Benedict é capa da edição de abril da revista The Rake, que conta com novos ensaio fotográfico e entrevista exclusivos. Confiram abaixo fotos do ensaio, scans da revista e a tradução completa da matéria:
MAGIA ESTRANHA
Benedict Cumberbatch, uma estrela polar para a masculinidade do século 21, tem o tempo em mente, escreve Tom Chamberlin. Sua mais recente aparição como o super-herói Doutor Estranho em Vingadores: Guerra Infinita, está chegando, e, para celebrar, o ator indicado ao Oscar satisfez sua paixão por relógios através da criação de uma parceria especial com a Jaeger-LeCoultre.
Fotos por Steve Schofield Estilização por Joe Woolfe
“Eu já tinha visto Benedict na televisão britânica e realmente o procurei’’.
Esse não é um excerto de uma conversa que o fundador da The Rake e eu tivemos sobre colocar Benedict Cumberbatch na capa. Apesar do sentimento ser o mesmo, a fonte da citação é Steven Spielberg, ao falar sobre seu processo de escalação para o épico drama ambientado na primeira guerra mundial, Cavalo de Guerra. O filme saiu em 2011, e naquela época Cumberbatch já tinha se estabelecido como o ator incomparável da Grã Bretanha numa carreira abrangendo teatro, televisão, rádio e filme. Dentro de uma trupe de jovens atores britânicos, incluindo Eddie Redmayne e Tom Hiddleston, Cumberbatch sempre teve um fator X que tem mantido sua trajetória mais ou menos vertical desde então. Ele possui a potente mistura de talento extremamente afinado e uma aparência que pode ser elegante, assustadora, misteriosa e até mesmo andrógina (pense em Zoolander 2) – e tudo isso antes de levar em consideração seu melífluo timbre barítono, que contribuiu tanto para suavizar quanto para tornar mais ameaçadores personagens animados. E ele sempre mostrou interesse extracurricular em assuntos como caridade, música e até mesmo escrita de cartas. Então, quando nós descobrimos que Benedict havia mostrado uma pronunciada veia estilosa, na forma da parceria com a giganta da alta relojoaria Jaeger-LeCoultre, aproveitamos a oportunidade para descobrir o que atiça seus ponteiros (perdão).
Até ele emergir como o misantropo favorito de todo mundo, Sherlock Holmes – um personagem que ele diz que ‘’é um papel incrível, tão carregado de profundidade, é icônico’’ – na série da BBC pós- Robert Downey Jr.,que catapultou nosso homem para o estrelato internacional, a carreira de Cumberbatch não era anônima de forma alguma. Ele já tinha feito suas 10.000 horas de várias formas ao lado de atores em similar ascensão como Tom Hardy (Stuart: Uma Vida Revista) e James McAvoy (Garoto Nota 10), bem como numerosas peças no Old Vic, no Almeida e no Royal Court. Em outras palavras, apesar de seu currículo incipiente não ser nenhuma porta para fama, ele estava sempre trabalhando e satisfeito. “Eu sempre tive ambição, eu suponho, eu estava vendo pessoas fazerem um ótimo trabalho em câmeras maiores’’, ele diz. ‘’Eu aprendi muito vendo a carreira do James McAvoy, pensando que ele foi tão inteligente, que ele fez escolhas tão brilhantes, e ele tem um agente maravilhoso que é um ser humano adorável. Eu lembro como seus trampolins simplesmente foram excelentes performances em dramas de TV, como State of Play e Shameless, e então ele começou a conseguir protagonistas. E Garoto Nota 10 teve um dos seus primeiros protagonistas e foi no mesmo ano de O Último Rei da Escócia.
Eu nunca iria me tornar o ídolo que em que ele estava se transformando, eu sabia que seria uma jornada mais longa. Inicialmente, pelo fato de minha mãe e meu pai serem atores, eu prestava atenção em pessoas como (Ian) McKellen e a geração deles, e Patrick Stewart e em como eles haviam construído uma carreira teatral estelar. Eu sempre imaginei que seria bem parecido com a geração dos meus pais – Que eu faria os clássicos, faria teatro por todo país, e ia lentamente construí-la. Eu meio que fiz isso, mas numa versão mais acelerada. Podia ser um teste feito pelo iPhone ou você pode pular para a frente da fila da forma mais espetacular: agora tudo é muito mais fluido, de um jeito muito bom. Gênero e etnia, nós finalmente estamos, embaraçosamente atrasados, chegando à inclusão e diversidade, mas temos um caminho longo pela frente. Eu não trocaria minha jornada por nada. Eu realmente gostei dela’’.
Apesar de não poder evitar ter um rosto reconhecível, Benedict se abstém da vaidade que é requerida para a fomentação de redes sociais com um grande número de seguidores. Ele faz isso com um método simples: ele não tem contas. Ele diz: “Alguém me disse para não fazer –‘Será como entrar numa sala onde pessoas querem casar com você, matá-lo, estuprá-lo, amá-lo’, só os extremos mais violentos. Eu pensei, eu quero conhecer pessoas que são persuadidas ou não pessoalmente ao invés desse tipo de coisa que é tão desconexa. Você é julgado pelo seu trabalho como ator de uma grande distância, o mecanismo do que fazemos requer que a audiência esteja lá e você aqui – e é claro que você quer trazê-las para dentro da história, mas ela é sobre um personagem. Você então é tão examinado quanto seu trabalho. Eu acho que algumas pessoas ficam muito tranquilas e confortáveis com isso e algumas pessoas que, como eu, ficam confortáveis às vezes, sim, às vezes, não’’.
Em novembro de 2016, Cumberbatch estampou a capa da Vanity Fair. Na entrevista, ele se expressou sobre o dilema desse tipo de fama de uma forma bem bonita, se referindo a si mesmo, com nenhum senso de ego, como “o namorado da internet”, como se a internet (aqueles que a utilizam) tivesse algum tipo de controle sobre sua vida, especialmente aquela fora da tela. Isso faz de seu desejo de proteger sua vida familiar e vida privada compreensível. De fato, outros podem querer emular seu sucesso nessa área: No geral, sabemos muito pouco sobre sua vida fora das telas e por que deveríamos? Ele até mesmo chegou ao ponto de não saber exatamente se as pessoas ainda o veem como essa divindade dessa quase-religião: “Sabe, eu não monitoro isso. Eu realmente não tenho tempo ou energia para me importar com esse tipo de negatividade, então eu não deixo ela se aproximar de mim’’.
“Eu acho que há uma crossover no que fazemos como atores, ou em qualquer mídia onde expomos nosso trabalho a julgamento…Você não pode gastar sua energia tentando preconceber o que, ou dar muito peso à percepções ou expectativas, porque então isso vai apenas acorrenta-lo a alguma coisa que não é pessoal ou íntima e colaborativa ou à alguma coisa que você está encaixando no que você acha que será bom ou popular’’.
Cumberbatch apareceu em várias das franquias cult do mundo,incluindo O Hobbit (como o Necromante e, numa aula magna de captura de movimento, como o dragão Smaug) e Star Trek (como Khan). Agora ele é parte do beemote do gênero de ação que é o Universo Cinematográfico Marvel, no qual ele interpreta o feiticeiro Dr. Stephen Strange. Com atores como Downey Jr., Mark Ruffalo, Hiddleston, Paul Bettany e Scarlett Johansson fazendo parte do UCM, o esnobismo direcionado a esse gênero foi ultrapassado há muito tempo, e assim como Harry Potter foi capaz de incluir quase todo luminar da atuação britânica em seus vários filmes, a Marvel também procura o melhor do melhor.
Doutor Estranho, filme de 2016, deveu mais a trabalhos como A Origem do que a seus antecessores no gênero, e o cenário da ação do protagonista mais ao Bruce Lee do que ao Chris Hemsworth. Cumberbatch emulou a mesma construção angular de sua encarnação ilustrada, e o filme, apesar de sua abordagem incomum à rubrica da Marvel, foi um enorme sucesso.
O personagem, um cirurgião sobranceiro, quem Benedict descreve como um “egotista materialista que se perdeu numa prisão muito fria e solitária de sua própria criação”, enfrenta uma mudança dramática de circunstância quando ele perde o uso de suas mãos, as chaves para seu reino, a fonte de seus poderes mortais. O que acontece em sequência é uma enorme alegoria a tudo desde o Sonho Americano até os contos abraâmicos de Gênesis, com um dedo mergulhado no misticismo oriental e no oculto. Esse crisol de metáforas faz a interpretação de Dr. Estranho ser um pouco mais intricada do que outras, o que eu suponho tenha feito de Benedict o homem certo para o papel.
Agora tudo está sendo levado para outro nível com a lista amalgamada de Vingadores: Guerra Infinita, divulgado com a avidez usual para a que é considerada como a série sênior do UCM. Ele atrasou a ‘’revelação’’ da inclusão de Dr. Estranho no filme, talvez porque ele não seja um personagem recorrente ou talvez porque há tantos protagonistas que revelar sua presença aos poucos tenha sido a única solução para uma divulgação equitativa. Qualquer que seja o motivo, agora isso já não é segredo, e Cumberbatch foi capaz de falar um pouco mais sobre seu envolvimento.
Ele diz: “Se todos os personagens principais falassem por três minutos, daria num filme. É acontecimento seguido de acontecimento seguido de acontecimento. Os irmãos Russo (os diretores), que são pessoas fantásticas e agradáveis com quem trabalhar – fiquei chocado com como eles conseguiram conciliar tanta coisa. Não é segredo que muitas das minhas cenas são com o Robert Downey Jr., e essa experiência foi fantástica, ele é um ótimo líder. Eu me diverti muito graças a ele”. Parece que, considerando o Sr. Downey, o sentimento é mútuo. Robert conta à The Rake: “Eu me lembro de ter visto Doutor Estranho e pensado ‘Certo, é assim que você faz a história de origem mais excêntrica do grupo’. É o charme (do Cumberbatch),e uma quantidade do cacete de técnica, que se fundem num super-herói mágico porém focado que, adiante, recebe a tarefa ainda maior de conhecer o futuro, e ela será um fardo pesado. Então, no ambiente do UCM, Benedict basicamente é o “guardião de spoilers’’, e não há homem melhor para o trabalho. Além disso, trabalhar com ele é o máximo, simplesmente revigorante. Eu literalmente o adoro’’.
Quanto ao aspecto demasiadamente colaborativo, Benedict diz: “Você só pensa ‘ok, não serei capaz de desenvolver meu personagem, estou servindo uma função aqui para concluir algumas dessas narrativas extraordinárias que abrangeram 10 anos’, e isso é bem incrível. Você esta olhando para 10 anos na vida das pessoas. Todos eles têm bebes ou casamentos bem como esse legado de filmes. Tom Holland (quem interpreta o Homem-Aranha) e eu chegamos bem tarde a essa festa, e estamos tremendo um pouco. Eu digo pra ele ‘isso é jet lag?’’, e ele diz ‘Não, é que é muito emocionante’. Não sou um homem ligado em números, mas quando você olha para o orçamento total, para as pessoas, o talento, o tempo, é chocante e incrível. Então fico muito feliz em ser uma pequena engrenagem numa parte muito maravilhosa de um empreendimento grande’’.
Seu papel como Dr. Estranho ajuda a manter sua ligação emocional à Jaeger-LeCoultre, a marca suíça de relógios responsável por ícones como o Reverso e o Polaris, que podem ser vistos nas fotografias dessas páginas. Começou como um tropo do personagem, mas logo o interesse do Benedict em relógios assumiu o controle. Em relação ao personagem, ele diz: “A razão pela qual essa marca se sobressaiu para mim, é que foi uma escolha que eu fiz, com base na estética, para o Doutor Estranho, um homem que está preso numa gaiola de ouro e tem uma gaveta inteira de relógios rodando para manterem a hora correta. Um homem que é incrivelmente, inextricavelmente ligado ao tempo e a todos os seus vastos temas. Seja o tempo que leva para realizar uma operação com o grande cuidado e precisão e fidelidade que você precisa ter como neurocirurgião; seja no que ele então se torna, como mestre das artes místicas, no sentido de que ele é o guardião da joia do tempo, o que vai continuar sendo importante nesses próximos episódios de suas aparições em Vingadores. Mas o relógio mais importante para ele é o que lhe foi dado por alguém com quem ele se importava muito mais do que com qualquer outra pessoa (Christine), e no sentido de que o amor é mais profundo do que uma conquista ou uma noite de sexo, então ele tinha uma ligação muito sentimental, e eu gostei muito do encanto da história da Jaeger-LeCoultre’’.
Considerando a trajetória de sua carreira, que confronta tudo desde Shakespeare a personagens literários complicados, não é surpreendente saber que Benedict tem a tendência de filosofar sobre seus papéis, e ele tem uma opinião fascinante sobre seu personagem, a metáfora desse relógio (que aconteceu de ser o Jaeger-LeCoultre Master Ultra Thin Perpetual), e a ideia de valor ser mais importante do que preço: “E então, no final, enquanto o relógio está quebrado em Catmandu, e ele está procurando uma resposta para suas mãos de cirurgião traumatizadas, arruinadas, ele guarda o relógio. Uma das ultimas cenas do filme é dele olhando para o relógio e o colocando de volta no pulso e o relógio está quebrado, mas o tempo perdeu o conceito que temos dele por ser legível num relógio de pulso – se tornou absolutamente expansivo. Então, o fato de que ele está quebrado é muito metafórico…a quebra do tempo que ele experimentou e pode manipular, e como um artefato que ele ainda guarda por causa de sua beleza. Apesar de estar arruinado, não está arruinado para ele, assim como seu significado para ele, é um presente da mulher que ele ama e a única coisa que o liga à sua vida antiga, que o faz lembrar que, por estar quebrado, nunca será o mesmo de novo, assim como suas mãos’’.
Esta abordagem transcende sua própria abordagem da vida e trabalho, e afeta as pessoas com quem ele trabalha. Chiwetel Ejiofor, colega indicado ao Oscar e co-astro em 12 Anos de Escravidão e Doutor Estranho, disse à The Rake: “Benedict aplica uma abordagem maravilhosamente analítica em seu trabalho, e não parece associado com estresse ou pensar demais. Parece bem Zen, uma inteligência sem pressa. Faz trabalhar com ele uma experiência estranhamente calmante. É divertido.
“Não é exatamente surpreendente, porque alguns dos personagens que ele interpreta têm essa aura, mas é interessante que essa abordagem dá a seus personagens uma força interior e profundidade, um sentido de estar completamente enraizado e inteiramente incorruptível. Ele é um ator fabuloso e uma alegria com quem trabalhar.”
Quanto a sua jornada pessoas com a Jaeger-LeCoultre, Cumberbatch diz: “Eu tenho uma apreciação por relógios. Não em um sentido obsessivo, eu gosto do que vejo quando vejo, e adoro a ideia de relógios existirem depois da função imediata de dar as horas — ser artefatos e heranças, um peso especial que o fim luxuoso dos relógios está carregando. Eu adoro a profundidade da experiência e design das grandes maisons, e esta [Jaeger-LeCoultre] está bem ali.”
O que é gratificante em falar com Benedict é que ele exibe interesse sincero na parceria e nas pessoas que trabalham para as marcas a quem ele empresta seu nome. Ele fez um passeio na fábrica da Jaeger-LeCoultre com sua esposa, Sophie Hunter, para tentar entender cada aspecto do processo de manufatura. Ele diz: “Eu não podia apenas ficar lá feito um modelo, a menos que eu conheça o que acontece ao se fazê-los. Porque é isso que sempre me fascinou.” Seu interesse no ofício remonta a muitos anos: “Eu lembro que o primeiro mecanismo que eu realmente entendi foi um velho relógio Fogg que achei em um mercado, muito tempo atrás. Acho que foram férias na França, e eu tinha essa fantasia que eu tinha aprendido o ofício da relojoaria — eu adorava construir coisas, eu tinha um carro de controle remoto. E foi nessa era, de separar as coisas e juntá-las novamente, apenas entendendo como elas funcionam. Visitar a fábrica de relógios foi extraordinário. Sophie e eu fomos e ficamos espantados — não apenas com a herança e habilidade, mas também a longevidade das pessoas em suas posições, que tinham trabalhado lá durante sua vida inteira. E vejo as possibilidades deslumbrantes da tecnologia, mas também adoro o relacionamento tátil com objetos antigos.”
Não é muito esforço ligar o milagre incompreensível que é a produção do relógio mecânico ao ofício de um homem desenvolvendo um personagem através do qual ele se torna invisível ao público e se torna outra pessoa. Quando eu coloco essa ideia a ele, sua resposta é agradável e humilde. Ele diz: “Eu fico mais orgulhoso do que eu faço quando conseguimos chamar de ofício. Quando nós temos o ambiente tributário, os desafios, a elasticidade pela qual todos nós rezamos, e alguns de nós são sortudos o bastante para que nos peçam para fazer. Então você pode honestamente chamar de ofício, não apenas vestir um casaco comprido, ou falar rápido, ou usar um manto. É parte do diálogo. Então foi importante para mim o que era o que eu tivesse no meu pulso. O ethos todo da feira de relógios [SIHH em Janeiro] foi entender a habilidade e as pessoas trabalhando nas complicações que tinham… fabricadores de correias, eles tinham diagramas e partes técnicas, e outras áreas da indústria, e como tudo funciona entre os saltos de engenharia e a conexão entre a coisinha que usamos no nosso pulso. Estar tão perto disso, ver alguém operar em uma escala tão pequena, tão delicada, e a engenharia? Fenomenal.”
O relógio que ele está usando na capa é o novo Polaris da Jaeger-LeCoultre, um relógio esportivo masculino que cruza a funções formal e esportiva de uma maneira que o deixa inexoravelmente relevante ao jeito que os homens se vestem hoje. O movimento interno e a inspiração do Polaris Memovox de 1968 dão a ele a autenticidade que é sinônimo da marca.
Uma coisa é clara, de observação e da mais rudimentar pesquisa, Benedict Cumberbatch descobriu como explorar seu bom nome e notoriedade para ajudar aos outros. Ele socorreu causas incluindo o Prince’s Trust, o NSPCC [Sociedade Nacional para a Prevenção da Crueldade contra Crianças na sigla em inglês], saúde mental, a promoção da escrita de cartas, e a conscientização da pobreza global. Ele diz: “Meus pais foram muito bebês da geração da guerra, e eu cresci fascinado com aquela era inteira. Eu acho que parte disso é perceber que embora não tenhamos passado por uma guerra nessa escala que esteja próxima de casa, somos incrivelmente sortudos de ter uma democracia, embora rangente e vulnerável à corrupção. Nós temos um estado de bem-estar, embora várias entidades estão tentando silenciosamente privatizá-la, e não tão silenciosamente em lugares. Nós temos um sistema de educação. Ainda somos incrivelmente afortunados, e por último, se você tivesse meu número da loteria, crescer na família amorosa em que cresci, que me bancou essa educação, que era cara e elitista… Eles lutaram para pagar as taxas. Eu estava muito ciente do quão privilegiado e sortudo eu era.
“Então quer seja trabalhando duro para cumprir a promessa de muita confiança em mim com oportunidades que vêm em minha direção, ou quer seja socialmente, é para dizer, ‘Olha, vocês estão olhando pata mim, mas posso colocar esse foco naquilo que é realmente importante?’ É o trabalho de um ator fazer isso? Não necessariamente, mas acho que ninguém te ensina a fazer essas coisas. É muito difícil não achar inimigos muito rápido. É enfurecedor. Ator branco, privilegiado de classe média e meia idade. Quem sou eu para tentar dizer às pessoas como viver a vida delas, quem sou eu para dizer às pessoas o que é certo ou errado? Estive aprendendo silenciosamente a usar meu perfil para provocar a conversa em direção a pessoas que realmente sabem do que estão falando que ficam chocadas em ação ao ver injustiça. Me sinto mais confortável em fazer isso e ceder a responsabilidade, já que sei que não posso cumprir esse nível. Quer seja um assistente social, um jornalista, um correspondente de transmissão, um político, um civil ou o que for. Se eu tiver tempo colocarei meu nome em algo e agir sobre isso.
“A GQ me chamou de ‘ator controverso’, e fiquei tipo, Eu sou? Acho que não sou. Não diria que sou conservador, não sou um comunista ou revolucionário. Mas mesmo se eu fosse, não passaria uma representação disso. Também, toda essa complexidade de lado, eu tenho pele mais grossa agora. Pessoas melhores do que eu têm sido criticadas por fazer atos similares, e enquanto eu posso erguer minha cabeça e dizer que por vezes meus métodos foram errados, eu [estou feliz em] aceitar as críticas se alguma coisa foi alcançada por eu fazer isso. É paste disto.”
Ao se referenciar as recentes alegações de exploração sexual na Oxfam, Benedict diz que, “é uma hora interessante no setor da caridade, ou qualquer setor, no momento, por causa da negligência. É devastador o que esteve acontecendo. Graças a Deus é conhecido agora, mas o custo disso é enorme, e não são apenas os sobreviventes que têm que carregar com esse custo, vão ser as pessoas cujas instituições como a Oxfam ajudam mesmo. Achar compaixão é uma luta constante neste setor, e acho que as pessoas podem pensar duas vezes antes de doar para instituições de caridade. As pessoas que realmente vão sofrer não são aquelas que foram corretamente criticadas por negligência ou com sorte processadas, julgadas e sentenciadas por negligência — é imundo. São as pessoas inocentes que vão sofrer.”
A seguir Para Cumberbatch está outro papel homônimo, Patrick Melrose, da Sky Atlantic/Showtime. Considerando a era #MeToo pós Operação Yewtree em que vivemos, uma encarnação de um personagem que sofreu abuso sexual violento por alguém em posição de confiança (neste caso, seu pai), e as ramificações disso durante a vida adulta — isto é, a injeção de cocaína e o abuso de álcool — não poderia ser mais sensato. Patrick Melrose segue uma fórmula similar ao filme pelo qual Cumberbatch recebeu sua primeira indicação ao Oscar, O Jogo da Imitação, no qual o jovem Alan Turing foi interpretado pelo brilhante Alex Lawther, sobre quem Benedict diz: “Jamais teria funcionado sem ele. Se eu tivesse ido a um pódio para agradecer alguém, teria agradecido Alex, porque o que ele fez faz você entender quem estou interpretando.” Na mesma veia, nós vemos o jovem Melrose e o abuso cometido por seu apavorante pai, interpretado por Hugo Weaving. O que combina com os esforços valorosos do Melrose mais velho, dobrando seu vício e partindo em uma jornada que, para manter as coisas livres de spoiler, procura alcançar o que Benedict descreve como “a salvação de algum tipo de normalidade”.
Ele diz dos romances de Melrose, escritos por Edward St. Aubyn, que “são conquistas singulares na literatura inglesa moderna. São prosa extraordinariamente lindas e ágeis e um ato de equilíbrio do tom e humor que é tão inteligente e seco como qualquer coisa que Waugh, Wilde ou Wodehouse já tenham escrito, mas com essa sub-corrente muito sombria de abuso e vício e recuperação.”
Para onde quer que este conto nos leve, o que sabemos é que Benedict Cumberbatch tem um hábito de levar a audiência, não importa quão perturbador o material, em uma jornada que é tão cativante quanto é emocionalmente indelével. Assim como a história de Alan Turing deixou uma sensação de desconforto com como nós tratamos a comunidade LGBT muitas décadas atrás, talvez está história tópica, que é relevante ao clima sociológico atual, desafiará sua audiência em outro nível. Tanto é o ofício deste ator. Assim como o Jaeger-LeCoultre que ele usa no pulso, as performances de Cumberbatch permanecem, e quando nós procuramos causa maior para esperança em nosso presente nebuloso, talvez, se estiver lendo isto, não precisa procurar mais.
Tradução: Gi e Aline