A edição de junho da revista espanhola Cinemanía traz Benedict na capa e uma página dedicada a Doutor Estranho dentro de sua matéria ”Os 28 filmes mais esperados do ano”. Confira abaixo a tradução e o scans da revista:
Um Estranho Entre Nós
O ator britânico mais querido pelo fandom coloca a capa da levitação e o místico Olho de Agamotto em Doutor Estranho. Revemos uma carreira que parece coisa de bruxaria
Por Manuel Piñón/ Yago García
Se você vai se encontrar com Benedict Cumberbatch (Londres, 1976) deve preparar bem os tímpanos: esta estrela britânica não é um desses atores preguiçosos com as palavras, que só usam monossilábicas e respostas típicas. E, agora que gravou um filme que poderá mudar sua vida, ele tem razões de sobra pra falar bastante. Trata-se de Doctor Strange (Doutor Estranho), um longa dirigido por Scott Derrickson (A Entidade) que se mostra paranormal em muitos sentidos.Pra começar, supõe a apresentação no cinema de um dos personagens mais peculiares da Casa das Ideias, com títulos como Supremo Feiticeiro da Terra, Mestre das Artes Místicas etc. E, sim, os demais super-heróis acham que ele é arrogante. A seguir, falamos do segundo filme da ”Fase 3” do estúdio, esta nova etapa que promete virar de ponta-cabeça seu universo compartilhado. E, para terminar, é o filme que poderia impulsionar definitivamente a fama de seu protagonista.
Para interpretar este sujeito tão exótico, que gosta de frequentar lugares como a Dimensão das Trevas e se relacionar com mulheres de linhagem demoníaca, Marvel encontrou um ator certo. Porque, quando se fala de Benedict Cumberbatch, é inevitável mencionar seus traços reptilianos, suas bochechas afiadas e sua branca palidez. Mas a verdadeira chave está em seus olhos: heterocromia. Poderia ser uma das palavras que ele usa distraidamente, como ”pontificar”, ”interruptivo” ou ”pentâmetro iâmbico”. E é a característica que faz com que seus olhos mudem de cor de acordo com a luz. Do mesmo modo, a percepção da carreira de Benedict Cumberbatch muda dependendo de como é abordada: ainda que seus trabalhos no cinema possam parecer pouca coisa (excluindo seu Khan de Além da Escuridão: Star Trek e sua nomeação ao Oscar por O Jogo da Imitação, onde interpretou o pioneiro da informática Alan Turing), o resultado é diferente quando ele é observado a partir do ângulo da televisão. Aí, descobre-se que o filho do ator Timothy Carlton e a atriz Wanda Wertham vem trabalhado demais desde o começo deste século, com papéis em séries e filmes para TV. E que, de todos estes trabalhos, há dois que levantaram seu patamar: um deles foi Hawking (2004), onde interpretou o astrofísico de um jeito muito diferente do de Eddie Redmayne em A Teoria de Tudo. O outro, a série Sherlock, o converteu no rosto de uma revisão (quase uma desconstrução) do personagem de Conan Doyle, acompanhado de Martin Freeman como o doutor Watson. Desde seu lançamento em 2010, Sherlock conquistou uma legião de fãs para seus protagonistas. Fãs que desfrutaram demais do encontro entre os dois atores preparado por Peter Jackson em O Hobbit (com Freeman como Bilbo Bolseiro, e Cumberbatch como o dragão Smaug). E que, no momento, esperam a estreia de sua quarta temporada (2017) como o detetive.
Ironicamente, a filmagem de Sherlock quase impediu que Cumberbatch protagonizasse Doutor Estranho. ”Ser um super-herói não é uma coisa que eu tinha planejado”, disse, adicionando que Joaquin Phoenix (que vacilou durante meses antes de recusar o papel) lhe parecia ”uma boa escolha”. Se a Marvel não o tivesse chamado, talvez ele nem teria se importado muito: os quadrinhos da Casa nunca foram majoritários no Reino Unido e, além disso, Cumberbatch é fã assumido de Asterix e Tintim, continentais que são. Pra completar, o ator não tem vergonha de dizer que a experiência super-heroica de que ele mais gostou no cinema foi ”Eu sou o Batman” dita por Michael Keaton no Batman de Tim Burton. Lembramos que o Cavaleiro das Trevas pertence à DC, a famosa concorrente da Marvel no mercado de quadrinhos.
Acompanhado no filme por atores de perfis igualmente distantes de cliché (Mads Mikkelsen, Tilda Swinton e Chiwetel Ejiofor), Cumberbatch poderia sair de Doutor Estranho convertido em uma estrela de cinema ”distinta”, com uma popularidade fomentada longe de Hollywood e com uma versatilidade às vezes desconcertante (ainda que o papel de sujeito esquisito seja sua especialidade). Vê-lo invocando os Imortais de Vishanti e manipulando o Olho de Agamotto será, sem dúvida, um prazer cósmico.
Tradução: Gi