Após muitos contratempos, finalmente as coisas parecem estar dando certo para A Batalha das Correntes (The Current War). Em entrevista para o site Deadline Hollywood, o diretor Alfonso Gomez-Rejon falou sobre o processo tortuoso de lançamento do filme, que começou bem antes do escândalo envolvendo o execrável ex-produtor Harvey Weinstein e só piorou com ele. Confiram abaixo a tradução:
Exclusivo: Marginalizado por uma versão apressada para o Festival de Cinema de Toronto semanas antes do banimento de Harvey Weinstein e da implosão da Weinstein Company, A Batalha das Correntes, de Alfonso Gomez-Rejon, tem uma nova versão e o tipo de segunda chance que a maioria dos filmes de festival prematuramente lançados nunca recebem. O arrivista 101 Studios fechou um acordo para direitos de distribuição doméstica e fará de A Batalha das Correntes seu primeiro lançamento teatral substancial, visando agosto. Esse distribuidor, que pagou por volta de US$ 3 milhões, fez um compromisso de lançamento amplo, depois que Gomez-Rejon os apresentou com um filme revisado que acrescentou cenas e ainda ficou bons dez minutos mais curto do que aquela lançada dois festivais de Toronto atrás.
O diretor teve a chance de fazer sua própria versão por causa de uma quebra inesperada de sorte: uma última permissão contratual pelo diretor executivo Martin Scorcese não tinha sido executada, o que legalmente impedia os novos donos da TWC – a Lantern Entertainment – de determinar um lançamento rápido no exterior com uma versão que o diretor não gostou. O filme estrela Benedict Cumberbatch como Thomas Edison, Michael Shannon como George Westinghouse e Nicholas Hoult como Nikola Tesla. O drama é a batalha enfurecida para iluminar a Feira Mundial de Chicago e trazer energia elétrica para a América.
Tirando uma pausa das filmagens de The Hunt – uma série dramática da Amazon sobre caçadores de nazistas que estrela Logan Lerman e Al Pacino – Gomez-Rejon disse à Deadline que ficou exultante sobre um filme que há mais de um ano o levou às profundezas do desespero por causa de uma versão apressada e longa demais que soa como se tivesse sido imposta a ele por Harvey Weinstein. Ele foi devastado por um sentimento desamparado de que tinha perdido a chance de conseguir sucesso com o tipo de narrativa você-está-lá-em-um-momento-divisor-de-átomo que impulsionou filmes como A Rede Social e O Jogo da Imitação. E depois, de repente, um conjunto de circunstâncias aparentemente impossíveis deram ao diretor sua segunda chance.
“Eu tinha chegado ao ponto onde percebi que era provável que eu teria que fazer as pazes com ter um filme lançado com meu nome nele que não era eu”, Gomez-Rejon disse à Deadline. “Mas nós nunca desistimos, nem Timur Bekmambetov, nem Basil Iwanyk e nem meus representantes da WME Mike Simpson, Roger Green e Chris Donnelly na LBI. Eles empreenderam uma luta para pegá-lo de volta para que eu pudesse dar a ele a forma e o tom que eu sempre quis. Houve vezes que esse filme me despedaçou por tanto tempo que às vezes eu não conseguia ver a luz”.
A estrada tortuosa de A Batalha das Correntes começou quando Timur Bekmambetov desencadeou um roteiro da Black List por Michael Mitnick. Bekmambetov tinha mais do que um interesse passageiro no assunto. Seu pai foi um engenheiro elétrico no Cazaquistão na União Soviética, e o filho estudou para seguir seus passos antes de desviar para o cinema. Bekmambetov tinha achado que o filme era sobe o gênio da engenharia elétrica sérvio Tesla. “Nunca consegui uma entrada, e quando li isso percebi que Tesla não era o herói, porque ele foi um pouco trapaceiro”, ele disse. “Edison foi o grande personagem aqui”.
Ele fez um acordo com a Weinstein Company e tentou persuadir Gomez-Rejon a dirigir. Um protegido de Scorcese, Gomez-Rejon pediu ao diretor que o apoiasse em um papel de padrinho, algo que foi uma reflexão posterior quando o acordo foi feito. O elenco estelar se reuniu rapidamente, o filme foi feito por um orçamento razoável em Londres. Então o jovem cineasta caiu na toca do coelho proverbial quando a determinação de Harvey Weinstein de chegar ao Festival de Cinema de Toronto – onde ele tinha tido tanto sucesso com prêmios com filmes como O Discurso do Rei – levou a uma pós produção apressada e agenda de edição que acelerou o final de um filme que não estava pronto. Embora ele o manteve em segredo de todos os envolvidos, Weinstein certamente teria sabido quando os repórteres do NYT [New York Times] e The New Yorker estavam pressionando com força com revelações iminentes de décadas de alegações de assédio e abuso sexual. Quer ele tenha sido distraído por isso, ou compelido a correr porque ele sabia o que estava chegando – ele também estreou uma primeira versão de Amigos Para Sempre naquele festival – provou ser um erro, apressar o filme.
Ele foi aceito em Toronto com base numa versão rudimentar, então veio a correria para terminá-lo a tempo. Eu sabia no meu coração – e cada fibra do meu corpo estava falando – que ele não estava pronto. Eu estava me afundando em recomendações, a ponto de gastar mais tempo com elas do que editando o filme. Elas chegaram de Londres, depois outras chegaram de Nova York. Nós apressamos a mixagem, a Substituição Automática de Diálogos, o som. Você chega sabendo [da reputação de Harvey Weinstein de refazer as montagens dos filmes]. As pessoas me alertaram para eu ter cuidado e eu estava decidido a não ser mais uma casualidade, até que vi a montagem [de Toronto] e me senti um idiota. Eu fui sem medo, e então repentinamente você se dá conta de que é uma casualidade, uma nota de rodapé”.
E então chegou o dia da estreia. Eu vi o filme lá e lembro que Weinstein me falou no cinema que ele tinha cometido um erro ao apressá-lo e em não ter feito o filme ser dez minutos mais curto. Gomez- Rejon também estava lá, e disse que ele podia se sentir morrendo pode dentro enquanto observava a inquietação do público educado de Toronto. Enquanto ele assistia ao filme, ele repetia em sua cabeça todas as cenas que havia sido forçado a cortar na pré-produção, ou que perdeu durante a montagem, que teriam feito a intensidade da rivalidade entre Edison e Westinghouse ser crível. Ao invés disso, na versão de Toronto, o Edison de Cumberbatch ficou parecendo um narcisista e o Westinghouse de Shannon ficou parecendo um cavalheiro refinado demais para entrar na briga. Até que, finalmente, Edison insinuou que as inovações da CA de Westinghouse eram perigosas, ressaltando o potencial para acidentes fatais durante uma dramática apresentação pública. Depois disso, Westinghouse liberou uma correspondência mostrando que o hipócrita do Edison serviu como conselheiro técnico no desenvolvimento da cadeira elétrica, isso após Edison proclamar que, ao contrário de seu rival, ele nunca usaria o poder elétrico para machucar um ser humano.
“Eu não sabia o que era o fim do poço até aquele momento”, o diretor disse. “Eu fui completamente destroçado por uma exibição para a qual eu sabia que não estava preparado”. Na verdade, o fim do túnel chegou pouco tempo depois, quando Gomez-Rejon disse que Weinstein enviou para ele uma nova montagem pós-Toronto, o que foi desmoralizante, pois o diretor pensava que, com o lançamento marcado para o Dia de Ação de Graças, ele pelo menos teria tempo para fazer alguns ajustes. “Eu mal conseguia olha para ele, mas tive que fazê-lo. Deu para ver as batalhas que eu ganhei e tudo que eu perdi nas negociações para manter momentos do qual sentia orgulho”, ele disse. “E deu pra eu notar que havia muitas negociações e acordos na tela. Pareceu errado, e eu me vi ponderando se esse era o filme que eu passaria minha carreira inteira justificando, porque a história tinha tanto potencial”.
Ele disse que praticamente podia ouvir o processo mental dos críticos lá, que “estava preparado para todos os trocadilhos com eletricidade em críticas que iam rejeitar o filme. E então eu voltei para L.A. e fui presenteado com uma nova montagem que o Harvey fez, foi como ser chutado enquanto estava desmaiado no chão. E então a produtora implodiu e não havia mais Harvey”.
Isso, e a consequente falência, acabaram sendo a salvação do filme, entre outras coisas afortunadas que aconteceram. Primeiro, Bekmambetov, cuja produtora Bazelevs financia regularmente seus filmes e tinha a distribuição russa deste aqui, ficou sabendo que a Lantern – que emergiu com os bens da TWC segundo o Capítulo 11 das normas de falência – estava se preparando para cortar gastos. Bekmambetov recebeu uma carta autorizando-o a lançar o filme naquela última versão no exterior.
“O filme estava parado no tempo, e eu me vi sonhando com ser capaz de apresentar a minha visão de como consertá-lo a seus novos donos; sobre as cenas que foram cortadas na pré-produção que teriam explicado tanto”, ele disse. “O encontro nunca aconteceu, e nós lemos na imprensa especializada sobre o iminente lançamento internacional do filme. Eu fiquei confuso e me senti impotente, mas ainda havia uma chance e eu não podia abrir mão dela”.
Então, Scorsese bloqueou o lançamento.
Gomez-Rejon cresceu em Laredo, uma cidade na fronteira do Texas, e os primeiros filmes de Scorsese construíram sua determinação em tornar-se um diretor. “Eu era obcecado por seus filmes quando criança, assistia a eles várias e várias vezes no vídeo cassete, e me inscrevi na NYU porque ele estudou lá”, Gomez-Rejon disse. “Eu fiz estágio em seu escritório e tive a chance de ser seu assistente durante Cassino e escrevi um comercial da Chanel que ele dirigiu, e ele sempre foi uma pessoa importante na minha vida. Ele entrou como produtor só para me apoiar, caso as coisas ficassem difíceis no meio do caminho. E aí elas ficaram não apenas feias, mas surreais. Ninguém esperava que isso acontecesse com a The Weinstein Company, e do jeito que tudo aconteceu, Marty nunca teve a oportunidade de dar sua opinião sobre a montagem. Eu tinha a versão final, mas ela era condicionada. Mas, o contrato dizia que se eu perdesse minha versão final e uma nova versão fosse criada sem meu consentimento, ele teria que dar permissão. Não havia chance disso acontecer”.
Isso impediu legalmente a Lantern de lançar o filme no exterior e coletar os lucros de um dos vários bens encruados da TWC. Gomez-Rejon disse que a Lantern desde então tem sido prestativa e solícita, após os agentes do diretor brigarem pelo xeque-mate de Scorsese.
“Marty chamou de milagre, uma coisa que simplesmente nunca acontece”, Gomez-Rejon disse.
Bekmambetov providenciou o dinheiro para que Gomez-Rejon consertasse o filme. Apesar de ter tido apenas um dia numa casa de fazenda inglesa, todas as estrelas compareceram, e o diretor sabia tudo que ele queria regravar e conseguiu fazer tudo rapidamente.
Simultaneamente, o 101 comprometeu-se a negociar uma dívida com um banco, o que se tornou parte do acordo doméstico do 101.
“Teria sido fácil seguir em frente, mas teria sido com aquele sentimento persistente de que se eu não tivesse passado todo meu tempo dando atenção a recomendações vindas de várias partes (antes de Toronto), eu teria chegado perto de fazer o filme que eu queria fazer. E então eu recebi a ligação dos meus representantes”, ele disse. “O filme ia voltar pra mim e eu tinha de seis a oito semanas e a chance de gravar um dia extra. Eu nunca estive tão preparado para alguma coisa na minha vida. Muitos atores precisavam estar lá num sábado em dezembro e todos compareceram. Nós tivemos uma casa de fazenda, e um quarto foi o escritório do Tesla, outro foi o quarto do Edison e por aí vai”. Ele também acrescentou uma nova trilha sonora composta por Danny Bensi e Saunder Jurriaans, e incorporou sugestões de Scorsese e Timur que foram prestativos e não o deixaram com a sensação de ter sido pressionado.
A diferença entre a versão de Toronto e a de agora?
“Tudo que estava faltando está lá agora, incluindo o ritmo certo que intensifica a tensão entre esses dois homens”, Gomez-Rejon disse. “O coração do filme está restaurado: o relacionamento de Edison com sua esposa, a explicação da doença fatal que a afligiu e como isso o afetou. Você sente a perda dela profundamente, e esta o acompanha enquanto ele vai para o lado sombrio sem ela estar lá para humanizar sua ambição. Westinghouse foi humanizado sem virar um santo, e agora há camadas e performances complicadas, de forma que ao invés das emoções serem forçadas em você, todas são conquistadas. A música aumenta as tensões de da guerra. Há novas cenas com Tesla, que nunca foi um personagem principal, mas agora você vê sua genialidade e sua vulnerabilidade. Ele não parece esquecido neste filme, e ele dá coração e clareza para o conflito entre esses dois homens e para o quê os leva para lugares tão sombrios”.
Agora caberá aos críticos e ao público dar uma nova chance ao filme. Isso certamente aconteceu com Amigos para Sempre, que se tornou um sucesso, mesmo após o New York Times tê-lo chamado de ”fracasso” meses antes de sua estreia nos cinemas.
“O estilo do filme está muito diferente, mais provocativo e visceral e mais parecido com A Rede Social no que diz respeito ao tom energético, contemporâneo”, Bekmambetov disse. “Deus abençoe o 101, que lançará nos cinemas o filme que o Alfonso queria fazer”.
A Endeavor Content negociou o acordo com o 101 Studios.
Fonte | Tradução: Aline e Gi
O The Hollywood Reporter acabou de anunciar que o filme será lançado nos Estados Unidos em outubro!
Primeiro, o longa chegará a cinemas selecionados no dia 4, para então expandir para mais salas na semana seguinte, no dia 11.
Ficamos na expectativa pelo lançamento no Brasil!