Por Lucy Parford
Ele acabou de anunciar que sua esposa, Sophie Hunter, está esperando o segundo filho deles, mas Benedict Cumberbatch não fala muito além disso sobre sua vida pessoal – exceto para dizer que a paternidade a mudou para melhor.
”Ela acrescenta – nunca tira”, diz o ator de 40 anos de idade, que se tornou pai pela primeira vez no ano passado, com o nascimento de seu filho, Christopher.
”Muitas pessoas, principalmente as mulheres, escutam ”Oh sabe, vai afetar demais sua carreira”, e afeta, mas para melhor, na maioria dos casos que eu conheço.
”Eu estou numa posição muito privilegiada na minha carreira”, ele reconhece, ”mas eu acho que todas as pessoas- ainda que estejam passando por um momento complicado em suas vidas – extraem força de seus filhos. Eles são uma inspiração, não um obstáculo”.
Juntando-se a mim de manhã cedo, Cumberbatch – vestindo um simples casaco azul-escuro e jeans – oscila entre charmoso e impaciente, começando a conversa com uma desculpa para quebrar o gelo (”Sinto muito se eu estou com cheiro de café da manhã”), antes de passar batido pelas delicadezas (”Não temos muito tempo”).
Ele é um homem ocupado e nós sabemos disso. O filho dos atores Timothy Carlton e Wanda Ventham, que moram nos Cotswolds, a estrela nascida em Londres treinou na Acadêmia de Música e Arte Dramática de Londres, obtendo um mestrado em atuação clássica antes de levar sua carreira para o teatro, primeiro, e depois para a TV e para o cinema.
Ele ganhou uma legião de fãs graças a sua interpretação nomeada ao Oscar do codificador Alan Turing no aclamado filme de 2014, O Jogo da Imitação, e como o Sherlock na amada série da BBC que trouxe o personagem para os dias atuais, da qual partes foram filmadas no antigo restaurante Daffodil em Cheltenham e na Catedral de Gloucester.
Ele se lembra de quando foi mantido como refém por sequestradores armados enquanto filmava Até os Confins do Mundo,uma minissérie de 2005, na África do Sul, sobre o que ele falou de forma comovente para a mídia: ”Isso me ensinou que você sai desse mundo da mesma forma que você chega, sozinho. Fez-me querer viver uma vida um tanto menos comum”.
Ele certamente levou isso a sério. ”Eu comecei nesta profissão com dois pais para admirar, que tiveram carreiras de sucesso, que tiveram o respeito de seus colegas e que se divertiram fazendo um trabalho que, como você sabe, pode ser difícil para a vida familiar, às vezes, por causa dos compromissos, por ser itinerante e por causa das horas estranhas de trabalho que temos, assim como por poder ser em qualquer lugar”, ele começa.
”Eu vi tudo isso e pensei, ‘se eu fizer metade do trabalho bom que ele estão fazendo, então vou ficar bem”’. E as coisas meio que viraram uma bola de neve.”Mas os padrões deles são os padrões que eu queria alcançar quando eu comecei”, ele acrescenta.
Entretanto, seus pais tinham outras ideias no começo.
”Eles são incrivelmente solidários e não é que eles não tenham sido no começo, eles simplesmente queriam uma coisa diferente e melhor, como muitos pais querem para seus filhos”, Benedict explica. ”E eu tinha visto todas as coisas boas, mas também tinha visto as coisas ruins. Eu sabia que não seria necessariamente o mesmo, mas estava muito ciente do mundo em que eu estava entrando”.
”Eles queriam que eu fizesse uma coisa um pouco mais adulta, como ser um advogado ou um médico ou um professor”, ele elabora. ”Eu acho que o direito foi a coisa que mais me interessou por um tempo. Aí, eu fui descobrindo, quanto mais eu pesquisava sobre isso, que era tão precário como atuar.
“Você só é tão bom quanto seu último caso, é uma forma de performance é claro, e é tão sobrescrita como uma profissão também — tantas brilhantes, brilhantes pessoas não recebendo empregos — então por que não perseguir o primeiro sonho e absorver os socos? Então eu o fiz.”
E seu último ataque vem na forma do nocaute de Hollywood, Doutor Estranho. A última das adaptações de grande escala da Marvel Studios conta a história do neurocirurgião mundialmente famoso Dr. Stephen Strange (Cumberbatch), o Mestre das Artes Místicas, que fez sua primeira aparição nos quadrinhos da Marvel em 1963 — e cuja vida vira de ponta-cabeça quando um terrível acidente de carro o rouba do uso de suas mãos.
Quando a medicina tradicional falha com ele, ele é forçado a procurar pela cura, e espera em um lugar improvável — um enclave misterioso conhecido como Kamar-Taj. Ele aprende rapidamente que este não é apenas um centro para cura, mas também a linha de frente de uma batalha contra forças obscuras não vistas inclinadas a destruir nossa realidade.
“Sherlock Holmes é um pouco de super-herói de uma maneira, não é?” diz Benedict, em resposta àqueles que questionaram sua adequação para o épico alucinante do diretor Scott Derrickson.
“No que diz respeito a atores que a Marvel usa, se você pensar em qualquer um de Anthony Hopkins, e depois em outras franquias, Patrick Stewart… nós somos atores, fazemos nossos trabalhos, e isso tem um apelo porque é tão totalmente diferente.
“É um filme enorme e isso tem um atrativo. Mas também se trata da ideia de ser um herói de ação, aprender kung fu e movimentos de acrobacia, transformação no meu corpo e na minha voz, e interpretar algo que não interpretei antes, como um herói americano.
“É um passeio fantástico para um ator ir.”
Tendo passado um tempo ensinando inglês como um voluntário em um monastério budista perto de Darjeeling quando tinha 19 anos, ele diz que sempre teve um interesse em tópicos como a combinação da ciência ocidental e o misticismo oriental, que se revela em Doutor Estranho.
Ele insiste que seus movimentos na carreira são todos pensados, porém.
“Trata-se de dar a mim mesmo uma surpresa ou fazer alguma coisa que não fiz, ou que é diferente em algum grau, se não uma virada em U completa,” ele explica firmemente. “Quanto mais velho eu fico, mais se trata das pessoas com quem quero trabalhar, especialmente diretores.
“Eu tenho minha própria companhia produtora, então estou interessado em fazer cinema que eu gostaria de ver, tanto quanto de estar. Não se trata só de mim,” acrescenta a estrela, que fundou a companhia produtora SunnyMarch em 2013, junto com Adam Ackland, Patrick Monroe, Ben Dillon e Adam Selves.
Quanto ao que ele vai fazer a seguir — “nós nunca dizemos ‘nunca’ em Sherlock” — ele é rápido em fazer sua escape quando o assunto do Doutor Estranho se juntar ao muito promovido Vingadores: Guerra Infinita surge.
Mas com o Universo Marvel cinematográfico vem o grande grupo de fãs — então ele achou paz com o lado do trabalho com o qual ele admitiu abertamente lutar no passado: fama?
“Você vai em frente,” Benedict oferece, pronto para se desenraizar de sua cadeira. “Estou emocionado de estar fazendo o trabalho que estou fazendo, e depois você lida com as consequências.”
Tradução: Gi e Aline | Fonte