Já faz dois meses desde nosso último resumo das semanas, então achamos que está mais que na hora de fazermos mais um!
Confiram abaixo as principais notícias que postamos no site e nas nossas redes sociais desde o final de junho:
Resumo das semanas 30/04-17/06
Um mês para o aniversário do Benedict: Doações e Batch of Kindness em sua homenagem
Benedict e Doutor Estranho indicados ao People’s Choice Awards 2017 [x] [x]
A Academia Britânica de Artes do Cinema e da Televisão (British Academy of Film and Television Arts, ou simplesmente BAFTA, em inglês) acabou de anunciar os indicados deste ano aos seus prêmios voltados para a televisão, o BAFTA TV Awards…e Benedict e The Hollow Crown: The Wars of the Roses estão entre eles!
Benedict está concorrendo a Melhor Ator, por sua performance como Ricardo III, ao lado de:
Adeel Akhtar por Murdered by My Father
Babour Ceesay por Damilola, Our Loved Boy
Robbie Coltrane por National Treasure
E The Hollow Crown: The Wars of the Roses está concorrendo a Melhor Minissérie ao lado de:
National Treasure
The Secret
The Witness for the Prosecution
Além disso, Shakespeare Live!, evento em homenagem aos 400 anos de Shakespeare do qual Benedict participou no ano passado, também está indicado a Melhor Evento Ao Vivo.
Esta é a sexta indicação ao BAFTA TV Awards que Benedict recebe e sétima indicação ao BAFTA Awards no total, já que ele já foi indicado ao BAFTA Film Awards em 2015 por seu trabalho em O Jogo da Imitação. Ele nunca ganhou o prêmio. Estamos na torcida para que seja desta vez!
A cerimônia de premiação acontecerá no dia 14 de maio de 2017 e será transmitida pela BBC One (horário a ser divulgado, atualizaremos o post com esse dado assim que ele sair).
Lembrando que The Hollow Crown: The Wars of the Roses e Sherlock (com o episódio A Noiva Abominável) também estão concorrendo na premiação técnica promovida pela Academia, o BAFTA TV Craft Awards, como divulgamos aqui.
Atualização (07/05)
Agora temos o horário! O BAFTA TV Awards 2017 será exibido pela BBC One no dia 14 de maio de 2017 às 20h (Londres), ou seja, às 16h (Brasília).
Foram divulgados hoje os indicados ao BAFTA TV Craft Awards 2017, a premiação técnica do BAFTA. Sherlock: A Noiva Abominável recebeu três indicações, enquanto o episódio “Ricardo III” de The Hollow Crown: The Wars of the Roses foi indicado a melhor design de figurino. Confira abaixo as nomeações:
Design de Figurino
The Durrells
The Crown – Vencedor
The Hollow Crown: The Wars Of The Roses – Ricardo III
San Junipero (Black Mirror)Edição: Ficção
Sherlock: A Noiva Abominável
The Night Manager – Vencedor
Fleabag
National TreasureSom: Ficção
The Night Manager – Vencedor
War and Peace
Sherlock: A Noiva Abominável
The MissingEfeitos Especiais, Visuais e Gráficos
The Night Manager
War and Peace
Playtest (Black Mirror)
The Last Dragonslayer
The Crown
Sherlock: A Noiva Abominável
A cerimônia de premiação acontece no dia 23 de abril, domingo. No dia 11 do mesmo mês serão divulgados os indicados ao TV British Academy Television Awards. Benedict poderá receber uma indicação por sua atuação em uma dessas duas produções.
Tradução: Aline | Fonte
Infelizmente, Sherlock e The Hollow Crown perderam em suas categorias. Atualizamos a lista acima com os vencedores. De qualquer forma, ficam aqui nossos parabéns aos envolvidos em ambas as séries e aos vencedores!
É hora de mais um resumo da semana! Vamos conferir as principais coisas que aconteceram nós últimos dias?
19/02
–
20/02
Saem entrevistas da press junket de divulgação do lançamento de Doutor Estranho em Digital HD, DVD e Blu-Ray:
Benedict dá conselhos para quem vai comparecer ao Oscar pela primeira vez [Link direto para o vídeo legendado no Youtube] [Masterpost da press junket]
Benedict e Benedict Wong falam sobre os efeitos especiais de Doutor Estranho [Link direto para o vídeo legendado no Youtube]
Benedict fala que está ”sempre tentando viver no presente” [Tradução no masterpost]
Atualização na galeria: Mais de 2.900 screencaptures da minissérie Parade’s End
Doutor Estranho é indicado ao Nebula Awards
21/02
Entrevista: Benedict comenta o sucesso de Doutor Estranho [Tradução no masterpost]
Marvel posta mais uma entrevista de Benedict e Benedict Wong
22/02
Legendamos a entrevista da Marvel aqui e a incluímos no masterpost, com 72 screencaps do vídeo. Benedict e Benedict Wong brincam de ”Raça Alienígena ou Queijo”.
A Outra (2008) sairá do catálogo da Netflix no dia 1º de março
Atualização na galeria: Novo/antigo portrait do Ghent Film Festival de 2012
23/02
Benedict faz artes em prol da ONG Anno’s Africa
Atualização na galeria: 2.825 screencaps de Benedict como Ricardo III em The Hollow Crown
Scott Derrickson compartilha foto de Benedict e Scott Adkins nos bastidores de Doutor Estranho
24/02
Mangá de Um Estudo em Rosa em pré-venda na Amazon Brasil
Mais uma entrevista de Benedict e Benedict Wong sobre Doutor Estranho, desta vez para o Cinema Trip [Traduzimos hoje, aqui].
25/02
Começa a escalação de elenco para adaptação de obra de Ian McEwan
Adicionamos à galeria 2.825 screencaptures de Benedict como Ricardo III na segunda temporada da minissérie The Hollow Crown, denominada The Hollow Crown: The Wars of the Roses, produzida pela BBC.
São 1.222 imagens do segundo episódio, Henry VI: Part 2 (Henrique VI: Parte 2):
E 1.603 imagens do terceiro episódio, Richard III (Ricardo III):
O site Collider fez uma lista das 25 melhores performances da TV neste ano e Benedict Cumberbatch entrou para a lista com a sua atuação como Ricardo III em The Hollow Crown:
Benedict Cumberbatch — The Hollow Crown.
Benedict Cumberbatch, William Shakespeare, um dos melhores dramas da língua Inglesa… sim, isso tudo se juntou tão bem quanto você imaginava. É verdade, Cumberbatch fica um pouco exagerado como Ricardo III na segunda parte desta trilogia de The Hollow Crown, mas no momento em que ele entra na peça título de seu personagem ele é perfeito. Ricardo tem que ser sinistro, mas ainda assim charmoso, e Cumberbatch acertou na performance na última parte com uma quantidade excepcional de determinação. No entanto, em cada cena antes disso também, ele define Ricardo claramente e ajuda a fazer as peças (com a ajuda de um elenco realmente ótimo) acessíveis e capazes de serem entendidas, mesmo que a linguagem e as cadências de Shakespeare nunca tenham se sentido mais estranhas a um ouvido moderno. Fica claro que Cumberbatch se deleita com o papel e até se diverte com ele, o que é exatamente como eu imaginei que Shakespeare fosse querer.
Fonte | Tradução: Bru.
Organizamos pra vocês todas as críticas que vimos da série até agora. Venham morrer de orgulho do Benedict conosco:
Críticas do episódio Henry VI Part 2 (segundo episódio da temporada, mas primeiro em que Benedict efetivamente aparece):
The Telegraph (deu cinco estrelas para o episódio):
”Benedict Cumberbatch é excitadamente sedutor.
(…)
A partir do momento que o jovem Ricardo, Duque de Gloucester, de Benedict Cumberbatch é arrastado para cima do cavalo de seu pai para se juntar à insurreição Yorkiana, até o assassinato impiedoso do Henrique VI de Tom Sturridge, foi um estudo de psicopatia descontrolada desde sua fase emergente até a total eflorescência horrenda.
Foi uma excitante e – vamos lá, vamos admitir – sedutora demonstração de maldade decolando. Suas pupilas iridescentes brilhando com uma fome por poder maligna e sem remorso, Cumberbatch brilhantemente sugeriu uma figura solitária fora da rixa dinástica incorporada em sua confissão ronronada para a câmera, ‘Eu sou apenas eu mesmo’.”
The Guardian (não usa estrelas como forma de classificação)
”O melhor é a participação de Benedict Cumberbatch como o ”Ricardinho deformado”, o filho de Ricardo Plantagenet, faminto pelo trono. Cumberbatch não exagera a deformidade, sorri perigosamente e, no solilóquio, captura perfeitamente a isolação melancólica desse exemplo mor de deslocado: ‘Eu sou apenas eu mesmo’, ele nos diz.”
Críticas do episódio Richard III
The Telegraph (deu cinco estrelas para o episódio)
”E então, o ator mais famoso de sua geração finalmente teve a chance de usar ”a coroa oca”
(…)
Todos nós estávamos esperando pela regência de Benedict Cumberbatch. Ele não desapontou. O indolente de cabelos desgrenhados que ele ofereceu na segunda parte – quando ainda havia vários membros da família entre Ricardo e o trono – era inclinado principalmente a apunhalar pessoas nas costas, e a fazer olhos esbugalhados e exagerados durante o processo. Mas Cumberbatch recebeu um corte de cabelo para Ricardo III. Ele ficou mais elegante, mais afiado, e atravessou pra dentro de sua cabeça. Falando seus monólogos para a câmera como Frank Underwood de House of Cards (Kevin Spacey realmente modelou seu Underwood com base em Ricardo), este tirano lhe fez pensar como ele mesmo enquanto você o odiava.
(…)
Uma sequência chamou mais atenção. O anel no dedo de Ricardo fez ”tap tap tap” em seu tabuleiro de xadrez, sua batida paranoica nos levando até a Torre e até a matança de seus sobrinhos que ele ordenou, as mais terríveis entre todas as mortes terríveis em todas as peças. Os gemidos abafados de assassinato de crianças foram divididos com cenas do rosto almecegado do ator, que se transformou de agudo intento em frouxa estupefação diante de sua própria degeneração – Cumberbatch nunca tinha feito o mau melhor. Tap tap tap. Este era um Ricardo que sabia que ele nunca poderia vencer, que reconhecia o horror de deus pecados até mesmo enquanto ele não sentia remorso. Quando ele morreu na lama no final, ele era a criatura que mais detestava a si mesma, assim como a mais detestada”.
”Benedict prova ser um vilão magnífico no episódio Richard III de The Hollow Crown. A vez de Cumberbatch como o rei maquinador de Shakespeare é notável.
(…)
Richard III leva o ciclo de The Hollow Crown da BBC até um excelente clímax. Também confirma que Benedict Cumberbatch é um ator altamente físico, assim como naturalmente Shakespeariano. Assistir a ele forçar seu caminho pra dentro de suas roupas no solilóquio de abertura me fez lembrar de sua performance magnífica como a Criatura na Frankenstein do National Theatre. No palco, nós testemunhamos o nascimento tortuoso de um monstro; aqui nós vemos Ricardo adquirir uma nova identidade enquanto ele se veste com trabalho.
Cumberbatch começa com duas grandes vantagens. O episódio anterior permitiu que ele começasse a base para a fome maníaca de Ricardo pelo trono. Assim como Olivier no filme de Ricardo III, ele também usa a câmera como um amigo do peito. Tendo cortejado a Lady Anne de Phoebe Fox – um episódio que aqui se passa numa senda na floresta – ele desabafa seus segredos para a câmera e, assim, para nós, seu áspero choque diante da maleabilidade dela.
De fato, Cumberbatch nos leva por cada estágio do progresso sistemático de Ricardo até o poder. A imagem dominante da produção é a do dedo indicador de Cumberbatch tamborilando num tabuleiro de xadrez, enquanto ele avalia como remover as peças que permanecem entre ele e a coroa. Mas é um símbolo do progresso de Shakespeare que o dramaturgo também nos permite ver dentro da alma de Ricardo: Cumberbatch está excepcionalmente bom no solilóquio da véspera da batalha, onde o personagem que poderia simplesmente ser um monstro assassino pateticamente se dá conta de que ‘não existe uma criatura que me ame’. ”
Heat UK (deu cinco estrelas para o episódio)
Nós estamos acostumados com Benedict Cumberbatch sendo ótimo, mas sua performance como Ricardo III nessa parte final da adaptação da BBC das peças históricas de Shakespeare é uma coisa realmente muito especial, e pode muito bem ser uma de suas melhores conquistas, digna de coroação (desculpa).
No começo deste episódio, Ricardo está exposto, com sua famosa corcova dolorosamente visível, e ele está prestes a se tornar um vil tirano psicopata, tramando acabar com seus rivais que estão esperando seu irmão Eduardo morrer para competir pelo trono, e com basicamente qualquer pessoa que entre no seu caminho.
No meio de toda a violência, carnificina e sanguinolência está o retrato de um homem que se torna mau e que então é atormentado pelo que fez. É um material surpreendentemente poderoso.
Tradução: Gi
Confira uma entrevista com Benedict publicada no site Independent.co.uk, em que o ator fala sobre Ricardo III, que ele interpreta na série The Hollow Crown, e sobre o legado de Shakespeare.
“Existe uma trajetória real para a jornada de Ricardo. Ele não é apenas a alegoria medieval de um vilão que muitos críticos disseram que ele é. Há uma grande sutileza e muita história passada deste personagem”
Por James Rampton
531 anos depois de sua morte, Ricardo III ainda divide opiniões. Mesmo hoje, ele tem muitos apoiadores apaixonados. Eles sentem que a peça histórica de William Shakespeare traduziu muito o monarca.
Alguns deles estão particularmente furiosos com a nova adaptação da BBC2 da peça, que sai como a parte final do aclamado ciclo Hollow Crown no sábado, 21 de maio. Eles afirmam que esta interpretação estrelando Benedict Cumberbatch como um Ricardo III intenso e amargurado deturpa o Rei.
Cumberbatch, que, foi revelado no ano passado, é primo de segundo grau de 16 gerações de Ricardo III, me diz que tem alguma simpatia com os apoiadores do Rei, cujos restos mortais foram descobertos há três anos em um estacionamento em Leicester. “Eu entendo muito que para essas pessoas ele é um Rei muito amado que elas sentem que foi caluniado. Eu entendo. Afinal de contas, eu sou um parente muito próximo dele! Embora agora que o corpo dele foi encontrado, posso de repente descobrir que eles cometeram um erro de DNA comigo!”
Relaxando em um bar sofisticado do centro de Londres e bebericando um coquetel, o ator transpira uma inteligência e charme tranquilo que podem surpreender as pessoas que o confundem com o seu alter ego mais famoso, o irritável e nervoso Sherlock.
Cumberbatch é igualmente divertido quando chega a discutir o fim de Ricardo III. “Me sinto muito sortudo de ser quase o último de pé nesta peça. E não, isso não é um spoiler. A peça esteve aí por mais de 400 anos. Definitivamente você pode imprimir isso – Ricardo não consegue. Ou talvez ele volte no fim e diz, ‘Sentiu minha falta?’ Ou talvez ele pudesse reaparecer em um estacionamento!”
O filhos dos atores Timothy Carlton e Wanda Ventham, de 39 anos, Cumberbatch estudou na Universidade de Manchester antes de receber um Mestrado de Artes em Atuação Clássica na London Academy of Music and Dramatic Art [Academia de Música e Arte Dramática de Londres].
Graças a performances fores em trabalhos como Hawking e Desejo e Reparação, Cumberbatch construiu rapidamente uma reputação muito boa como ator. Mas a carreira dele se transformou em 2010 quando recebeu o papel-título em Sherlock, a releitura da era moderna de Steven Moffat e Mark Gatiss das histórias clássicas de Sir Arthur Conan Doyle. A série foi um sucesso mundial do dia para a noite, e para Cumberbatch, se provou um divisor de águas global.
Ele continuou a prover performances memoráveis em O Hobbit, O Espião Que Sabia Demais, Além da Escuridão: Star Trek, 12 Anos de Escravidão e O Jogo da Imitação, pelo qual ganhou uma indicação ao Oscar de Melhor Ator.
Sem dúvida, o sucesso global de Sherlock ajudou Cumberbatch a receber papeis como Ricardo III. Mas ele ainda fica apelativamente surpreso com o perfil mundial de Sherlock. De acordo com Cumberbatch, “A coisa chocante nisso é que as pessoas que para mim têm sido ícones para sempre têm chegado a mim para dizer o quanto eles o adoram. Quando Meryl Streep me disse, ‘Eu adoro Sherlock‘, eu pensei, ‘Isso é tão errado!'”
O ator prossegue a considerar se existem similaridades entre ele mesmo e Sherlock. “É melhor você perguntar você perguntar para as pessoas que me conhecem, como a minha mãe! Provavelmente há algumas similaridades. Quando eu o estou interpretando, me vejo olhando para os sapatos e a linguagem corporal as pessoas e tentando deduzir coisas delas. Eu faço isso porque tenho um interesse profissional. Mas temo ser uma droga nisso!”
Vestido com uma camisa de marinheiro francês listrada de azul e branco e calças escuras, Cumberbatch está em forma muito relaxada hoje. Ele parece estar aproveitando o tempo de inatividade depois da experiência frenética de interpretar Ricardo III. O Rei de Cumberbatch é um homem ferozmente conduzido empenhado em se vingar das muitas desfeitas que sofreu ao crescer.
Mas, o ator discute, Ricardo III não necessariamente é o vilão implacavelmente cruel como muitas fezes é retratado; Shakespeare tem muito mais nuances do que isso. “Existe toda essa mitologia em volta de Ricardo. Ele provoca uma polaridade de opiniões. Ele é um cara mal que matou os Príncipes na Torre ou é um cara bom que foi muito caluniado pela peça? Nós não sabemos mesmo. Muito do que temos ainda é relações públicas.”
“Poderíamos ter tido um aviso de isenção no começo da peça dizendo, ‘Escrita por William Shakespeare, que era dramaturgo na era elizabetana, sobre o último Rei Plantageneta. Elizabeth era a filha de Henrique VIII, um Tudor, por isso seu declive’.”
Ricardo passa a maior parte da peça, que também estrela Dame Judi Dench como Cecily, mãe de Ricardo, Sophie Okonedo como a Rainha Margaret and Keely Hawes como a Rainha Elizabeth, mandando seus criados fazer seu trabalho sujo e aniquilando seus rivais para The Hollow Crown. Algumas das ações brutais dele fazem Game of Thrones parecer peça de escola.
Mas Cumberbatch, que é casado com a diretora Sophie Hunter e é pai de um filho pequeno, insiste que a violência em Ricardo III nunca é gratuita, “Não é simplesmente tentando chocar as pessoas. É dizendo, ‘Olhe o que nós somos capazes.’ É sempre dentro do contexto, e é sempre um teste de moralidade.”
Então o que faz Ricardo III ter tanta fome por poder? Cumberbatch, que leu um poema do poeta Laureate Carol Ann Duffy na cerimônia de enterro dos restos mortais de Ricardo na Catedral de Leicester ano passado, traça a ambição ardente do monarca deficiente de volta a sua infância profundamente infeliz.
“O importante é que desde o começo, Ricardo nasce nessa família de Adônises, de atletas de proporções perfeitas. Ele é a ovelha negra da família. Ele é excluído e deixado em casa cuidando das crianças – que não é um lugar para um homem no mundo medieval, onde é seu dever sair para lutar.”
Então, Cumberbatch completa, “Há uma trajetória real para a jornada de Ricardo. Ele não é somente aquela figura medieval de um vilão que muitos críticos disseram que ele é. Há uma grande sutileza e muita história para esse personagem.”
“Nossa visão foi a de humanizá-lo e ver a sua história toda. Ele se perde a fim de voltar em um momento final de realização decidida e impassível. Ele perdeu tudo e tudo o que lhe restou é raiva e fúria. Então interpretar toda essa jornada é absolutamente um prazer. E poder fazer isso com uma câmera investigando quando você quebra a quarta parede – que presente para qualquer ator!”
Assim como Frank Underwood de House of Cards, um personagem muito modelado no rei de Shakespeare, Ricardo III é inicialmente uma figura muito sedutora. Mesmo sabendo das ações desastrosas que ele é capaz, nós não podemos evitar de sermos arrastados para seu mundo desonroso. Cumberbatch comenta que, “Ele é atraente porque ele nos seduz a sermos cúmplices com suas falas diretas para o público. Ele embaça a nossa visão porque nós somos fascinados pela batida do carro. É tão sedutor porque ele nos mostra a falibilidade da natureza humana em torno do magnetismo do poder.”
Um dos feitos da última temporada de The Hollow Crown – que consistiu em Ricardo II, Henry IV Partes Um e Dois e Henrique V, e que foi transmitida em 2012 – foi ampliar a influência de Shakespeare.
Cumberbatch expressa esperança de que essa nova temporada de filmes, que são o centro da temporada comemorativa da BBC pelo 400º aniversário da morte do dramaturgo, também irá trazer um novo público para Shakespeare. O ator faz uma ligação disso com sua popular aparição como Hamlet no Barbican em Londres no ano passado. “Interpretar Hamlet ao vivo para uma plateia fascinada foi incrível.”
“Eu estava muito interessado em ver quantas pessoas poderiam ser acomodadas dentro do teatro – isso foi muito importante quando escolhemos o local. Eu sentia que seria injusto com as pessoas que quereriam ver, se nós tivéssemos feitos em um local menor. Eu achei que deveríamos ser um pouco mais generosos do que isso e fazer em um teatro grande. Se você consegue aumentar o público e mostrar como Shakespeare é brilhante, isso é fantástico.”
Outro feito de The Hollow Crown é nos lembrar de quão universais as peças de Shakespeare são. Cumberbatch reflete que, “Eu odiaria deixar de relacionar com o que está acontecendo atualmente na política, mas claro que a peça é relevante – qualquer um pode ver isso. Mas o que é mágico sobre essas peças é que você poderia fazê-las em cinco ou dez anos e elas ainda teriam o mesmo efeito porque são estudos atemporais da própria condição humana do poder.”
“Macbeth funciona em suaíli ou alemão ou em qualquer cultura porque é sobre tribalismo, poder e ambição desesperada, abrangente e corrupta. Essas peças mostram as fragilidades, o ego, a susceptibilidade e todas as intrigas que o poder traz às pessoas. Esse é o motivo pelo qual Shakespeare é ainda tão potente 400 anos depois.”
Cumberbatch mal teve tempo de parar para respirar nos últimos tempos. No final do ano ele estará estrelando como o personagem título no mais novo filme da Marvel, Doutor Estranho. Atualmente ele está ocupado filmando a quarta temporada de Sherlock, que está prevista para ir ao ar ano que vem.
Então o que o ator pode revelar sobre a próxima temporada de Sherlock?
“É ótimo, é muito divertido estar de volta. Há muitas coisas acontecendo na nova temporada.” Ele pausa e depois ri alto e bastante: “mas eu não posso dizer nada sobre elas!”
“Você poderia me dizer,” eu respondo, “mas depois você teria que me matar.”
“Não,” Cumberbatch contra-ataca, apontando para o publicista que acabou de entrar na sala, “Eu faria com que ele te matasse. Como Ricardo III, eu iria encarregar alguém para fazer isso.”
Cumberbatch aparece nos episódios dois e três de The Hollow Crown, nos dias 14 e 21 de maio na BBC2.
Tradução: Aline e Juliana | Fonte
A revista Radio Times de 14-20 de maio traz Benedict como Ricardo III na capa e uma matéria sobre a série, incluindo comentários do Benedict. Confira abaixo a tradução e os scans em nossa galeria:
O Rei e Eu
Elegante e selvagem como um corvo num lustroso traje azul e preto, Benedict Cumberbatch é envolto por um manto de concentração. Você praticamente consegue ouvir sinapses estalando enquanto ele se prepara para entrar no set como Ricardo III.
Por E Jane Dickson
A alguns passos de distância, Judi Dench está sentada em silêncio, com as mãos no colo, possivelmente refletindo sobre seu papel como mãe de Ricardo, possivelmente planejando seu jantar. Sophie Okonedo, por outro lado, visivelmente está fervendo por sua grande entrada como Margaret de Anjou. Quando a câmera finalmente é ligada, a liberação de energia no set em Shepperton é explosiva. Num discurso intenso, ‘’Margaret louca’’ xinga todos em volta dela. O pior de sua fúria é reservada para Ricardo (‘‘Tu, deformado aborto de porco refocilante! ’’). Assistindo a Benedict Cumberbatch empalidecer diante desse ataque às deformidades físicas de seu personagem, você se vê comovido a se levantar e a ficar entre o vilão mais negro do teatro e seu atormentador.
Cumberbatch interpreta Ricardo III nas duas últimas partes de The Hollow Crown – em Henrique VI Parte II nesse sábado e em Ricardo III no próximo sábado. A referencial série da BBC 2 é épica em escala e ostenta um elenco que inclui Hugh Bonneville, Michael Gambon, Keeley Hawes e Samuel West – e Andrew Scott, o velho nêmesis de Cumberbatch em Sherlock, Moriarty, faz uma participação como Rei Luís.
Foi parcialmente o tamanho escopo do projeto que persuadiu Cumberbatch, discutivelmente o ator mais demandado de sua geração, a participar: sua performance facetada da ‘’aranha engarrafada’’ do Bardo é auxiliada pelo fato de que os espectadores testemunharam os eventos que moldaram a psicopatia de Ricardo III.
‘’Eu aceitei esse papel porque ele tem parte da linguagem e da ação mais extraordinária, visceral e chocante que se tem em qualquer dos dramas de Shakespear’’, diz Cumberbatch. ‘’Ricardo III é uma tragédia, mas você só aprecia essa tragédia verdadeiramente se você viu Ricardo no decorrer de todas as peças e encontrou o adolescente que se torna o déspota, que se torna a ruína arrependida, perseguida por pesadelos antes de ele morrer em batalha’’.
A exumação, em 2012, dos restos mortais de Ricardo III em Leicester permitiu uma autenticidade sem precedentes no que concerne a corcunda do rei (Cumberbatch está sem camisa na cena de abertura de Ricardo III); foi criado um protético de corcova que replica a escoliose encontrada no esqueleto. As coisas ficaram assustadoras, no entanto, quando cientistas que estão trabalhando nos restos do rei compartilharam uma nova descoberta com Cumberbatch.
‘’Foi um extraordinário quê de serendipidade, já que eu literalmente estava vestido como a versão de Ricardo III de Shakespeare quando eu recebi um email da Universidade de Leicester dizendo que eu era um não-exatamente-ridiculamente-distante descendente de Ricardo’’, diz Cumberbatch. ‘’Eu sou um primo de terceiro grau 16 gerações à frente, o que ainda é distante, mas me coloca na frente de um tanto de gente. Eu fui convidado para ler o poema (Ricardo) escrito para a ocasião por Carol Ann Duffy no ressepultamento na Catedral de Leicester. Estar presente quando Ricardo III achou seu lugar de descanso foi comovente. Eu estava no enterro de um rei’’.
É fácil ver as Peças Históricas como um passeio pela névoa do tempo, mas para contemporâneos de Shakespeare, a derrota de Ricardo na Batalha de Bosworth Field em 1485 foi de vivaz interesse, crucial para o senso de identidade nacional (bem parecido com o interesse atual na Primeira Guerra Mundial). Mesmo para nosso próprio tempo, Cumberbatch argumenta, The Hollow Crown toca acordes inquietantes.
‘’Estes filmes vão bem além da remissão de dramas históricos ou de época’’, ele diz. Eles são sobre tudo que estamos encarando – todos os debates sobre com quem devemos nos aliar, se devemos fazer parte da Europa, e o quão profundamente essas divisões se entranham numa sociedade. E a violência da guerra medieval tem uma ressonância com o que está acontecendo com o extremismo no mundo…Ver as manchetes, e depois ler o roteiro da gravação de hoje, percebendo que estamos decretando uma decapitação , literalmente tirando a cabeça de alguém de seus ombros – é triste dizer, essas são coisas que ainda fazem parte do nosso mundo’’.
As cenas de guerra recriadas para Hollow Crown são fortes em realismo sangrento, como evidenciado pelos galões de sanguinolência falsa – cera de silicone para sangue coagulado, um composto de açúcar para as coisas que escorrem – que está sendo usado no set em The Weald and Downland Museum no West Sussex, onde a Batalha de Santo Albano (Henrique VI Parte II) está estrondeando. Também há uma hoploteca de primeira linha fazendo um trabalho rápido enquanto guerreiros vestidos em ferro saem mancando do set em vários estados de mau estado.
“A maioria dos atores nesta produção queria ser os próprios dublês” explica o armeiro Hamish Macleod. “e eles estiveram trabalhando em condições horríveis. Nós encenamos batalhas em nove polegadas de lama, com tempestades torrenciais caindo. Nós desenvolvemos um sistema de armadura que consegue aguentar esse tipo de castigo, mas quando fica demais, preferimos que a armadura quebre do que o ator, então tivemos nossa forja funcionando aqui para reparos contínuos.”
No calor da batalha, mal visível em um miasma de fumaça de campo de batalha, Adrian Dunbar, que interpreta Ricardo Plantageneta, está tirando nacos do inimigo com uma espada larga.
“Você está vestindo a armadura e tudo, e pensa, ‘Isso vai ser ótimo'”, diz o astro de Line of Duty. “Aí eles te dão uma espada, e pensa, ‘Ah, isso não é tão ruim’. E depois de dez minutos você está pensando, ‘Por favor, não posso fazer isso o dia todo’. Quero dizer, eu não sei mesmo como as pessoas se sustentavam em batalhas de verdade. Alguém viria e massacraria você porque você ficaria cansado demais para levantar uma espada.”
Plantageneta, que derrotou as forças lancasterianas em St Albans em 1455, é o grande rei que a Inglaterra nunca teve, diz Dunbar. “Ele é um homem de Yorkshire, chama uma espada de espada e continua com as coisas. O mundo dele está em um estado de fluxo, ninguém está seguro, pessoas estão sendo mortas a torto e a direito. Alguém, em algum lugar, tem que resolver isso, e pelo menos nessa história, Plantageneta fez seu melhor. Nós temos uma tendência a chamar primitivos de ‘selvagens nobres’. Acho que poderíamos virar isso e chamar os caras da nossa história selvagens nobres. Eles tiveram que ser selvagens — a expectativa de vida era muito curta, você se casava quando adolescente, tinha filhos quando tinha 20 anos, então a vida era uma grande pressa, então acho que esses filmes explicam mesmo esse ponto.”
Acima de tudo para Dunbar, The Hollow Crown conta uma história fabulosa. “Tem tudo — batalhas, poder sendo arrancado de pessoas, bruxaria — é o verdadeiro Game of Thrones. Acho que há muitos jovens, em particular, que assistem a Game of Thrones, então essas peças não serão tão alienígenas a eles quanto poderiam ter sido a públicos assistindo 30 ou 40 anos atrás.”
Certamente a Margaret de Anjou de Sophie Okonedo se encaixa no gênero fantasia. No curso de The Hollow Crown, Margaret, a esposa de Henrique VI, é exigida a envelhecer de princesa de conto de fadas a rainha guerreira e, ultimamente, a profetisa de olhos selvagens. É uma excursão de força para a estrela dos dramas da BBC Criminal Justice e Undercover. “Nós não gravamos na ordem cronológica, então um dia sou uma moça, no seguinte sou uma bruxa velha”, ela explica. “Fiz muita preparação na minha cabeça, para quando eu chegar a uma cena particular, eu meio que consigo lembrar onde estou, emocionalmente, e então penso [como] jovem ou penso [como] mais velha e, tomara, isso meio que acontece.”
Okonedo é igualmente impassível quanto às disputas bizantinas da corte medieval. “Margaret pensa que a vida dela tem um direito divino ao trono, e que os outros são canalhas. Ela ama muito e vive duro, e, na maior parte do tempo, a energia dela é canalizada na violência. Talvez se ela estivesse aí hoje, ela teria ido à política.” Todo mundo está disposto a apontar paralelos contemporâneos, mas seis horas de drama elizabetano é programa de alto risco. The Hollow Crown consegue alcançar espectadores através de quatro séculos? Benedict Cumberbatch não tem dúvida que sim.
“Estamos vivendo através de uma era dourada da TV. Casar o talento no cinema com o alicerce de todo o drama neste país, na forma de Shakespeare, trará muitos olhos novos para este material. Se o público tiver metade de diversão assistindo, da que tivemos interpretando, valerá muito a pena sintonizar nele.”
Tradução: Gi e Aline | Fonte
Confira esta matéria do jornal britânico The Sunday Times com uma entrevista exclusiva com Benedict Cumberbatch, onde ele fala do personagem Ricardo III em The Hollow Crown. A matéria inclui também depoimentos do diretor da série, Dominic Cooke, e do produtor, Sam Mendes, sobre Benedict.
Há algumas semanas, Benedict Cumberbatch e sua esposa, Sophie Hunter, compareceram a um evento do Presidente Obama em sua visita ao Reino Unido.
“Nós estávamos bem do lado do grupo da imprensa, e havia pessoas lá com lentes de fotografia. Quando eles perceberam que Obama demoraria mais outros cinco minutos, o grupo inteiro apenas foi pfft, pra cima de mim, pra cima do meu rosto. Eu estava tipo “quantas vezes você pode tirar uma foto de um perfil particularmente não atraente — de novo e de novo?’. Quero dizer, graças a Deus que Sophie estava lá, o que meio que desviou a atenção dos fotógrafos, como sempre deve ser. Mas foi vergonhoso.”
Depois, Cumberbatch conheceu o lider do mundo livre, um dos poucos homens que restaram que provavelmente são mais famosos que ele (em 2014, ambos apareceram na lista das 100 Pessoas Influenciais da Time). Não importa como você divida isso, Benedict Cumberbatch, o homem com o sobrenome que soa como peido em um banho, o homem que se parece com o Sid de A Era do Gelo (ambas descrições feitas por ele) de alguma maneira se tornou uma mega estrela colossal da multimídia macro-milenar.
Uma grande parte de sua fama é aquela coisa rara — merecida. Os primeiros dois filmes do novo Bard-buster da BBC, The Hollow Crown: A Guerra das Rosas, contém poucos vislumbres de Cumberbatch como Richard III. Um pouco é tudo que é pedido. Embora ele esteja cercado de praticamente todo grande nome da atuação britânica que não fez a primeira temporada de The Hollow Crown quatro anos atrás — Judi Dench, Hugh Bonneville, Sophie Okonedo, Michael Gambon — é Cumberbatch o magnético. Ele anda pelas cenas como um estilete roubando carteiras na audiência, assobiando uma cantiga.
Em parte, é porque apenas o Ricardo de Cumberbatch quebra a quarta parede, de repente se virando para a câmera para dizer seus solilóquios direto para a audiência, não muito diferente de Francis Urquhart em House of Cards. Mas sua performance durante os três filmes é uma grande aula de repressão, mostrando Ricardo III como um trabalho em andamento, modulações sendo alimentadas por conta gotas, para juntas formarem um retrato de como um jovem rapaz se tornou um dos psicopatas mais notórios da história. Então, em Richard III, o último filme, Cumberbatch está desencadeado, escorrendo malícia e “determinado a ser um vilão”.
“Eu estava fascinado com a ideia de ter a chance interpretar essa trajetória, muitos atores que intepretam o Ricardo não tem,” diz o ator, que completará 40 anos neste inverno. “Ele é alguém que foi trazido a uma família de Adônises (Sam Troughton interpreta Clarence, Geoffrey Streatfeild, Eduardo IV; Adrian Dunbar é seu pai, Ricardo de York]. Eles são espécies fisicamente bonitas, e ele é a criança deformada e aleijada. Ele é alguém que foi um verdadeiro estranho, uma ovelha negra; não perverso, mas alguém que precisou encontrar seu próprio caminho — e foi um caminho político. Ele era o mais esperto do grupo de diferentes maneiras.
Esse arco vem embalado em filmes que são tão sangrentos e abruptos quanto Game of Thrones, uma série que é (livremente) baseada nas Guerras das Rosas. “É a brutalização da guerra medieval. Ricardo testemunha a morte de seu irmão ao alcance da mão, e a execução sumária de seu pai, e suas vinganças brotam delas. Ele é feminizado, rejeitado e menosprezado, e tudo isso em um mundo dominado por homens — isso cria uma bomba relógio que começa bem cedo.”
As peças Henrique VI são alguns dos trabalhos de Shakespeare menos amados. Ainda assim a trilogia e a subsequente Ricardo III foram seus primeiros sucessos comerciais, e indiscutivelmente fazem muito mais sentido reembalados como televisão do século XXI. Os primeiros dois filmes funcionam quase como novela — um jogo de rixas entre duas famílias, York e Lancaster, e dentro destas famílias. Cumberbatch não aparece no primeiro filme, e diz que isso deu a ele alguma distância crítica.
“Como um membro do público do primeiro, posso dizer que o gênio da adaptação é o fato de que ele é condensado, completamente compreensível e totalmente fascinante. A luta é por vezes tão extensa no drama atual que manter o foco em quem é quem, quem está do lado de quem, e por que, é muito, muito difícil de fazer. Mas Shakespeare estava escrevendo para um público do qual tinha que manter a atenção — excitação e euforia tinham que existir, mas também ese desenvolvimento lento que obviamente o ouvido elizabetano conseguia receber.
“Os espectadores de televisão modernos estão famintos por isso, também. Nós vimos isso em todo episódio de drama doméstico, que seja The Sopranos — fale de famílias rivais — ou sagas como O Poderoso Chefão. Você podia prolongar esses três filmes para 14 episódios.”
Os filmes de Henrique, ele acrescenta, parecem politicamente relevantes agora mais do que nunca. “Tudo na política atual está lá nessas peças. Se trata de poder e todas as coisas que estão interconectadas com ele. Você tem virada de relações públicas, operações de bastidores, verdadeiras intenções sendo mostradas, momentos de vulnerabilidade total, exibicionismo. Você tem xenofobia, tem orgulho ultranacionalista, tem amor estilo pro-europeu mais inclusivo. Isso se harmoniza com tudo que está acontecendo na América e todos que está acontecendo com os debates neste país sobre qual é nosso status como uma nação.”
As palavras saem de Cumberbatch — muitas vezes ele vai se segurar e pedir desculpas por “tagarelar”, ou mencionar que ele poderia “falar por horas”, mas que era melhor não. A energia que você recebe dele na tela vem de uma leve tensão nervosa em pessoa — nascida, eu suspeito, de encontros com lentes telefotográficas como aquele que ele mencionou antes da conversa de Obama.
Nós nos encontramos no Hotel Soho durante a exibição de Ricardo III onde ele é o ator com a performance mais impressionante para um grupo de “formadores de opinião”, incluindo primeiros ministros e Tony Hall, o diretor geral da BBC. Quando a bebida dele chega — um coquetel elaborado que parece um canteiro ornamental em um copo — nota o salpico de pó branco no topo e diz: “Isso é açúcar de confeiteiro, eu gostaria de salientar.” Então ele percebe que fez uma piada do tipo que poderia fazer a comédia ser eliminada na impressão e transformada em uma referência a drogas. “Oh céus. Próxima manchete. Por favor não pense assim de mim.” Ele sabe que está constantemente sob observação e, embora entenda por que, ainda não está tão confortável com isso.
Bem, Ben, isso não vai embora tão cedo. Nosso encontrou vem depois que ele viajou rapidamente para Londres do País de Gales, onde atualmente está gravando a nova temporada de Sherlock. Antes disso, ele estava nos EUA fazendo Doutor Estranho, da Marvel, o primeiro no que poderia ser uma franquia de super herói infinita digna de pensão. “Strange” parece adequado — mais tarde, eu pergunto a Sam Mendes, o diretor cuja companhia está produzindo a temporada de The Hollow Crown, por que Cumberbatch é adequado para Ricardo.
“Eu acho que existe — como posso dizer isso? — uma grande inteligência e o que eu chamaria de sex appeal estranho. Obviamente ele não é sexy, Benedict, ainda assim, é. Acho que você pode dizer o mesmo sobre Ricardo III. Aliás, é necessário que ele seja sexy — a peça pede que ele seduza não uma mas duas mulheres, e ele fala abertamente sobre como ele se considera fisicamente um estranho, com sua própria aparência e como sua própria autoestima é baixa. Achei que ele [Cumberbatch] entenderia isso.”
Entre os britânicos que atualmente fazem cerco a Hollywood, Cumberbatch é de fato o diferente. Ele não tem a beleza felina de um Eddie Redmayne ou o refinamento de um Tom Hiddleston, mesmo que compartilhe da boa criação deles. (Surgiu a informação ano passado que Cumberbatch teve como antepassado um primo em segundo grau de Ricardo III). Quando você o escuta falar de Ricardo como a ovelha negra da família de espécimes de físicos perfeitos, ele poderia estar falando de si mesmo na primeira fila dos Oscars.
“Eu tive uma carreira que não é dependente da minha aparência – mas essa é uma grande liberdade para um ator, então eu não sou realmente assim tão vaidoso quanto a isso. Quando a mim mesmo, é claro, eu fico um pouco tipo ‘Deus, eu pareço uma merda’, mas como ator, eu nunca me importei.” Ele é muito esperto para não ver onde a analogia com Ricardo III está indo. “Oh, eu tive uma infância terrível e eu fui desesperadamente deixado de fora!” ele brinca.
“Não, eu tenho tido muita sorte. Eu acho que, como qualquer adolescente, você tem momentos em que você se sente que não pertence, mas eu não posso me arrastar em um poço de ansiedade e dificuldade. Eu tenho uma grande afinidade com pessoas que estão lutando para achar uma voz em um mundo cruel, absolutamente, mas isso não nasceu de uma tragédia pessoal, eu não diria isso. Não há nada para revelar aí.”
Apesar disso, ele interpretou vários personagens estranhos em sua carreira: sociopatas assexuais, intelectuais extremos, artistas e espiões. “Eu não vou negar o fato de que eu já interpretei alguns estranhos, eu não vou negar que já interpretei alguns intelectuais, mas eu também não vou negar que já interpretei alguns caras da porta ao lado, alguns caras comuns, pessoas com quem você sentaria e tomaria uma bebida em um pub. As pessoas querem fazer aquela coisa legal e organizada de desenhar uma linha para juntar os pontos. Eu estou apenas interessado em fazer com que esse gráfico salte para todos os lados, para que as pessoas comecem a franzir a testa.”
Dominic Cooke, o antigo director artístico do Royal Court, que dirige todos os três desses filmes de Hollow Crown, diz que o trabalho de Cumberbatch no teatro é facilmente ignorado: “Ele não interpreta só personagens estranhos. Eu vi Benedict fazer duas peças seguidas no National. Uma foi “After the dance”, de Terence Rattigan – ele estava interpretando esse bastante sofrido, mas muito convencional, homem inglês em 1939, em uma peça totalmente sobre linguagem e controle. Depois a próxima coisa em que eu o vi foi Frankenstein. Nos primeiros 20 minutos, ele estava pelado, fazendo uma dança moderna. Honestamente, eu não acho que exista um ator nesse país, ou provavelmente no mundo, que poderia fazer ambas as coisas tão bem. Essa é uma variedade incrível de habilidades.”
Mesmo assim, Cumberbatch não foi escalado como Ricardo III somente pelo seu talento. Ele foi escalado porque ele é Benedict Cumberbatch, o cara de Sherlock que aparece no Graham Norton; o cara adorado pelas Cumberbitches; o cara que as pessoas comparam com uma lontra em intermináveis memes na internet. Ele se tornou mais do que somente um ator muito bom. A esperança é que Cumberbatch possa ser suficiente para atrair um público mais jovem para assistir Shakespeare. Porque uma crítica que vem sendo feita a The Hollow Crown é a de que gasta muito do dinheiro da BBC para o deleite de um público relativamente pequeno. É arte elitista.
“Eu acho que essa é das coisas maravilhosas em se escalar alguém como Benedict – eu espero que ele traga um público com ele,” Mendes diz. “Além de ser um ator brilhante, ele também é bastante conhecido, e tem um público grande na televisão, juntamente com Hiddleston e todo o restante. Você tem que alcançar aquela pessoa que você sente que está por aí, e esperar que ela encontre.”
“Eu era essa pessoa. Eu fui a Stratford quando tinha 14 anos e sentei lá resmungando sobre excursão da escola para assistir O Mercador de Veneza. No momento em que eu saí, eu estava fisgado. Eu só esperto que existam jovens que irão fazer o mesmo aqui.”
Ele está certo. E se Cumberbatch, o homem para o qual o mundo todo é um palco, não consegue fazer com que os jovens assistam Shakespeare, quem consegue?
Tradução: Bru, Aline e Juliana | Fonte: Cumberbatchweb | Londonphile