Como mencionamos no começo da semana, Benedict é capa da edição de novembro da revista GQ britânica. E agora trazemos para vocês a tradução completa do artigo, onde Benedict fala sobre a sua nova família, sobre fama e sobre política. Assim que conseguirmos os scans da revista, postaremos em nossa galeria!
Benedict Cumberbatch é grande demais para cair?
O Doutor Estranho da Marvel é um ator com muito a dizer, mas, como sua vida fora das telas está transformada, o Sherlock e Hamlet que conquistam a todos quer tomar de volta o controle da narrativa. O problema é que, para Benedict Cumberbatch, falar é como o sucesso: ele não consegue evitar…
Por Stuart McGurk
Quando eu encontro Benedict Cumberbatch, ele levanta seus braços na frente de si mesmo, alguns metros à frente, dando o sinal inconfundível de que o que estamos prestes a fazer é nos abraçarmos.
“Stuart!”
Isso é preocupante, enquanto eu o abraço como um passageiro em pânico executando um pouso de um avião, e bem-vindo. Pelo menos eu tenho tempo para me preparar.
Nós damos palmadas nas costas solidamente, perguntamos como outro está, e geralmente inspecionamos um ao outro por danos. O abraço não é excessivamente familiar, exatamente: nos encontramos antes, mas não mais do que isso, ainda assim ele me cumprimenta como um amigo há muito perdido, o que talvez é uma das coisas mais educadas que você pode fazer a alguém que não é.
Especificamente, nós nos conhecemos para a outra vez em que Cumberbatch esteve na capa desta revista, um pouco mais de três anos atrás, lá quando ele era solteiro, quando ele estava prestes a aparecer em uma terceira temporada de Sherlock (ele agora está prestes a aparecer em uma quarta), e tinha passado o ano dividindo seu tempo entre partes pequenas de roubar a cena em filmes grandes (o vilão Khan em Além da Escuridão: Star Trek; o dragão Smaug em O Hobbit: A Desolação de Smaug e papéis principais em filmes menores (Julian Assange em O Quinto Poder; Alan Turing em O Jogo da Imitação).
Nós nos trombamos desde então, de vez em quando — em um leilão de caridade; na premiação do Homem do Ano da GQ de 2014 um evento onde ele subiu ao palco menos do que sóbrio (“Eu estou aqui com condutores… condutores? De qual século eu sou? Alguém fazendo testes para Downtown Abbey ou alguma merda assim… Não que Downtown Abbey seja uma merda!”); e, finalmente, no pós festa, onde eu o encontrei interrogando um sommelier do jeito em que alguém poderia questionar um alienígena que desembarcou recentemente que conseguisse, digamos, cheirar dores de cabeça. Não apenas interesse intenso nos detalhes, mas um tipo de alegria semi-perplexa de que algo assim pudesse existir em primeiro lugar. Eu acho que ele estava perguntando sobre um Shiraz.
Aliás, se u pudesse escolher, alegria-semi-perplexa-de-que-algo-assim-pudesse-existir-em-primeiro-lugar provavelmente seria meu traço de caráter chave daquele primeiro encontro com Cumberbatch. Durou três horas e o viu semi-perplexo (com alegria) com coisas do tipo: nossos hambúrgueres, o vinho (é claro), esta revista, café (flat whites, e como você faz um flat white? E o não que faz de um flat white um flat white?), minha bicicleta, e tudo no meio.
Foi bem divertido. Ele é sincero, entusiasmado e sem maldade de uma maneira que é rara e revigorante. Mas eu também entendi a declaração de Martin Freeman de que, “Ele é doce e generoso de um jeito quase infantil. Eu poderia tirar vantagem dele jogando cartas”.
Eu senti que poderia tirar vantagem dele jogando cartas.
Mais crucialmente, desde que nos encontramos da última vez, ele evoluiu para atuar papéis grandes em filmes grandes — notavelmente, o motivo por que estamos aqui, que é seu papel principal como Doutor Estranho, o último da fábrica de super heróis da Marvel, que a julgar pelo trailer é A Origem cruzado com Matrix e depois unzinho (“eu aconselharia as pessoas a não usar nenhuma droga antes de assistir”). Ele interpreta um cirurgião que ganha poderes místicos, e é um papel que pode fazer por ele o que Homem de Ferro fez por Robert Downey Jr.
Colocando de outra forma: se você achava que Cumberbatch era famoso antes, espere.
E ainda assim, ele é um tipo curioso de famoso. Ou melhor, ele é todos os tipos.
Alguns atores são famosos periféricos (estes são ou mega astros de Hollywood ou estão em séries de TV); alguns são famosos de premiação (estes são os que estrelam em filmes biográficos e são seriamente entrevistados por suplementos de fim de semana; eles na verdade muitas vezes não são famosos); alguns são famosos na internet (estes são os que geram memes, hashtags e contas no Tumblr e veem fãs adolescentes devotos guardá-los zelosamente do resto da internet). Mas é só Cumberbatch que é todos estes, só ele que consegue o straight flush [sequência de mesmo naipe].
As pessoas o amam mais, mas se enfurecem mais com ele, também. Ele é para-raios, um gerador de memes, um iniciador de conversa, um teste de Rorschach em forma humana.
Desde que nos encontramos da última vez, ele foi indicado a um Oscar, por seu papel excelente como Alan Turing em O Jogo da Imitação, mas também teve uma lontra que recebeu seu nome (isso foi colocado em votação pública e a internet fez o que a internet faz). Ele estrelou em Hamlet no Barbican, no que foi a produção teatral de Londres mais em demanda na história (os ingressos esgotaram em minutos, com um ano de antecedência), mas também teve uma peça feita por fãs produzida sobre ele (Benedict Cumberbatch Must Die) na qual uma “obsessiva por celebridades enlouquecida por sexo” e uma “escritora de fan-fiction socialmente fóbica” se juntam e… vamos deixar isso aqui.
Quantas pessoas, você tem que se perguntar, já tiveram estátuas em tamanho real de si mesmos feitas de cera (Madame Tussauds) e chocolate? O último foi um golpe para a UKTV; quando ela foi colocada em exibição em um shopping center, as pessoas começaram a comê-lo, o que é uma metáfora crua sobre a fama se você quiser.
Nós nos sentamos no jardim do pub local dele abaixo de Hampstead Heath na zona norte de Londres (passa das 9h, e ele abriu especialmente para nós), e eu pergunto sobre um ano em que ele recentemente completou 40 anos.
Isso o afetou? Não, ele diz, ele não está incomodado com o número. Antes, ele admite, podia ter se incomodado. Ele ignorou seu 30º aniversário inteiramente — “Sabe, por algum motivo, me agarrando à ideia de que eu não queria ter 30” — e costumava a se obcecar em ter filhos aos 32 (foi quando, tinha decidido, ele seria um “adulto pleno”). Agora, nem tanto.
“Acho que eu teria ficado incomodado se não tivesse sido pelas coisas mais importantes da minha vida. Sabe, o relógio tiquetaqueando por outra década, talvez eu esteja dizendo, ‘Oh, estou sentindo falta de alguma coisa na minha vida. Eu deveria ter feito isso por agora’. Mas me sinto tão completo. Me sinto tão sortudo”.
E é verdade, ele parece absurdamente feliz. Essas coisas importantes na vida dele são seu casamento, no ano passado, com a diretora de teatro de 38 anos Sophie Hunter, e o nascimento de um filho, Christopher, agora um ano, não muito tempo depois.
Em uma manhã ensolarada de verão em que nos encontramos, ele acabou de sair de 12 meses trabalhando consecutivamente, de Hamlet em Londres a Doutor Estranho em Los Angeles a Sherlock no País de Gales. Ele só terminou o último na noite passada, e, daqui a algumas horas, ele está voando para LA novamente para uma semana final de gravações de Doutor Estranho. Mas, depois disso, ele diz, ele terminará. Vai tirar duas semanas de folga. Ele finalmente está traçando planos de se mudar para a casa de família que comprou, em uma estrada arborizada há algumas portas de distância de Ed Miliband em Dartmouth Park (“Como um vizinho, eu direi olá”), e que atualmente está sendo remodelada (“Nós só não tivemos tempo”). Ele está planejando, ele diz, uma grande festa atrasada para seu aniversário de 40 anos, talvez compensando aquela que ele desviou uma década atrás.
“Sabe, as pessoas brincam comigo que eu nunca paro, e realmente não parei esse ano. Tem sido insano. Ao ponto em que tenho uma pausa de dois meses depois disso. E o meu sorriso fica maior e maior”.
E, em geral, as coisas irão mudar.
“Eu quero chegar ao estágio onde eu faço uns dois projetos grandes, depois eu tiro uma folga, talvez depois três ou um, depois outra folga. Você sabe, outras pessoas estão envolvidas agora. Sophie está trabalhando. E tem a educação da criança.”
Sobretudo, no entanto, isso significa que o próximo Sherlock, o papel que o tornou tão famoso quanto Coca-Cola e tão um gerador de opinião em primeiro lugar, será o último.
Cumberbatch não só se joga muito em cada papel como também é sugado para dentro deles. É uma continuidade de sua natureza hiper entusiasmada: não muita dedicação em ficar desamparado. Ele tinha muitas perguntas, ele diz, para o diretor Scott Derrickson antes dele decidir pegar o papel de Doutor Estranho. Não menos porque, como qualquer ator principal na solidez de super-heróis da Marvel, é exigido que ele assine para inevitáveis sequências e para filmes crossover com os Vingadores (“Ele está chegando para trazer muitas outras coisas à existência no universo da Marvel, e para continuar a história dos Vingadores, e depois outro filme para ele…”)
Mesmo assim, quando eu pergunto o que eles discutiram, provoca uma resposta com mais de 1000 palavras – bruscamente quatro páginas de um livro – e aborda o seguinte: ocultismo, histórias de origem, misticismo oriental encontrando com a lógica ocidental, a palavra ‘polarismo” (“Eu nem sei se isso é uma palavra”), DNA, Cern, a posição de um neurocirurgião nos anos 1970 (“Ele era o cara quando se tratava de lógica”), o salário de um neurocirurgião nos anos 1970, mecânica quântica, teoria das cordas, universos alternativos (“Ou universos múltiplos potencialmente correspondentes com o nosso”), o ponto no qual a ciência e a crença se encontram (“Onde você tem que dar um salto”), nosso entendimento do cérebro (“É ainda um território extremamente desconhecido”), nosso entendimento da Varinha de Watoomb (não pergunte), ameaças de outras dimensões, ameaças de EL, Charles Manson, Waco, cultos em geral, o humor nos filmes da Marvel, Homem de Ferro (“Robert Downey Jr criou o estúdio com aquela performance”), autodescoberta, um acidente de carro, efeitos especiais, e redenção…no geral.
Um cínico poderia completar à ele: e o salário também? Mas eu acho que isso iria entender mal Cumberbatch. Ele se torna – na melhor maneira possível – um fanboy para tudo que ele faz. Não é de se admirar que a internet o ame.
Nós nos encontramos quando há um turbilhão de teorias de conspiração de fanboys falando que os críticos estão sendo pagos para escrever críticas negativas dos filmes de quadrinhos da DC (Batman vs Super-Homem, Esquadrão Suicida), e críticas positivas dos filmes da Marvel (todo o restante). Cumberbatch fica feliz em provocar – “Gente, vocês acertaram. Olha, nós podemos manter isso funcionando, por favor? É verdade. Pessoas são pagas para falar bem dos filmes. É exatamente assim que funciona.” – mas tem cuidado em dizer que a Comic-Con “foi simplesmente positividade absoluta, satisfação absoluta…há tanto cinismo no mundo.”
Não é nenhum choque pra mim que quando ele fala sobre ir a premiere de Star Wars: O Despertar da Força (ele é um fã), ele diz: “Eu nunca estive antes, no começo do filme, em uma atmosfera tipo ‘soco no ar’. Quando aquelas palavras começaram foi…”yeah!” E ele realmente soca o ar. Eles até deram a ele, ele completa com aquela alegria registrada, um sabre de luz.
E ele diz sobre Doutor Estranho: “Quando você veste seu figurino pela primeira vez, e você se vê no espelho…você simplesmente dá esse ridículo sorriso de criança. Nós ainda estamos brincando. É um parquinho de areia.”
A trama, até onde nós sabemos, é essa: Cumberbatch é o Doutor Stephen Strange, o neurocirurgião top no mundo, cuja carreira acaba depois de que um acidente de carro danifica suas mãos, apenas para se ver (convenientemente) recrutado pela Anciã (Tilda Swinton), que é boa o suficiente para ensiná-lo as artes místicas, e junto com um companheiro mago (interpretado por Chiwetel Ejiofor) combate um antigo mal (mal raramente sendo algo novo).
É um filme com orçamento de 200 milhões de dólares, de longe o maior filme que ele já teve nos ombros. “Acho que quando o filme sair eu vou ficar mais afetado com isso,” ele diz. “É melhor não se preocupar. É claro que afeta sua carreira, essa é a realidade de ser um ator principal. Mas eu estou otimista em relação a isso, eu realmente estou. Mas você está certo, é um novo nível. Não há como negar.”
Seu entusiasmo, no entanto, pode ter efeitos colaterais, notavelmente a inabilidade de não falar sobre coisas que ele diz que não quer falar, se ele na verdade quiser falar sobre elas.
Isso logo se torna claro, quando ele diz que não podia, em nenhuma circunstância, sob pena de morte, falar sobre sua nova família. Ele então, é claro, prossegue a falar bastante sobre sua nova família.
A maioria dos assuntos, percebe-se, levam a isso: desde sua idade (“A única coisa a respeito de idade que me atinge é que você está muito atento de sua própria mortalidade. Não é em relação a sua vida ou envelhecer ou qualquer coisa assim, é na verdade relacionado a querer viver o suficiente para ser capaz de proteger aquela criança”), até o quanto ensolarado está (“Com o bebê, eu lambuzo ele com um fator 1000, e ele ainda fica bronzeado”), até sua rotina de treino de ter que levantar às 4 da manhã para ficar musculoso para Doutor Estranho (“Isso na verdade me ajudou a lidar com ser um pai de primeira viagem. Eu digo isso como se eu fosse sempre o único a levantar. Sophie realmente foi incrível durante aqueles primeiros meses”), até trabalhar dias longos em Sherlock (“Chegar em casa para ver sua família se torna a principal coisa – eu trabalho horas extras, mas eu posso chegar a tempo do banho?”).
É mais do que compreensível. Afinal, pegue a alegria descontrolada de qualquer novo pai, e combine isso com Cumberbatch, e é quase uma surpresa nós falarmos de qualquer outra coisa.
E ainda assim, como Cumberbatch seria o primeiro a admitir, [seu entusiasmo] pode deixá-lo em águas quentes, também.
Sim, ele diz, a noite que ele estava fazendo seu pedido de doação costumeiro para Save the Children depois de uma apresentação de Hamlet, ele poderia não ter terminado dado pedido com, “Fodam-se os políticos!”.
Isso, por sua vez, se tornou notícia. Em retrospecto, ele diz, ele não ficou surpreso.
“Em retrospecto, não, eu não fiquei. É claro que eu iria ser acusado de ser um hipócrita, mas no momento eu só pensei, “Nós vamos levantar algum dinheiro para Save the Children.”
Por que hipócrita? ”Por que, culturalmente, você é visto como branco, homem, de classe alta, privilegiado…’’
Isso não é motivo para ajudar?
”Bem, é isso que eu sempre pensei! Sim, exatamente. Exatamente. Exatamente. Eu acho que a lógica é que eu preciso dar toda a minha….eu acho que se eu andasse por aí em calças de serapilheira, por mais assustador que fosse, e eu não possuísse bens materiais…’’
Ele começa de novo: ”Um dos argumentos foi ‘quando você vai colocar um refugiado na sua casa ou flat? E, sabe, eu tenho uma casa, mas está vazia, está destruída, não tem eletricidade ou água, então não daria certo, e eu tenho um bebê no meu flat, não há quartos vagos’’.
Por todo o meu dinheiro, eu não acho que foi um problema sobre classe – ao menos não tanto quanto Cumberbatch acha que foi – ou o fato de Cumberbatch não estar administrando um campo de refugiados no norte de Londres. Foi muito mais simples, e, consequentemente, muito mais imbecil: foi uma pessoa famosa que falou palavrão. Notícia. Cliques. Comentários.
Cumberbatch vai caminhar, por quase meia hora, navegando por várias de minhas tentativas falhas de interromper para falar sobre suas considerações sobre a crise de emigrantes.
Não são opiniões controversas, mas, só pra constar, aqui está um (relativamente) breve resumo: ele arrecadou dinheiro em teatros por toda a sua vida, então isso não foi nada novo. Ele não estava forçando as pessoas, ele estava pedindo. Ele não estava alegando ter uma solução de longo prazo, mas propondo um curativo. A partir de agora, ele planeja simplesmente prover uma plataforma para outros falarem, ao invés de necessariamente falar ele mesmo. Ele planeja, em seus dois meses de folga, ver algum trabalho de caridade sendo feito. E, finalmente: ‘’Eu não estava dizendo, ‘Sim, abra as portas para todo mundo, sim, dê-lhes nossos trabalhos e nossas esposas’’, e todo aquele tipo de medo estereotipado do qual o nacionalismo se aproveitou’’.
Finalmente, ele reduz o passo e diz: ”Deus sabe…Não é sobre isso que deveríamos estar conversando’’.
Eu não duvido de sua sinceridade. E, ainda assim, a única coisa que eu realmente quero saber é isso: ele não falou palavrão todos os dias, depois de seu discurso. Então por que naquela noite?
”Acho que é porque eu fiquei tão furioso’’, ele finalmente diz. ”Como muitos pais, durante aquele verão…a foto daquele garoto’’ – o refugiado sírio Alan Kurdi, de três anos de idade, fotografado afogado e carregado pela água até uma praia na Turquia – ”uma praia que podemos reconhecer de fotos de família, de férias que todos nós tiramos…não é sobre privilégio, é sobre uma criança morta numa praia porque ela tentou escapar de uma guerra’’.
A quarta temporada de Sherlock, a série que tornou Cumberbatch famoso a ponto de ser criticado injustificadamente, e que começa no final do ano, está pronta para ser a última. Pelo menos, ele acrescenta, a última por um bom tempo.
”Poderá ser o fim de uma era. Parece o fim de uma era, para ser honesto. Vai para um lugar do qual será muito difícil continuar imediatamente’’.
Ainda assim, ele não está descartando um retorno – mas um daqui a alguns anos.
”Nós nunca dizemos nunca na série. Eu amaria revisitá-la, eu amaria continuar revisitando-a. Eu continuo com essa vontade, mas, num futuro imediato, todos nós temos coisas que queremos fazer e nós criamos uma coisa muito complexa do jeito que está, então eu acho que vamos ter que esperar pra ver. A ideia de nunca interpretá-lo novamente é realmente enervante’’.
Mas, é claro, nem preciso dizer que ele é um grande fã da última temporada que eles fizeram.
”Apenas espere pra ver. É maravilhosa, é muito excitante. Excedeu todo tipo de expectativa sobre como superar o que fizemos antes, e elevou a coisa toda. Só fica melhor e melhor e melhor’’.
Mais do que outras temporadas, ele diz, esta parece mais uma história em três partes – com um vilão que ”chega com tudo’’ no final do primeiro episódio, ”continua pelo segundo e se resolve no final. É absurdo pra ca*****, é tão excitante’’.
É, diz ele, ”uma das melhores obras dramáticas que eu já tive que fazer, algumas das melhores sequências que eu já tiver que gravar’’.
Curiosamente, ele diz que ele nunca pensou que ele daria um bom Sherlock. Sério mesmo?
”Não, eu nunca imaginei que eu daria um bom Sherlock. Não foi minha ideia, sabe o que quero dizer? Talvez eu tenha sido um pouco preguiçoso quanto a isso’’.
Um dos sobejos de filmar no País de Gales, diz ele, foi estar lá na ocasião do voto Brexit. Isso ainda o aborrece.
”Eu estava no País de Gales quando aconteceu. E há tanta pobreza no País de Gales. Há problemas reais. Problemas reais. Sabe, nós costumávamos filmar em Merthyr Tydfil, um dos lugares mais empobrecidos naquele país, e é claro que as pessoas estão furiosas. É claro que as pessoas querem mudanças. O que deixa as pessoas p*tas é o fato de terem sido prometidas mudanças que não acontecerão’’.
Cumberbatch colocou seu nome numa lista de 250 pessoas das artes – incluindo pessoas como Danny Boyle e John le Carré – que apoiaram a permanência na União Europeia. E, problematizado como sempre, foi notícia de primeira página….que ele e Keira Knightley tinham assinado seus nomes também.
“Quero dizer, fala sério, olha para os outros nomes daquela lista. Isso é tão preguiçoso, não é? É apenas quem consegue o maior numero de cliques. Eu acho isso tão frustrante, porque eu tenho opiniões fortes sobre as coisas, e eu quero falar de coisas que importam, e eu tenho que me segurar. Porque isso tão fácil de ser pintado pela direita como ‘blá blá blá, quem é ele? Ele é um hipócrita, ele é um ator, ele recebe um monte de dinheiro, quem é ele pra nos dizer como viver nossas vidas?'”
Ele menciona isso mais de uma vez, então apenas para reiterar: Benedict Cumberbatch não está te dizendo como viver a sua vida.
“Quero dizer, até esses de quem você discorda, eles são espertos pra caramba. Farage é um político incrível, independente do que ele diz. Olha pra todo o sucesso que ele tem. Isso me aterroriza”.
Ele recebe um telefonema em seu celular de Sophie — em uma das imitações perfeitas que ele faz em nossa conversa, neste caso é Borat e, “é a minha esposa!” — e quando ele desliga, fica parecendo que ele levou uma bronca.
“Ai meu Deus. Eu falei sobre política e família, duas coisas que estavam completamente fora de questão!” Ele quase murmura para si mesmo: “completamente fora de questão…”
“É apenas aquele balanço estranho em querer ser apenas a p****a da pessoa que você é e pensando ‘que se fod*, esse é quem eu sou, isso é o que eu penso’. E outra parte de você fica, tem que ter um certo tanto que você precisa segurar”.
Eu digo que eu realmente não acho que ele disse alguma coisa particularmente controversa. Mas aí, com ele, isso provavelmente não importa. Tudo o que ele diz parece ser uma história.
“Toda essa coisa de entrevistas, isso é sobre contexto,” ele diz. “Essa conversa, é tão fácil de alguém colocá-la em um tabloide. E então isso se torna um ponto de vista sem contexto, sem nuance. É tudo sobre narrativa, como nós sabemos nesse tempo pós-factual”
O que é, eu percebo, o ponto por trás de tudo o que nós conversamos: dos refugiados sírios ao Brexit até como os jornais escrevem sobre ele. É a história que está sendo contada.
“As pessoas podem — através das mentiras que existem neste mundo político no momento — serem transformadas em bodes expiatórios. Um grupo todo de pessoas. São tempos genuinamente assustadores, porque os paralelos, os ecos, na história são grandes. Nós estamos chegando naquela etapa onde as pessoas esquecem sobre o genocídio e a destruição da Segunda Guerra Mundial. Nós estamos movendo sobre a geração que sobreviveu aquilo. E há um círculo na história e nós estamos andando neste círculo, e isso é realmente assustador.”
E então, está é a razão por ainda estarmos falando sobre isso, embora ele não queira, porque na verdade ele realmente quer falar sobre isso.
Como ele diz, finalmente: “você tem que enfrentar os seus críticos de vez em quando”.
Ser famoso é uma coisa curiosa, mas, em diversas maneiras, Benedict Cumberbatch pode ser isso. Acumular fama é como acumular ouro: começa como dinheiro, mas acaba se tornando um peso. Ele é muito famoso, claramente, para ter tudo menos a opinião mais comum de todas sobre o mundo ao nosso redor, com pouco ele causa uma polêmica, e depois a inevitável polêmica sobre a outra.
Ele é muito famoso, provavelmente, para ser o Bond agora, embora eu imagino que estar fora da lista para isso — e as perguntas constantes que isso traz — deve ser um grande alívio.“Haha, bem, eu acho que as pessoas estão obcecadas com outras pessoas sendo o Bond no momento, então a pressão não está sobre mim”.
Quando ele interpretou Hamlet, a histeria e o alvoroço eram tão grandes, que o The Times colocou uma crítica na primeira prévia, em um desrespeito flagrado pela etiqueta de escrever críticas de teatro que diz que você tem que esperar até a noite de estreia, porque até então a peça é ainda considerada um trabalho em progresso (a iteração inicial abria com o famoso solilóquio “ser ou não ser”, mas depois ele foi movido para a posição original).
“Isso foi vergonhoso,” diz Cumberbatch. “Literalmente, ela veio com facas na mão. Aparentemente ela tweetou na semana antes que ela não podia aceitar a ideia de ter que ver aquele monte de merda… não monte de merda, mas o fato de que pensou que as pessoas iriam vestidas como Sherlock e gritando Cumberbitches. Ela já estava… sabe, desse jeito antes das cortinas se levantarem na primeira prévia, e então ela fez a crítica da peça…”
Antes de irmos, nós conversamos rapidamente sobre como, agora, ele tenta manter uma semelhança de uma vida normal. Ele disse que alguns dias ele é realmente reconhecível, em outros dias nem tanto, “mas eu não consigo viver minha vida diária em público sem ser reconhecido em algum momento. Ou em todos os momentos, às vezes”.
E ainda assim, ele fará questão de que ele ainda leve seu filho para os balanços e escorregadores, porque o que mais alguém poderia fazer? “Montar seu próprio playground? E eu não quero nunca fazer isso, é uma maneira de ter uma criança emocionalmente afetada, sem sombra de dúvida”
Mas uma outra coisa ficou comigo. Ele mencionou uma experiência de estar em um evento de celebridade — de fato, “eu acho que era um dos seus” — e, quando ele estava para ir embora, Matt Smith estava bem na sua frente, e então toda a mídia passou a seguir Smith, deixando-o felizmente sozinho.
“Foi excelente. Foi a armadilha perfeita. Eu estava tipo “p*ta que pariu, essa é a tempestade que normalmente me segue. Eu fico de boa quanto a isso em alguns dias. E em outros dias é um pouco mais difícil. Porque,” ele adiciona, “não é mais sobre mim”.
Tradução: Aline, Juliana, Gi, Bru