O site de notícias NZ Herald da Nova Zelândia publicou uma entrevista com Benedict em que ele fala da vida, de multiverso e de Doutor Estranho. Confira a tradução!
Por: Karl Puschmann
Espera-se que falemos do novo filme de super-herói da Marvel, Doutor Estranho, mas, ao invés disso, estou discutindo descobertas espirituais na Índia com a estrela, Benedict Cumberbatch, e os planos metafísicos de existência com o diretor do filme, Scott Derrickson.
Fãs dos quadrinhos provavelmente não estão surpresos por Doutor Estranho abraçar conceitos extravagantes e doidos, como o de incontáveis dimensões que ficam dentro de multiversos paralelos, misturar misticismo oriental com religião ocidental e combinar essas ideias com uma arte surrealista e mergulhada em um psicodelismo que vira a realidade de cabeça pra baixo.
Doutor Estranho….é um pouco doido, cara.
”Desde quando eu consigo me lembrar, eu tenho uma percepção ou uma consciência da espiritualidade e uma convicção de que o mundo material não é a única coisa. Não é nem a coisa principal’’, Derrickson, que cresceu amando os quadrinhos, me conta. ”Doutor Estranho representou uma coisa mais próxima do que o mundo parecia ser pra mim do que outros quadrinhos mais sisudos. Eu era uma criança estranha’’.
Sua percepção do desconhecido espiritual explica a filmografia de Derrickson. Ele co-escreveu e dirigiu os filmes de terror sobrenatural de gelar a espinha: O Exorcismo de Emily Rose, Livrai-nos do Mal e os filmes da série A Entidade. Não é o tipo de filme que você usualmente associa com a Marvel, que faz filmes para a família.
”Ele provavelmente é o único personagem dos quadrinhos que só pode ser adaptado adequadamente por mim”, Derrickson ri.
Cumberbatch, por outro lado, só ouviu falar no Doutor Estranho há alguns anos.
”Um jornalista me falou, ‘você faria um bom Doutor Estranho’. Eu fiquei só, ‘doutor quem?’ e ele disse, ‘esse aí também”’, Cumberbatch recorda.
”Eu disse, ‘não, não vou interpretar o Doctor Who. Mas o que você quer dizer com Doutor Estranho?”’.
Surgiu um interesse, Cumberbatch procurou o personagem. Ele curtiu a ciência e a espiritualidade dos quadrinhos, mas sentiu que a soberba e a arrogância do personagem eram parecidas demais com sua versão de Sherlock Holmes na série de TV Sherlock.
Entretanto, uma conversa com Derrickson sobre a transformação do personagem no filme, mentalmente, fisicamente e espiritualmente, junto de uma prévia dos efeitos visuais de contorcer a realidade sendo conjurados, convenceram-no a se juntar ao projeto.
”Era uma oportunidade de evoluir os filmes de super-herói e fazer alguma coisa singular e diferente e nova. Tinha que acontecer. Era a hora”, Derrickson explica.
”Se continuássemos a repetir os tipos de histórias e visuais que temos visto pela última década, então os filmes de super-herói fracassariam. Há muito mais longevidade neles, mas essa vida só vai existir se as pessoas fizerem escolhas destemidas, ousadas, evolutivas, e começarem a expandir o que filmes de quadrinhos podem ser. Este é o intuito com Doutor Estranho”.
Foi esse desejo de virar as coisas de cabeça para baixo e a oportunidade que Doutor Estranho apresentou de lidar com as maiores questões sobre a vida, o universo e, bem, tudo, que atraiu ambos de maneiras bem específicas.
”Eu tive uma experiência incrível quando eu tinha 19 anos”, Cumberbatch me conta. ”Eu fui lecionar num monastério budista tibetano numa casa nepalesa convertida numa pequena cidade nos arredores de Darjeeling, na Bengala Ocidental, na Índia. Foi a experiência mais extraordinária para uma criança branca que tinha passado por um internato. Eu juntei dinheiro e embarquei num programa de magistério de um ano e tive essa experiência que mudou minha mente, mudou minha alma. Foi essa incrível troca de culturas, onde eu senti que eu, injustamente, aprendi muito mais do que ensinei.
Eu me joguei na literatura da Popular Science (Ciência Popular, uma revista) aprendendo sobre mecânica quântica, teoria das cordas e do caos. Há essa interseção maravilhosa onde a ciência encontra o misticismo. Até mesmo só olhando o mundo natural e o que nós conhecemos da ciência e ficar impressionado com isso. Há alguma coisa nisso. Não um espírito, necessariamente, mas alguma coisa que vai além dos simples carne e sangue das nossas vidas e da nossa realidade.
Eu tinha esse interesse, mas também praticava meditação. Eu procurei sobre essa estrutura religiosa específica, Budismo Tibetano, que é linda e fascinante e tudo isso me levou ao começo de uma jornada na qual estou desde então. Que é a de percepção, na verdade, mais do que qualquer outra coisa. Não é necessariamente fé ou crença. Tem a ver com praticar momentos de tranquilidade e concentração. Há confluências com a experiência que eu tive quando adolescente e com a leitura que eu fazia na Popular Science que entraram para este mundo. Realmente se encontra em algum lugar por aqui.”
“Esse é um filme fantástico de super-herói, é claro, mas a profundidade da mensagem é que o poder da mente é algo que deve ser realmente respeitado. A mente tem o poder de formar e remodelar sua realidade. Não importa quão dolorosa essa realidade possa ser. Há consolo e ajuda dentro dessa força.”
Derrickson também alimentou suas crenças ao moldar as imagens. Ele garante que Doutor Estranho é totalmente diferente de qualquer outro filme de super-herói da Marvel que você já viu. Mas também tem uma incrível ressonância pessoal para ele.
“O mundo se parece fantástico pra mim. Eu sinto que qualquer explicação científica ou religiosa é muito limitada,” Derrickson diz. “É muito mais misterioso do que parece. O desconhecido é imenso. E isso pode ser assustador, consequentemente, todos meus filmes de terror.”
“Minha atração para o terror foi sempre relacionada a minha crença no misticismo, no metafísico, em existir muito mais do que o mundo material. Isso combinado ao fato de que eu cresci muito assustado e com muito medo.”
“Eu trabalhei duro na minha vida para confrontar e superar meus medos e essas duas coisas juntas resultaram nos filmes de terror. E quando se trata de Doutor Estranho eu sinto que, tendo chegado na minha idade, eu removi muito daquele medo e eu estava realmente pronto para fazer um filme sobre o lado positivo de como eu vejo as coisas.”
E como é?
“Vida é uma experiência espiritual e é relacionada a crescimento. Eu acho que estamos aqui para nos superar e evoluir como indivíduos,” Derrickson responde, antes de clarificar com, “Eu não estou falando sobre essa besteira de nova era, e não estou falando sobre teologia religiosa. Eu estou falando sobre existir uma maneira de viver e uma maneira de não viver. E a maneira de viver é ter consciência de quão misterioso o universo é. Crescer como ser humano, evoluir e se tornar um ser humano melhor. Doutor Estranho é sobre essas duas coisas.”
Se está tudo começando a parecer um pouco pesado ou um pouco fora, vale notar que isso é ver as coisas como um todo. Ainda é um filme de quadrinhos. Então, para aqueles que não sabem, qual é a essência geral?
“Doutor Stephen Strange é um neurocirurgião que sofre um acidente de carro cataclísmico que arruína suas mãos mas também sua mente,” Cumberbatch responde. “Ele tenta procurar se tornar o que ele era, que era uma figura muito materialista e um pouco isolada e solitária. Ele é charmoso, engraçado, mas ele também é muito arrogante e obcecado com o valor que ele tem em seu campo. Buscando pela cura depois de suas mãos terem sido irreparavelmente danificadas, ele descobre que ele tem um poder que é inexplorado, algo que é latente em todos nós, que está além do que ele experimentou em sua ideia do que é a realidade.”
“A partir daí ele é treinado e levado a um mundo de provações e dificuldade. E ele tem que se afastar e realmente testar seu valor contra forças que ele jamais encontrou, e que nós jamais vimos no universo cinemático da Marvel.”
“Ele se torna um mago e abre o multiverso para o universo cinemático. Então ele é um personagem muito chave nesse contexto de ampliar os limites dessas aventuras.”
De fato, esse filme irá mudar para sempre a direção do universo intrinsecamente conectado da Marvel. Na verdade, ele praticamente o destrói. O palavra chave é multiverso. Mas o que é isso? Eu pergunto a Derrikson e ele responde em termos leigos.
“A teoria de multiverso sugere que nossas experiências com dimensões como altura, largura, profundidade e tempo, são somente quatro dimensões de muitas outras,” ele responde. “Existem muitas outras dimensões, mas nós simplesmente não temos os meios de acessar essas dimensões ou senti-las. Algumas interceptam nosso próprio mundo e algumas estão fora dele.”
“É uma teoria científica. Não é provada, não há nenhuma evidência científica disso ainda. Mas é uma sólida teoria científica. Mas nós não aterramos o filme em ciência, acho que magia deve ser magia, mas certamente permite uma ótima narrativa imaginativa.”
As pessoas estão prontas para essas perguntas profundas e ideias incompreensíveis nos seus filmes de quadrinhos, eu pergunto a Cumberbatch.
“Absolutamente, “ele responde imediatamente. “É a roda que continua sendo reinventada, é o motivo das pessoas voltarem para mais. As pessoas dizem que uma cena nos Vingadores pode ficar bastante cheia, bem, essa cena acabou de ficar muito maior. E de uma forma muito diferente. “
“É uma área diferente em um ambiente diferente, mas mesmo assim ainda é muito um filme da Marvel. Mesmo que eu esteja atrasado para a festa quando se trata do gênero, acho que esse é um novo começo. É muito empolgante fazer parte disso.”
Derrickson também parece estar muito empolgado com o filme, que ele admite ser o filme de super-herói que ele sempre quis ver.
“Fazer tudo isso no processo de preencher algo tão incrível como o universo cinemático da Marvel e tentar criar peças visuais que são mais do que simplesmente explodir merda. É tudo muito incrível,” ele diz antes de completar, “Está na categoria de sonhos se tornando realidade para mim.”
Tradução: Gi e Juliana | Fonte