O site Collider.com publicou uma entrevista feita com Benedict e os co-criadores de Sherlock, Mark Gatiss e Steven Moffat, na San Diego Comic Con, realizada no final de julho. Eles falam sobre a quarta temporada, prevista para 2017 e que promete ser a mais sombria, e sobre o futuro da série.
A amada série Sherlock irá retornar em 2017 com a quarta temporada, e o ator Benedict Cumberbatch e os co-criadores Steven Moffat e Mark Gatiss foram recentemente a Comic Com pra dar algumas pistas sobre o que os fãs podem esperar dos próximos três episódios. Os três, que não são de revelar segredos, foram cautelosos em suas respostas, mas a paixão deles pelo material e pelos personagens ficou definitivamente clara.
Durante a entrevista, eles falaram sobre a evolução de Sherlock Holmes, sobre o porquê de Moriarty ainda ser um peso para ele, que a quarta temporada é tão sombria como a ‘escuridão no fim do universo’, como o vilão de Toby Jones é diferente dos vilões anteriores da série, o que Sherlock pensa, se ele alguma vez já encontrou o Doutor Estranho, e porque eles adorariam continuar a série, mas nunca à custa da qualidade.
Steven e Mark, quando vocês estão lidando com a evolução do personagem, ao longo das temporadas, quais são as coisas em que Sherlock Holmes nunca pode mudar?
Steven Moffat: Seu casaco e sua cueca. O que é imutável em Sherlock Holmes? Ele favorece a razão sob a emoção, mas na verdade por baixo disso, há muita emoção acontecendo. Você não pode de repente fazê-lo ordinário porque ele odiaria isso. Ele não irá repentinamente ser outra pessoa. Eu não sei se ele exatamente se suaviza. Ele se torna mais humano e mais adepto a se encaixar com muitas pessoas, mas ele permanece separado da raça humana porque acha que esse é um melhor lugar para observá-la. Ele fica no topo da montanha porque lá, ele pode ver claramente.
Mark Gatiss: Isso é o que torna os personagens interessantes. Se Sherlock tivesse começado sendo um homem descomplicado, nós não estaríamos falando dele agora. Se ele se tornasse um, isso sim seria interessante. Mas você tem que dar a ele um lugar para ir, como Doyle fez. Aquele reservado e estranho jovem homem que o Doutor Watson encontra, bem no começo, não é o mesmo homem que conta com John Watson como seu único amigo. Ele pode fazer as coisas muito melhores agora, mas ele nunca pode se tornar um de nós. Caso contrário, ele não é Sherlock Holmes.
Moffat: Ele pode ser sensato e engraçado. Ele não era assim, no começo. Mas com o tempo, ele brinca com muitas pessoas. Ele tem uma sabedoria que ele não tinha na fase inicial. Mas ele fica no topo da montanha, e ele irá morrer lá em cima. Ele não irá mudar isso.
Benedict, como tem sido ter um personagem com quem você tem uma dança, a cada poucos anos? Tem sido familiar, mas também novo e diferente a cada vez?
Benedict Cumberbatch: É encantador. É familiar, mas mesmo assim nós não poderíamos fazer, se fosse exatamente os mesmos passos. Isso é o que é brilhante no roteiro. Ele continua a nos desafiar e continua se desenvolvendo. Você pode ir bastante longe com um personagem que começou moralmente um sociopata e obcecado com o trabalho. Você pode aperfeiçoar a genialidade porque ela não é a perfeição. Seu nível, sua prática e sua metodologia, são quase desumanos. Então, tem sido um arco fantástico de interpretar, e rapaz, como as coisas andam nessa temporada! Poder voltar para isso e reunir a banda, e sendo familiar, mas diferente, é ótimo.
Quão diferente está o Sherlock agora, daquele Sherlock que encontramos na primeira vez?
Benedict: Ele partiu de alguém que era sociopata, obcecado com trabalho e levemente amoral, para alguém que tem um certo grau de vida pessoal, que é muito, muito pessoal, com A Mulher, ou Irene Adler. Com suas interações com as pessoas, ele se torna melhor. Ele tem que entender o mundo. Isso é muitíssimo a influência de John nele. Mas como muitas amizades e relações no mundo, isso nasce da necessidade. Torna-o melhor. Há um pragmatismo nisso. Não é sentimental ou um capricho. É nascido da necessidade.
Por que Moriarty é alguém que ainda é um peso para Sherlock, mesmo ele não estando mais lá?
Benedict: Eu acho que é a primeira vez que ele realmente encontra um igual, e isso deixa uma marca. É um inimigo, e inimigos interferem muito em sua psicologia. Não são apenas entidades físicas que estão presentes. É uma questão do medo que elas representam. E acho que é por isso que Moriarty triunfa. Ele aterroriza a mente de Sherlock. É o medo que permanence.
Ele tem um estranho respeito por Moriarty?
Benedict: Absolutamente! Sim, absolutamente. Eles são lados diferentes da mesma moeda, e ele reconhece isso. Sherlock está do lado dos anjos, mas não pense que ele é um deles. Ele usa meios similares, mas parece ser por um propósito melhor, assim se espera.
Vocês estão abordando alguma história especifica de Sherlock Holmes, na quarta temporada?
Moffat: Todas as três histórias são baseadas, como de costume, com uma extensão maior ou menor, nos originais de Doyle, mas você deve descobrir quais partes.
Benedict, como é trabalhar com escritores como Steven Moffat e Mark Gatiss, que são tão apaixonados pelo que estão fazendo em Sherlock?
Benedict: É ótimo porque há um ponto de referência muito forte em cada detalhe e te mantem de acordo com o cânone. Eu volto aos livros para referências especificas e para evoluções, que estão lá na literatura. Elas cruzam em todo aspecto na escrita, desde quão sombrio fica até quão engraçado é, até quão rica as caracterizações e relações são. O prazer deles é o prazer do público, e por consequência, nosso prazer em interpretar. Isso te dá um dia bom no trabalho.
A quarta temporada tem sido descrita como a mais sombria até agora.
Benedict: Sem dúvida.
Quão sombrio fica?
Benedict: Cegamente sombrio. Você está falando daquela escuridão do fim do universo. Você não consegue ver a sua frente e entraria em tudo escuro.
Moffat: Nós desligamos as luzes para economizar dinheiro, por isso você não consegue realmente ver. É a mesma série. Tomara que tenha muitas risadas e muitas coisas pessoais, mas é explicitamente uma temporada mais sombria. Você terá que esperar e ver.
Quão diferente você diria que o vilão de Toby Jones é em relação aos vilões e adversários que nós vimos anteriormente?
Moffat: Ele é completamente diferente. Ele é um personagem completamente diferente. Ele é o vilão mais sombrio que nós já tivemos. Sempre houve algo charmoso e atraente em Moriarty. Havia algo fascinante e na verdade amoral, em vez de imoral, em Charles Augustus Magnussen. Esse cara é o mal puro. Sherlock está realmente assustado com ele. Ele é o vilão mais malvado que nós já tivemos. Eu não acho que você irá discordar quando ver. Ele é horrível.
Gatiss: É uma coisa interessante de projetar. Nós fizemos nosso Moriarty muito diferente do de Doyle. Ele é irlandês e ele traz todo seu charme, seu brilho e seu humor enquanto também é aterrorizante. Magnussen era um inexpressivo, arrepiante homem de negócios. Ele não vê o que está fazendo como mal. Toby está fazendo algo muito interessante. Ele é um homem aparentemente amigável e engraçado com dentes terríveis. Nós lhe demos dentes terríveis, que são símbolos da podridão dentro dele. É um personagem muito complexo e sombrio. Você não tem muita certeza qual é relação com ele.
Mark, o que faz com que Mycroft continue a espionar Sherlock?
Mark: É amor e afeição, e é um grande laço familiar. Eles são uma família estranha. Ao contrário do que você esperava, nós explicitamente queríamos que os pais fossem pessoas adoráveis que descobriram que tinham esses dois filhos esquisitos, que são um pouco como Niles e Frasier Crane. Eles vieram de um ambiente familiar muito acolhedor. Então, mesmo que ele não expresse isso muito bem, e use o maquinário do estado para monitorar o irmão, isso vem de um lugar de amor. O que ele quer fazer é juntá-lo e envolvê-lo na organização. Porque Sherlock é um canhão solto, imprevisível, e isso o deixa maluco.
Se Sherlock se encontrar com Doutor Estranho, o que diria sobre ele?
Benedict: Essa é uma pergunta muito boa. Um pouco como o Ancião, eu acho que Sherlock veria alguns dos vínculos que estão faltando na vida de Strange. Eu acho que ele seria capaz de expor suas motivações e defeitos bem rapidamente, como ele consegue com qualquer um que encontra. Se ele se interessaria no Doutor Estranho, como nós o conhecemos no começo de sua história, eu não sei. Quanto a defender o mundo, como nós sabemos, de ameaças de outras dimensões, eu não acho que Sherlock saberia realmente sobre isso. Isso é onde a interação seria interrompida.
Vocês todos tem ficado mais e mais ocupados, desde que começaram Sherlock. A série poderia continuar dessa forma?
Benedict: Nós veremos. Nós veremos como essa temporada se sai. É muito divertido voltar e fazer. Como irá continuar no futuro, quem sabe? Não é uma questão sobre o que qualquer um de nós queremos. É sobre o que é realmente certo para a série, para ser honesto, e isso tem que ser julgado com muito cuidado. Pense na limitada e clássica produção britânica de certos programas, não há muitos deles. É uma coisa dolorosa de se dizer, mas talvez a quarta temporada seja o fim. Quem sabe? Eu não sei. Eu não quero dizer ‘é isso’ porque nós nos divertimos muito fazendo. Mas, geralmente, nós temos que ver como se sai. E os atores não são os únicos que estão ocupados. Mark e Steven estão bem amarrados. Mark é um ator, como também produtor e escritor. Nós todos estamos nos espalhando em diferentes direções. Além disso, a série já durou mais do que a maioria das séries americanas. Você não quer comprometê-la ao fazê-la continuamente, só porque nós poderíamos seguir frente. Há muitas coisas a se pesar. Não é somente o que nós queremos fazer. É o que é certo. Nós veremos. Realmente, nós teremos que ver. Ninguém decidiu nada sobre isso, não há um sim ou não para um final ou um início.
Moffat: Nós temos que levar uma temporada de cada vez. Nós não sabemos o que o futuro irá trazer, e não cabe inteiramente a nós. Com esperança, nós iremos fazer mais. Eu acho difícil imaginar que não iremos. Mas em termos de um plano específico, há ideias que nós ainda não consideramos.
Gatiss: Nós estamos filtrando algumas coisas. Nós temos algumas ideias.
Então, você não sente que está terminado então?
Moffat: Eu não sei se alguma vez se sente. Se você chegar a um ponto na série que você sente que está terminado, você provavelmente já passou do ponto que você deveria ter parado. Você deve parar a toda velocidade, e saltar do trem enquanto ainda está em movimento, em vez de deixá-lo se arrastar até uma parada. Nós não vamos fazer isso. Nós nunca faríamos uma temporada sem passar por nossa inspeção primeiro. Nós temos que estar empolgados, antes de começar a falar com os outros. Mas há ideias, então quem sabe? Nós veremos.
Tradução: Juliana | Fonte