. Ao invés disso, me ocorre que eu acabei de testemunhar um aspirante a meme, o rascunho de uma fantasia de uma Cumberbitch.
Às vezes, quando estou triste, eu imagino um Benedict Cumberbatch tresnoitado libertando um pardal pequenininho. Experimente!
Tradução: Juliana, Aline e Gi | Fonte