A edição de setembro-outubro da revista francesa Première traz uma entrevista com Benedict! Confira abaixo a tradução e os scans:
QUAIS SÃO AS NOVAS, DOUTOR?
O universo cinematográfico Marvel se expande ainda mais com a chegada de Doutor Estranho, também conhecido como Benedict Cumberbatch. Onde o ator preferido dos americanos vai atrás de sua missão: deixar sexy a substância cinzenta em ação.
Première:Interpretando Sherlock ou Doutor Estranho, há sempre uma certa estranheza em sua atuação
Benedict Cumberbatch: Vou lhe parar por aí. Sherlock é verdadeiramente bizarro, mas Estranho é completamente normal. Essa é justamente a história do filme. Como um homem comum cruza o caminho de personagens completamente anormais e descobre um universo mais vasto.
Então você interpreta Strange como um cara comum…
Eu acho que sim. Bom, comum como um cirurgião nova-iorquino genial pode ser. É um homem do mundo, ele flerta, ele frequenta festas chiques. Seu relacionamento com os outros é radicalmente diferente do relacionamento do Sherlock, mas eles compartilham da mesma arrogância, graças às suas habilidades. Eles também têm algum senso de humor.
A chave do personagem está na compreensão de seu relacionamento com o mundo, na maneira que ele interage com seus semelhantes. Sherlock é um isolado, Strange é muito mais aberto. Ele parece Tony Stark no primeiro Homem de Ferro. Ele é uma boa companhia. De maneira alguma parecido com Sherlock. Daí o interesse. Eu não interpreto Doutor Estranho como interpreto Sherlock. Não me comprometi para isso.
Um aspecto de sua interpretação que eu acho fascinante é sua voz. Ela é parte importante de sua sedução como ator…
Isso é engraçado, porque eu realmente tive que mudar minha voz para interpretar Doutor Estranho. Radicalmente.
Isso quer dizer o quê?
Eu queria que ele falasse com sotaque nova-iorquino. Muito educado, um pouco esnobe. Não um sotaque bostoniano, do Bronx, do Brooklyn….uma voz um pouco forte, caucasiana, com as entonações de alguém de uma classe rica e superior….
Isso está nos quadrinhos: Strange pode ser arrogante e pomposo, mas também terrivelmente brilhante. Podemos passar um tanto de coisas sobre um personagem apenas modulando sua voz com precisão. No começo, o estúdio queria que eu conservasse meu sotaque inglês. Eu recusei, porque eu estava decidido a ser fiel aos quadrinhos. Eu absolutamente queria que ele continuasse nova-iorquino. É uma questão de respeito ao personagem. Teria sido fácil demais falar como eu normalmente falo. E, além disso, vocês imaginam que um cara de Nova York se expresse com sotaque londrino?
Depois de Além da Escuridão: Star Trek pensava-se que você continuaria interpretando vilões em Hollywood. Os intérpretes de Sherlock Holmes frequentemente são os caras maus do cinema: Basil Rathbone, Peter Cushing…Você se vê desse jeito?
Há alguma coisa de perigosa e malvada em Sherlock Holmes. Ele é sedutor, mas como um predador, ele não é verdadeiramente sensual, é todo em ângulos, preciso demais. É uma hiper-exemplificação da personalidade inglesa. (Risos). Eu estou brincando, mas para mim Sherlock é a personificação da língua inglesa, de sua precisão, de sua economia. A língua americana é mais redonda, quente, acomodadora. Na realidade, é muito fácil passar de um registro para o outro. Passar da frieza de Sherlock ao calor de Strange. Mas é verdade que eu poderia ter me restringido a interpretar o vilão inglês em serviço, como o cara em Deadpool (Ed Skrein), que eu já curti em outros lugares.
Falando na escalação de atores ingleses, podemos ler por aí que o Brexit vai afetar tanto a presença inglesa em Hollywood quanto a gravação de blockbusters americanos na Inglaterra….você acha que este é o caso?
Eu não estou verdadeiramente familiarizado com essas teorias, nem com a economia. Eu disse publicamente que eu apoiava a permanência da Inglaterra na União Europeia, e eu apoio a indústria cinematográfica do meu país. Bom, nós sempre temos as gravações de filmes de Star Wars por lá, não é verdade? Mas se nós pudéssemos voltar a Doutor Estranho…
Parece que você passou um ano sabático num monastério tibetano depois do ensino médio. É Doutor Estranho sua história, na verdade?
Eu passei um ano ensinando inglês aos monges do monastério. Mas isso não influenciou minha preparação para o filme. Sinto muito por lhe decepcionar. (Risos). Pelo contrário, meu ano sabático mudou completamente a minha vida num nível pessoal, abriu meu espírito. Eu lembrei disso quando voltei à Katmandou. De certa forma, eu voltei para onde minha vida mudou. A chave do filme é essa experiência aí. A experiência mística.
Entrevista por Sylvestre Picard
Tradução: Gi