A edição de novembro da revista da rede de cinemas canadense Cineplex traz uma entrevista com Benedict sobre A Batalha das Correntes. Confira abaixo a tradução completa da entrevista e os scans da publicação:
Faça-se a luz
Coloque seu smartphone de lado, desligue seu computador e pense por alguns minutos em uma época, há mais de um século, quando homens como Thomas Edison ainda estavam descobrindo como produzir eletricidade. Parece que as coisas não eram fáceis. Nós conversamos com a estrela de A Batalha das Correntes Benedict Cumberbatch sobre interpretar Edison e a competição que mudou o mundo.
Por Ingrid Randoja
Se Benedict Cumberbatch ia interpretar um gênio nas telas, de novo, ele prometeu que seria diferente dos outros. Sua versão do inventor americano Thomas Edison em A Batalha das Correntes não demonstra nada do heroísmo discreto que Cumberbatch levou para o gênio da computação Alan Turing em O Jogo da Imitação, ou a nobreza peculiar de sua versão de Sherlock Holmes. Seu Edison é um homem que é teimoso e, às vezes, também é mal-intencionado.
“Edison faz algumas coisas bem mesquinhas neste filme’’, diz Cumberbatch durante uma entrevista no Festival Internacional de Cinema de Toronto deste ano. “Ele quer vencer a qualquer custo, ele é obcecado’’.
Dirigido por Alfonso Gomez-Rejon (Eu, Você e a Garota Que Vai Morrer), A Batalha das Correntes descreve a corrida entre Thomas Edison e George Westinghouse (Michael Shannon) para ver qual deles consegue controlar o poder da eletricidade e trazê-la para as massas primeiro.
Edison começa bem, inventando uma lâmpada de luz utilizável e, em 1892, levando eletricidade para 59 clientes que viviam num quarterão de Nova York. Entretanto, o sistema de entrega da corrente direta (CD) de Edison é caro de manter e só consegue viajar curtas distâncias.
George Westinghouse, o engenheiro e homem de negócios, apoia o sistema da corrente alternada (CA), que é mais barato e viaja uma distância muito maior. Enquanto Westinghouse começa a abrir vantagem em relação a Edison na chamada “guerra das correntes”, Edison começa a sujar o nome de Westinghouse e inclusive conluie para assegurar que a recém-inventada cadeira elétrica use o sistema alternado para fazer seu trabalho.
“Edison foi um inventor de grande brilhantismo e foi o representante de seus próprios produtos; pesquisando, desenvolvendo e patenteando todos eles e então os produzindo e promovendo. Ele era mais ou menos uma banda-de-um-homem só, de um jeito extraordinário”, diz Cumberbatch. ”Eu acho que muito orgulho vem junto com isso, e o orgulho antes de uma queda é mais ou menos o tema do filme. Ele sempre foi seletivo com sua audição porque ele é parcialmente surdo, mas até mesmo de uma forma mais profunda, ele escolhe só ouvir o que ele quer ouvir, ele não consegue escutar a razão maior”.
O filme também conta com Nicholas Hoult (Mad Max: Estrada da Fúria) como Nikola Tesla, o brilhante engenheiro sérvio que eventualmente se juntou a Westinghouse após Edison rejeitar suas ideias, e Tuppence Middleton (Sense 8) como a esposa de Edison, Mary, que implora para que Edison passe mais tempo com seus dois filhos.
É a primeira vez que vemos Cumberbatch interpretar um pai em filme, um novo desenvolvimento que reflete a vida do ator de 41 anos fora das telas. Ele e sua esposa Sophie são pais de Christopher Carlton, de dois anos de idade, e Hal Auden, de oito meses. Cumberbatch, um notório viciado em trabalho, agora está chegando a uma forma de equilibrar carreira e família.
”Eu fico muito menos confortável com esse isolamento do que o Edison ficava”, diz o ator. ”Estou a milhares de quilômetros dos meus filhos, do que o FaceTime só me faz ficar dolorosamente ciente demais. As minhas prioridades absolutamente mudaram. São voltadas para onde e quando eu faço meu trabalho, para que eu então possa passar mais tempo com minha família. E, também, quanto mais velho eu fico, eu quero trabalhar com certas pessoas. Não é só o material, mas também fazer parcerias com cineastas com os quais eu quero trabalhar”.
Isso inclui o diretor de A Batalha das Correntes, Alfonso Gomez-Rejon, que traz vitalidade para o filme, usando um miríade de ângulos de câmera, telas divididas e edição inspirada. É exatamente o tipo de energia que Cumberbatch queria tanto como ator, quanto como um dos produtores do filme, através de sua produtora, a SunnyMarch.
”Eu sabia que Alfonso traria para o filme um tipo de modernismo para ver esses homens no passado que estavam construindo um futuro, e a ideia de como você encapsula a excitação do novo; uma coisa que não tem o tom de sépia e que não é uma imagem refinada do passado. É uma questão de dar energia pra coisa. Essas foram pessoas jovens e inovadoras fazendo coisas extraordinárias num período verdadeiramente acelerado da evolução tecnológica, assim como o que estamos vendo agora”.
Gomez-Rejon não é tímido em relação a posicionar sua câmera em lugares estranhos – gravar uma cena do alto virada diretamente para baixo, ou do chão virada para cima. Pode ser inquietante para um ator.
”Ao ver algumas das posições da câmera, eu disse para o Alfonso ‘Eu não quero que você faça com que eu pareça um vilão do Bond, me gravando de ângulos estranhos, porque se você exalta a ideia de que ele é desagradável, você perde a nuance da narração da história”, comenta o ator. ”Mas, tirando isso, foi bem ‘Ok, certo, faremos essa tomada’. E, cara, como valeu a pena, porque é uma experiência cinematográfica verdadeiramente linda, poética”.
O filme também mostra como homens poderosos veem o mundo como seu playground pessoal, para ser usado da forma que eles acharem pertinente. Quando questionado se esse tipo de homem é divertido de interpretar, Cumberbatch traz à tona um fascinante estudo de caso.
“Alguém interpretaria o Trump ou o Diabo? Eu tenho certeza de que há um motivo para o Trump ser do jeito que ele é, então sim, eu gostaria de desenterrar isso, seria interessante. Eu quero interpretá-lo? Não, eu não quero lhe conceder mais tempo de exposição do que o homem já está produzindo para si mesmo. Todo mundo já está tão cansado disso”.
Lote de produções
O viciado em trabalho Benedict Cumberbatch acrescentou o título de produtor ao seu currículo em 2013, quando ele, ao lado de Adam Ackland, Ben Dillon e Adam Selves, lançaram a produtora de cinema e TV SunnyMarch. A Batalha das Correntes é sua primeira coprodução cinematográfica. Aqui vai uma olhada nos recentes e próximos projetos da companhia.
The Child in Time
Esse drama de 90 minutos baseado no romance premiado de Ian McEwan foi exibido em setembro na BBC e teve Cumberbatch e Kelly Macdonald como os pais de uma filha de três anos que desaparece.
Melrose
Prevista para ir ao ar no ano que vem, esta série em cinco partes é baseada nos romances semi-autobriográficos de Edward St, Aubyn. Cumberbatch interpreta Patrick Melrose, que é criado por pais abusivos, se torna um playboy, vira um viciado e luta para encontrar seu caminho de volta. Hugo Weaving, Jennifer Jason Leigh e Anna Madeley também a estrelam.
Nota nossa: O projeto agora leva o nome de Patrick Melrose. Saiba mais sobre ele aqui e aqui.
How to Stop Time
Baseado no romance de Matt Haig, esse filme escala Cumberbatch como Tom Hazard, que tem uma rara doença genética que desacelera o processo de envelhecimento – ele tem 436 anos. Ele trabalha como professor de história e comete o erro de se apaixonar.
Nota nossa: Saiba mais sobre o projeto aqui e aqui.
The End We Start From
Cumberbatch e sua esposa Sophie – ela que é uma dramaturga, atriz e diretora de teatro – produzirão esse drama baseado no romance de estreia de Megan Hunter que relata a história de uma mãe e seu bebê que são forçados a encontrar refúgio no campo quando Londres fica submersa embaixo d’água após um desastre ambiental.
Nota nossa: Saiba mais sobre o projeto aqui.
A revista pode ser baixada no site do Cineplex.
Tradução: Gi