O canal MASTERPIECE PBS, que exibiu The Child In Time nos Estados Unidos no último dia 1º, liberou ontem uma entrevista exclusiva que Benedict concedeu ao seu podcast. Ele falou extensamente sobre a produção do telefilme e ainda arrumou um espaço para falar um pouco sobre Patrick Melrose. Nós traduzimos a entrevista na íntegra, mas gostaríamos de avisar que ela pode conter spoilers, tanto para The Child In Time quanto para Patrick Melrose. Confiram-na abaixo:
Jace Lacob: Eu sou Jace Lacob e você está ouvindo o MASTERPIECE Studio.
Para o escritor de livros infantis Stephen, tudo para no dia em que sua filha de quatro anos de idade desparece de vista num mercado. Pode ter levado apenas um segundo, mas sua vida profissional, seu casamento, o charme gentil e sereno de sua vida em Londres – todos são despedaçados para sempre quando Kate some misteriosamente.
*Clipe de The Child in Time*
Jace: O ator Benedict Cumberbatch interpreta Stephen e também é um dos produtores executivos da adaptação. O pai sofrido é um papel bem distante de seu super detetive na Sherlock do MASTERPIECE. Cumberbatch se juntou à nós no meio de uma turnê de divulgação particularmente movimentada para discutir como foi voltar ao trabalho do escritor Ian McEwan nesse filme, o primeiro filme de sua produtora.
Jace: E nesta semana temos a participação do produtor executivo e estrela de The Child in Time, Benedict Cumberbatch. Bem-vindo.
Benedict: Obrigado, obrigado por me receber.
Jace: Você não é apenas o protagonista, mas também um produtor executivo em The Child in Time. Você já trabalhou em outra adaptação de McEwan, Desejo e Reparação.
Benedict: Sim.
Jace: O que no romance de McEwan o atraiu para este projeto tanto como ator quanto como produtor?
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Em virtude do lançamento de The Child in Time nos EUA no próximo dia 1º, o canal americano PBS Masterpiece tem liberado alguns vídeos – que misturam entrevistas, cenas dos bastidores e trechos do filme – nos últimos dias dias. Apesar de compartilhá-los nas nossas redes sociais, achamos que seria melhor fazer um post com todos, assim ninguém perde nada! Confiram-nos abaixo:
Nos dois vídeos acima, Benedict fala: “Eu acho que é uma história muito rica, o que vai emocionar muitas pessoas. Quanto mais tempo você passa com ela, mais riqueza você encontra nas entrelinhas que só emergem na escrita.”
Nesse, a atriz Kelly Macdonald conta que ela ama Sherlock e que é a segunda vez que ela trabalha com alguém do elenco, tendo trabalhado anteriormente com Andrew Scott. Ela ainda diz que ela e Benedict riram do fato de que ela tinha acabado de gravar Holmes & Watson – nova adaptação das histórias de Conan Doyle estrelada por Will Ferrell e John C. Reilly – e que o filme é “muito diferente da série, claro”, mas que “o próprio Benedict disse que está com um pouco de inveja”.
Já neste, Kelly conta que se deu muito bem com o Benedict, apesar de eles não terem tido muito tempo antes das filmagens para se conhecerem. “Eu acho que sou mais velha do que ele, mas ele parece um irmão mais velho. O tempo todo revirando os olhos pra mim”, ela disse, em tom cômico.
Ela também elogia a atriz Beatrice White, quem interpreta a filha de seus personagens, Katie, e brinca:
“Ela se apaixonou totalmente pelo Benedict, o que é muito fofo, mas eu meio que queria…sabe…você meio que quer ser o favorito (risos). Eu queria que ela gostasse mais de mim, mas isso nunca ia acontecer, então eu meio que desisti disso rápido”.😂💗
Atualizaremos o post caso saiam outros!
Quanto tempo!
Por conta do lançamento do telefilme na Coreia do Sul, agora temos mais um vídeo! Confiram-no abaixo:
Ele traz a continuação do que Benedict disse no primeiro vídeo do post:
Eu acho que é uma história muito rica, o que vai emocionar muitas pessoas. Quanto mais tempo você passa com ela, mais riqueza você encontra nas entrelinhas que só emergem na escrita. Ele pensou profundamente ao escrever essa história. E o Ian [McEwan] participou da leitura do roteiro e fez muitos elogios.
A ideia de perder uma filha. E então não saber…não ser capaz de perdê-la completamente. Stephen quase faz automutilação tentando ser pai novamente de alguém que não está mais lá.
Na última quinta-feira (22), Benedict participou de uma conferência de imprensa de The Child in Time em Londres e pegou todo mundo de surpresa. Nós fizemos a cobertura do evento em nossas redes sociais, mas ela consistiu mais em fotos compartilhadas pelos jornalistas do que em informações. Estávamos esperando as entrevistas serem divulgadas e eis que já temos a primeira, publicada hoje pelo Inquirer.net. Confiram abaixo a tradução:
Benedict Cumberbatch: De Sherlock Holmes a presidente
Por Ruben V. Nepales
Acrescente “presidente” à lista dos muitos papéis distintos de Benedict Cumberbatch. Mas esse título mais recente é de verdade – o ator agora é presidente da Lamda (London Academy of Music and Dramatic Art), a escola de teatro mais antiga do Reino Unido, da qual ele graduou em 2000.
Nas telas, Benedict continua a brilhar em dois projetos televisivos. Ele assume o papel principal em “Patrick Melrose”, uma série limitada baseada em cinco romances semi-autobiográficos escritos por Edward St.Aubyn, que foram compilados num volume único intitulado “Os romances de Patrick Melrose”. O aclamado ator de teatro interpreta o alter ego fictício do autor, Patrick, que vem de uma família inglesa rica e disfuncional, lidando com mortes, álcool e vício em drogas.
Em “The Child in Time”, Benedict não apenas atua, como também produz. Na primeira produção dramática da sua produtora, SunnyMarch, ele assume o papel do protagonista principal no romance premiado de Ian McEwan – Stephen Lewis, um escritor de livros infantis cuja única filha, Kate, desaparece enquanto os dois estão no supermercado. É uma história de viagem no tempo marcada pelo trauma e a tristeza.
Na tela grande, Benedict tem vários projetos iminentes: “Vingadores: Guerra Infinita”, “Mowgli” (imagine sua voz melíflua como Shere Khan), ”Rio”¹, “O Grinch”, “Gypsy Boy”, ”The Man in the Rockefeller Suit”², “Rogue Male” e “Magik”³.
Mas, atualmente, o papel de maior prioridade tem sido o de pai de Christopher Carlton e Hal Auden, seus filhos com sua esposa Sophie Hunter, uma diretora de teatro e ópera.
Trechos da nossa recente conversa no hotel The May Fair em Londres, onde ele apareceu tranquilo vestindo uma camisa de cambraia, camiseta e jeans escuros: Ler mais
Como torcíamos para que acontecesse, Benedict participou do painel do canal americano Masterpiece PBS no Winter Television Critics Association Press Tour, evento da associação americana de críticos de conteúdo para TV, para promover o telefilme The Child in Time, que estreará nos Estados Unidos no dia 1º de abril.
De Londres, Benedict participou via satélite do painel, que contou com as presenças de sua coestrela Kelly Macdonald e de Rebecca Eaton, produtora executiva do canal. Como de costume, filmagens não foram permitidas, mas os críticos presentes recorreram ao Twitter para compartilhar informações sobre o que consideraram ser um painel animado. Confiram abaixo como foi:
The Child in Time foi ao ar há pouco pela BBC One e, com isso, as críticas oficiais estão saindo! Confira abaixo trechos de algumas que já encontramos.
Atenção: PODE CONTER SPOILERS!
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Com o cruzamento ininterrupto entre dois períodos de tempo, além de um roteiro resoluto e sem rodeios, Cumberbatch está no topo de sua forma como o sofrido pai que está lutando para suportar a passagem do tempo, o colapso de seu casamento devido a culpa e a dificuldade em continuar após o desaparecimento de sua filha.
Benedict se afasta de seus glamourosos personagens, tipo Sherlock Holmes, para interpretar um homem comum, Stephen Lewis, e ainda que ele tenha se tornado famoso por suas interpretações de personagens diferentes e às vezes excêntricos, Benedict está no seu auge quando está interpretando Benedict.
Trazendo seu charme e humildade para a tela, Cumberbatch frequentemente entrega suas melhores performances quando volta sua atenção para o papel de cidadão comum.
Mas é esse lado comum que forma a espinha dorsal da performance do Benedict e uma que nos lembra da sua absoluta capacidade de atuação. Nada de floreios, nada de efeitos, nada de fantasias – apenas alguém lançado em circunstâncias extraordinárias com uma habilidade tranquila e confiante.
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O crítico deu cinco de cinco estrelas para o telefilme e escreveu:
Benedict Cumberbatch sofre com classe
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Ian McEwan, que escreve de forma tão forense sobre isolamento, apresenta um desafio para adaptação para as telas. Suas histórias precisam de atores que são bons em interpretar pensadores. Graças àquele seu detetive esperto, ninguém hoje em dia tem pensado tanto quanto Benedict Cumberbatch.
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Sua performance foi toda embasada na sutileza inglesa, sobre lidar com a dor. Até mesmo quando sua pequena Kate desaparece, foi ainda mais agonizante porque ele não conseguia se permitir gritar até seus pulmões se despedaçarem. Kelly Macdonald, como sua esposa Julie, fez todas as expressões violentas antes de se recolher em isolamento.
O roteiro cuidadoso de Stephen Butchard concedeu alguns momentos de irrupção a Cumberbatch e ele se jogou neles, os olhos iluminados com sentimentos desenterrados: um ilusão febril quando ele pensou que tinha encontrado Kate numa escola; um discurso carregado de paixão pela alegria de uma criança ao descobrir o alfabeto.
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À frente está a jornada emocional de Stephen, desde a devastação até o cauteloso renascimento. É uma história que depende fortemente de Cumberbatch, e ele lida bem com isso. Ele é muito simpático como Stephen – engraçado e triste com um reportório charmoso de palavrões britânicos. Como heróis românticos, ele e Macdonald (natural como o ar, como sempre) são ternos sem serem sentimentais. Você gosta deles e torce por eles.
4/5 estrelas – TRAUMATIZANTE. Paralisante, assustador e viciante. Cumberbatch brilha.
Assistir aos primeiros dez minutos de The Child In Time é inegavelmente doloroso. Cada segundo de angustiante e ofuscante pânico vivenciado pelo pai Stephen (o sempre majestoso Benedict Cumberbatch) com o desaparecimento repentino e inexplicável de sua filha é transmitido pela tela – é paralisante, assustador e viciante. A hora e meia restante não é diferente. Assistir a The Child In Time é completamente traumatizante, ainda que ele seja um dos melhores telefilmes a agraciar a BBC este ano.
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Benedict Cumberbatch entrega sua performance mais profunda na tela em algum tempo. O chamado da fama pode ter chegado para Cumberbatch na forma de um áspero detetive televisivo, um feiticeiro/super-herói na engrenagem do UCM e a voz de um dragão vilanesco da Terra-Média, mas The Child In Time exibe um calibre Shakespeareano do estimado ator usualmente reservado para o interior das paredes de um teatro. A narrativa gira em torno de sua performance torturada, e Cumberbatch prende sua atenção com facilidade durante todo o tempo.
Lembrando que o próprio Ian McEwan elogiou o telefilme e só teve palavras gentis para descrever o Benedict, dizendo:
”Muito estava nos ombros de [Cumberbatch]”, ele diz. ”Desde o começo o projeto inteiro foi identificado por ele. Foi ele quem quis fazer [a adaptação], e eu tenho a sensação de que ela não teria sido feita sem o Benedict”.
”Ele traz o peso de seu enorme talento, e o fato de ele ser uma figura tão reconhecível agora – ele está prestes a se tornar um tesouro nacional”.
Tradução: Gi | Fontes: O link de cada crítica está no nome de sua respectiva fonte.
E com a estreia de The Child in Time no canal Masterpiece PBS esta noite, os críticos americanos também estão publicando suas opiniões. Confiram abaixo alguns trechos:
É um desafio assistir “The Child in Time”, especialmente no começo, já que ele tece seu conto sobre perda indo para trás e para frente cronologicamente. Nós vemos a atual vida emocionalmente simplória do escritor de livros infantis Stephen Lewis (Benedict Cumberbatch) justaposta com flashbacks do desespero do ano anterior, quando sua jovem filha Kate desaparece enquanto está na rua com ele.
Por mais brutal que seja, imergir no passado de novo e de novo serve vários propósitos. Informa os telespectadores sobre o colapso do casamento de Stephen com sua mulher em luto Julie (Kelly Macdonald), mantém a dor fresca para os telespectadores para que nós entendamos o purgatório diário do Stephen no presente, e também nos introduz ao conceito de como o tempo não é meramente um experiência linear quando o assunto é emoção. O tempo pode curar todas as feridas, mas as feridas também podem ser reabertas e vivenciadas de novas formas.
A adaptação do romance de McEwan por Stephen Butchard não desperdiça cenas. Cada frase de diálogo soa tão verdadeira, que faz os ossos internos da orelha zumbirem. Felizmente, Cumberbatch e Macdonald sabem como comunicar a autenticidade de cada emoção e situação de forma sutil, porém poderosa. Por mais que sua angústia e desespero possam rasgar nossas almas, eles são igualmente devastadores nos momentos menores, como quando eles tentam uma reconciliação docentemente desajeitada.
(…) O telespectador precisa seguir com Stephen nessa jornada estranha e íntima porque só suportando a tortura e a confusão que a catarse consegue ocorrer. Há esperança, há outro lado para aqueles que ficaram para trás, e em “The Child in Time” ele é conseguido com esforço, mas essa conclusão é construída de forma deliberada e bonita.
A-
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A adaptação da BBC, um drama de 90 minutos, se sustenta por seus próprios méritos. Não é uma adaptação completamente fiel, nem poderia ser. Algumas reflexões do livro sobre a natureza do tempo e o papel do tempo na compreensão do universo empobrecem uma dramatização.
Ao invés disso, é um retrato poderoso, de alto nível e às vezes dolorosamente escaldante da dor, da culpa e da perda. E ter lido o livro está longe de ser necessário para apreciar o que acontece aqui.
The Child in Time não é um thriller sobre uma criança desaparecida. É uma elegia, um retrato angustiante da agonia túrbida da perda e da desorientação que a acompanha.
A performance de Cumberbatch faz dar certo. Ele é tão tenso, tão no limiar do colapso, que você sente a inquietante dor que existe ali, você intui a incompreensão que o envolve. Macdonald também é magnífica – a tortura quieta da progressiva mistura de culpa e afeição que a Julie sente é visceralmente vista.
Esse é um drama adulto incontaminado por melodrama, sobre angústia e, no final das contas, sobre as pequenas esperanças que mantêm aqueles em luto vivos e quase alertas.
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Mas o tema de McEwan, celebrado delicadamente na adaptação de Stephen Butchard, na direção de Julian Farino e nas invejáveis performances de Cumberbatch, Macdonald e Moore, especialmente, é sobre a natureza da própria infância, sobre como ela se torna subordinada às rotinas cotidianas da vida adulta. Tanto Stephen quanto Charles estão procurando por crianças, mas de formas diferentes com resultados diferentes. Stephen acredita que está procurando por sua filha, mas nós entendemos que ele está buscando reacender sua própria juventude e paixão. Charles, em contraste, está desesperado para virar criança de novo, não se dando conta de que sua obsessão gerará insanidade e tragédia.
Crianças se perdem – estamos acostumados a esse fato como a fundação da literatura dramática – mas “The Child in Time” é sobre a criança que pode se “perder” quando entramos na vida adulta. Essa perda também é profunda.
Tradução: Gi | Fontes: O link de cada crítica está no nome de sua respectiva fonte.
Como anunciado na sexta-feira passada, a edição de 18-24 de setembro da revista britânica The Big Issue traz uma entrevista exclusiva com o Benedict. Confira abaixo a tradução e os scans da publicação:
Voz no ermo
Ele foi criticado após falar em prol dos refugiados e dos sem-teto. Agora Benedict Cumberbatch, estrelando uma adaptação do The Child in Time de Ian McEwan, está de volta. E diz que fará tudo de novo.
Palavras: Adrian Lobb
Benedict Cumberbatch está de volta. E tendo passado os anos desde que Sherlock começou em 2010 se estabelecendo como uma superestrela global, ele agora está usando um pouco desse poder para contar histórias que o comovem.
Sua nova produtora, SunnyMarch, faz sua estreia na televisão produzindo uma adaptação do The Child in Time de Ian McEwan para a BBC One. É desolador, lânguido, humano, repleto de amor e perda. A um milhão de milhas de distância, de várias formas, de Doutor Estranho ou Sherlock ou Star Trek.
”O livro original é bem uma crítica a uma assustadora distopia pós-Thatcher, um lugar levemente Orwelliano”, ele diz. ”São camadas muito ricas de se explorar. Mas nós não queríamos que ele tivesse uma opinião sobre a política educacional. Não estamos tentando fazer um comentário de caráter social, longe disso, essa é uma obra focada nos personagens que explora ideias de perda e infância”.
Como um retrato de dor, The Child in Time é sutilmente devastador. O ator de 41 anos interpreta o escritor de livros infantis Stephen Lewis, cuja filha pequena desaparece durante uma ida às compras. Sua jornada por essa devastação é o coração de um drama poderoso, que lida com dor, masculinidade, paternidade, perda, cura e tempo.
Cumberbatch oferece o tipo de performance íntima e multifacetada da qual não temos visto muito durante suas recentes aventuras de blockbuster no superestrelato.
”Também vivemos numa era em que a TV e as redes sociais significam que há mais olhos na possibilidade assustadora de uma criança desaparecer, então estamos interessados em deixar o aspecto procedural do drama de lado”, Cumberbatch continua. ”Não é isso que o livro explora nesta tragédia. É o mesmo em relação à política, nós sentimos que seria enganoso. Há uma ideia do que significa ser supervisionado, seja pelo estado, por um só pai ou uma mãe, por avós, mãe ou pai – nós exploramos todas essas coisas”. Ler mais
O site do jornal britânico The Telegraph postou hoje uma matéria exclusiva sobre The Child in Time. Eles conversaram com Benedict, Kelly Macdonald, o roteirista Stephen Butchard, o diretor Julian Farino e o escritor Ian McEwan nos bastidores das gravações.
Eles também divulgaram três novas imagens do telefilme, que agora estão em HQ na galeria. Confiram abaixo:
Benedict Cumberbatch: ”Abordar um drama sobre a perda de uma criança pode parecer uma escolha esquisita para um novo pai”
Por Craig McLean
É uma radiante tarde em Abril e, parado na minha frente, vestindo apenas calções de banho azuis, está Benedict Cumberbatch. Estamos num complexo de escritórios reutilizado perto de Uxbridge, no set de The Child in Time, uma adaptação em longa-metragem do romance de Ian McEwan lançado em 1987 e ganhador do Whitbread Prize.
Cumberbatch interpreta Stephen Lewis, um escritor de livros infantis cuja filha de três anos de idade desaparece enquanto os dois estão no supermercado. É um terror que coloca uma tensão insuportável em seu casamento com Julie (Kelly Macdonald) e em seu outro compromisso profissional: participar de um comitê do governo Thatcheriano conhecido como Comissão Oficial de Assistência Infantil. Stephen é um homem desancorado pela perda, flutuando pela vida num isolamento cheio de sofrimento. Mas, no momento, Cumberbatch está preocupado com seu tanquinho.
”Eu fico tendo que dizer para o diretor, ‘Meu corpo tava bonito naquela cena?”’, ele me conta, em tom de brincadeira, enquanto vai em direção ao banheiro para filmar a cena em que Stephen se submerge na banheira de seu apartamento vazio e ecoante. ”Dá para ver meu tanquinho? Talvez eu deva escondê-lo…” ”Não é por motivos de imagem corporal ou qualquer coisa sem noção assim!”.
Cumberbatch, 41, esclarece, rindo, enquanto ele se seca após uma quarta imersão. ”Estou treinando para o próximo filme da Marvel [no qual ele vai reprisar seu papel como o místico super-herói Doutor Estranho, fazendo uma participação no terceiro filme dos Vingadores, Infinity War], ao passo que Stephen é um homem que está tendo espasmos de dor e uma inércia horrenda decorrente do luto, do pesar.
”É uma enorme onda de todos os tipos de coisas. E esse é um ano posterior ao desaparecimento de sua filha, então ele não tem cuidado de si mesmo. Ele tem bebido, tem comido qualquer coisa que ele puder encontrar numa embalagem de plástico. Não é como se ele estivesse numa dieta da Marvel e malhando como eu tenho feito”. Ler mais
A edição de 23-29 de setembro da revista de entretenimento britânica Radio Times traz uma matéria sobre The Child in Time, incluindo comentários feitos por Benedict e o roteirista Stephen Butchard numa entrevista coletiva concedida a várias fontes midiáticas. Confira abaixo a tradução e os scans da revista:
”O ponto de partida era eu”
Benedict Cumberbatch diz que interpretar um pai sofrido pareceu pessoal – e o roteirista Stephen Butchard revela a história de amor por trás da dor em seu arrebatador novo drama sobre o desaparecimento de uma criança
Por Kasia Delgado
Como você suportaria o desaparecimento de seu filho? Essa foi a realidade horrorizante que Benedict Cumberbatch, pai de duas crianças pequenas, teve que enfrentar em seu papel em The Child in Time, a adaptação feita pela BBC1 do romance de Ian McEwan sobre um homem cuja filha é raptada no supermercado, lançado em 1987. É um relato angustiante e doloroso de tortura parental.
”Houve um momento’’, diz Cumberbatch, ”em que eu disse para o diretor, ‘temo estar ficando transtornado demais nessas cenas’. Eu suponho que seja mais fácil imaginar (sendo pai), mas não é tão difícil assim de se imaginar. Essas circunstâncias são angustiantes…..Elas são inimagináveis para qualquer pai ou mãe, para qualquer pessoa que tem crianças em sua vida. É horripilante e muito, muito inquietante’’.
Particularmente comovente para Cumberbatch foi uma cena no filme de 90 minutos em que seu personagem, Stephen Lewis, um escritor de livros infantis, acha que viu sua filha Kate de novo, três anos após ele a ter perdido de vista. ”Tudo se abre com um martelo duplo de tristeza: ele está reimaginando aquela perda, vivenciando tudo aquilo de novo, e sentindo a humilhação de correr atrás de uma garotinha que ele acha que é sua filha’’.
Quando publicado há três décadas, o romance de McEwan venceu o Whitbread Award e foi declarado ”uma conquista extraordinária’’ pelo The Guardian, enquanto que o The Times concluiu que ”artisticamente, moralmente e politicamente, ele brilha’’. Christopher Hitchens o chamou de ”a obra-prima’’ de McEwan, e o livro passou a ser estudado por estudantes de GSCE e A-level por toda a Grã-Bretanha.
”Sou louco pelo McEwan’’, diz Cumberbatch, falando para a Radio Times durante um evento de divulgação do drama para a imprensa, ”e eu não acho que teria ficado tão interessado na história por si só se não fosse uma adaptação do trabalho tão maestral que é o romance original de Ian McEwan”.
Também foi o personagem principal que atraiu Cumberbatch – um homem comum de classe média casado com Julie, interpretada de forma tocante por Kelly Macdonald. ”Eu tinha um desejo de interpretar alguém mais parecido comigo’’, diz o ator de Sherlock. ”Alguém que não exigia algumas horas na maquiagem ou uma boa quantidade de estrênuo mascaramento ou alguma coisa transformativa’’, ele diz.
”No que diz respeito a saber como eu ia interpretar Stephen, foi bem angustiante – foi a primeira vez que fiz isso em algum tempo. Sou eu, no sentido de que não há uma grande diferença na qualidade vocal, no jeito de me movimentar. Eu até queria me sentir realmente relaxado no figurino, então trouxe minhas próprias roupas, nós usamos algumas’’. De fato, hoje ele está vestindo uma jaqueta azul escuro e calças idênticas às que Stephen veste no filme. ”O ponto de partida era eu’’, ele diz.
Enquanto o romance de McEwan é ambientado no governo Thatcheriano- e é um retrato condenatório dele – o drama da BBC perde sua crítica política, existindo numa era não descrita com um primeiro ministro homem cujo partido político não é especificado. Ao invés disso, o drama foca no relacionamento entre Stephen e sua esposa no despertar de seu trauma doméstico.
”O livro ficou em mim desde que o li há 30 anos’’, diz o roteirista Stephen Butchard, ”e, para mim, ele sempre foi uma história de amor mais do que qualquer outra coisa, dessas pessoas que encontram força para continuar’’.
Também central para o drama é a questão de como nós devemos educar nossos filhos, e o quão envolvido o governo deve ser. ”Você sempre vai discutir sobre isso’’, diz Cumberbatch, ”porque estamos criando crianças o tempo todo e tentando fazer melhor. Mas, na verdade, é um drama focado nos relacionamentos”.
O drama lindamente filmado observa como um casal lida com uma coisa com a qual eles nunca pensaram que teriam que lidar – mas, ao lado do tormento, há uma sensação de esperança.
Então o que McEwan achou dessa versão focada nos relacionamentos de seu romance? ”Na verdade, Ian ficou extasiado com as coisas que Stephen deixou de lado’’, diz Cumberbatch. ”Ele disse, ‘Se eu estivesse escrevendo o livro agora, eu provavelmente ia querer fazer o mesmo tipo de edição nele – realmente focar nos relacionamentos’. Ele achou que ficou mais poderoso por causa disso’’.
McEwan participou da leitura do roteiro, mas fora isso deixou Butchard e o elenco fazerem tudo da forma como queriam fazer. ”Ele estava animado com o trabalho que Stephen já tinha feito, então suas observações foram poucas e muito úteis’’, diz Cumberbatch.
”Se ele tivesse oferecido qualquer coisa [sobre o papel], eu teria aceitado, mas ele simplesmente foi quietamente respeitoso. Ele disse ‘Olha, se tem alguma coisa que você gostaria de me perguntar, sinta-se à vontade para me ligar, a porta está sempre aberta’. Talvez daqui a anos após o filme ter sido exibido, eu perguntarei para ele o que ele achou’’.
O sequetro de crianças tem sido o tema de uma avalanche de dramas televisivos nos últimos anos, desde o thriller da ITV The Guillty e o The Missing da BBC1 até The Moorside, a dramatização do caso Shannon Matthews lançado este ano pela BBC1. Butchard ficou preocupado com a possibilidade de The Child in Time ser visto como outro drama medonho sobre sequestro? Ele temeu que a audiência estivesse cansada?
”Eu pensei nisso sim’’, ele diz, ”e eu escrevi o roteiro e esperei 18 meses e isso foi em parte porque parecia haver um excesso de dramas sobre crianças desaparecidas, em sua maior parte relacionados ao crime, e thrillers. Até mesmo Broadchurch, que não era abertamente sobre sequestro de crianças, tocou no assunto. Eu sabia que The Child in Time era completamente diferente, mas é bom que tenhamos tido esse intervalo. Acho que agora há uma distância suficiente entre os dramas sobre sequestro de crianças e esse, que é realmente sobre a beleza de encontrar algum significado após tudo isso’’.
Enquanto Cumberbatch queria parecer, soar e se mover exatamente igual a ele mesmo enquanto interpretava Stephen, ele diz que estava determinado a não contaminar sua vida familiar com os pensamentos de agonia de seu personagem, apesar de ter que gravar algumas cenas de partir o coração 40 vezes ou mais por oito horas ao dia.
”É incrivelmente nocivo levar o trabalho para casa e eu não queria levar esse assunto para nossa vida familiar. Sophie [Hunter, sua esposa] não leu o roteiro e não tinha lido o livro, então esse é um exemplo de como eu tentei separar o trabalho [de sua vida em casa].
”A história vai afetar pessoas que a lerem e assistirem a ela, mas ao mesmo tempo é um conto enriquecedor e amoroso de resistência e cometimento ao amor –um amor que existia antes e resistirá após essa aceitação horrível de uma ausência. A salvação nesta história de perda muito, muito sombria”.
Tradução: Gi
Leia mais um artigo em que Benedict conversou ao jornal Metro UK em que falou de como foi atuar em The Child In Time, dos efeitos que o personagem Stephen Lewis causaram e de um spoiler de Game of Thrones que levou. Confira!
Por Keith Watson
Nós ficamos tão acostumados a Benedict Cumberbatch rodopiar palavras e ideias com abandono estonteante em Sherlock — e passar pela tela em blockbusters de Hollywood — que é fácil esquecer que, por trás da bravata, esconde-se um ator de sensibilidade marcada.
The Child In Time, a primeira adaptação de um romance de Ian McEwan para a TV e um projeto perto do coração do ator (ele também é o produtor), é um lembrete desolador do outro lado de Cumberbatch. Seu personagem Stephen, um ator de livros infantis sem pretensões, está na outra ponta do espectro extravagante de Sherlock.
A história de um casal arruinado pelo desaparecimento da filha pequena deles, The Child In Time começa com todos os ingredientes de um suspense mas logo evolui em um estudo da queda pelo sofrimento. Enquanto a caçada de Stephen pela filha que ele se culpa por perder se transforma em sua obsessão, ele causa uma divisão entre si e sua esposa Julie, interpretada por Kelly Macdonald.
“Se trata de lidar com a perda de um filho e no que focamos quando isso acontece. Como nós reagimos? Como sobrevivemos?” Cumberbatch observa, se dobrando em uma poltrona no lounge da BBC onde nos encontramos.