É um momento-chave no qual Ricardo III percebe que ele pode aumentar seu poder”.
Quando Cooke fala ”ação”, Cumberbatch espera trás de uma porta de madeira por sua deixa para emergir no set e mancar como Ricardo.
O site do jornal The Telegraph publicou hoje um artigo sobre a nova temporada de The Hollow Crown, na qual Benedict interpreta o Rei Ricardo III. Confira abaixo a tradução:
Benedict Cumberbatch: ”Às vezes eu penso que quero mais espaço no cérebro. Você só consegue uma chance de interpretar um papel como este”
Por Georgia Dehn
Num dia nublado no começo de dezembro de 2014, Dama Judi Dench está dentro do Winchester Great Hall brincando: fazendo bonecos de sombra com as mãos atrás de um painel difusor de luz.
Outros atores no set, incluindo Benedict Cumberbatch e Keeley Hawes, entram na brincadeira com Dench enquanto o diretor Dominic Cooke checa se ele está feliz com o visual da cena, através da câmera.
Este é o set de Ricardo III, o terceiro filme numa nova temporada da The Hollow Crown da BBC.(Em 2012, a BBC adaptou Ricardo II, Henrique IV partes I e II e Henrique V – com Tom Hiddleston, Ben Whishaw e Jeremy Irons – que foi aclamada universalmente).
Há um enorme apetite para épicos dramáticos no momento, então adaptar Shakespeare para as massas é sucesso de audiência garantido para a BBC.
Com seu elenco estelar – que também inclui Sophie Okonedo, Hugh Bonneville e Tom Sturridge – a nova temporada, The Hollow Crown: The War of the Roses, tem tudo para ser tão popular e impressionante como a original.
Cumberbatch interpreta Richard III, Dench é sua mãe Cecília, duquesa de Iorque, e Hawes é Rainha Elizabeth, sua cunhada vingativa. Ricardo III conclui a grande narrativa do conflito dinástico entre Iorquistas e Lancasterianos.
O roteirista Ben Power deixou a história de War of the Roses dinâmica com a ajuda de Cooke, comprimindo as quatro longas peças de Shakespeare em três filmes relativamente curtos.
Henrique VI está sendo feito como dois filmes (foi escrito originalmente em três partes). ”Nós tiramos tanta coisa, o que significa que cada cena é significante em termos de história”, diz Cooke. ”Entre um terço e a metade do texto original ficou de fora.
A grande que pergunta que nos fizemos para nos permitir fazer esta escolha foi quantas decisões ruins são necessárias para colocar um psicopata no poder.
Nós trabalhamos a partir do assassinato dos dois príncipes na torre. Todo nosso arco nessa adaptação foca em como o estado se tornou corroído o bastante para permitir que alguém como Ricardo III reinasse”.
O produtor Rupert Ryle-Hodges está me mostrando o set hoje e explica o que vai acontecer na cena que está sendo filmada.
Eu encontrei Sam Troughton, que interpreta George, irmão do meio entre os filhos de Plantagenet (Ricardo é o caçula) no meu caminho pelo Great Hall e ele me contou que hoje ele estava brincando de morto: ”Eu pensei que eles fossem usar um corpo falso, mas não, sou eu.
Definitivamente é um dos dias mais fáceis da gravação pra mim”. ”Aquele lá deitado é Sam Troughton”, Ryle-Hodges diz, apontando para o outro lado do set, para o ator que está abraçando uma garrafa de água quente. ”Ele vai só deitar ali o tempo todo.
Sua mãe Cecília chega para prantear por ele e a Rainha Elizabeth corre para encontrá-la, porque o Rei Eduardo IV (o filho mais velho entre os Platagenet, interpretado por Geoffrey Streatfeild) acabou de morrer no andar de cima do palácio de Westminster e a Rainha está preocupada com o que vai acontecer com seus próprios filhos – os príncipes na torre.
É um momento-chave no qual Ricardo III percebe que ele pode aumentar seu poder”.
Quando Cooke fala ”ação”, Cumberbatch espera trás de uma porta de madeira por sua deixa para emergir no set e mancar como Ricardo.
No momento em que ele chega na cena, uma conversa emocional entre Cecília e a Rainha Elizabeth já foi interrompida por dois lordes, que estão lhes aconselhando a melhor maneira de proteger seu herdeiro mais novo, Eduardo V.Isto é um desastre para Ricardo, que está se passando por Lorde Protetor do príncipe, seu sobrinho. Depois de quatro tomadas, Cumberbatch sai para conversar sobre seu papel.
The previous evening he was at the premiere of The Hobbit: The Battle of the Five Armies (in which he voiced the dragon Smaug and the Necromancer) and has only had five hours’ sleep.
Na noite anterior ele esteva na première de O Hobbit: A Batalha dos Cinco Exércitos (no qual ele deu a voz para o dragão Smaug e o Necromante) e só dormiu por cinco horas.
”Não estou reclamando”, ele diz. ”É só um momento agitado e às vezes eu penso que quero mais espaço no cérebro pra isso. Você só consegue uma chance de interpretar um papel como este em filme”.
”O que é maravilhoso sobre interpretar Ricardo III até agora é atuar toda a trajetória”, ele continua.
“Você vê o nascimento de alguém que é tratado como um estranho por uma família de atléticos e robustos Adônis; alguém que é deixado em casa, sendo domesticado e feminizado – deixado sozinho para apodrecer.”
“Isso constrói um ressentimento, o qual você de repente vê explodindo em seu primeiro discurso direto em Henrique VI, quase no fim do primeiro filme.”
É o final da semana 10 de 15 semanas de filmagens e Ryle-Hodges relaciona com uma experiência de estar “em turnê com uma banda de rock”. A cada poucos dias o elenco e a equipe estão em uma locação diferente.
Há 89 papéis com fala nessa série; quatro coroações e seis batalhas para completar.
“A carga de trabalho é enorme, especialmente em ternos de continuidade de figurino e maquiagem com as diferenças de envelhecimento entre o elenco,”ele diz. “A história se passa ao longo de 63 anos.” Dominic Cooke diz que ponderou por um tempo a decisão de entrar nesse projeto antes de aceitar.
“Eu precisava buscar entender como nós iríamos atingir algo com um padrão muito alto,” ele diz. Ele havia deixado seu posto como diretor artístico do Royal Court Theatre no começo de 2013 porque queria um tempo fora. “Eu estava esgotado no final do Royal Court,” ele diz.
“Eu queria fazer algo na tela e eu estava na verdade trabalhando para desenvolver um filme quando esse telefonema veio do nada: se eu queria fazer três filmes de uma vez só e o The War of the Roses.” Por fim ele pensou que iria aprender muito. Antes de se tornar um diretor de teatro, ele teve experiência como editor de filmes, então ele não estava entrando no projeto às cegas.
“E também, eu sabia que adoraria fazer Shakespeare na tela porque um dos desafios de colocar Shakespeare no palco é fazer com que seja psicologicamente detalhado e vívido assim como é nas páginas. Em um palco grande é muito difícil conseguir a sutileza. Na tela você consegue isso.”
Ele não teve nenhum problema em conseguir sua primeira escolha de atores. “Todos queriam fazer parte,” ele diz. “Há um grande entusiasmo. Isso é em parte porque atores amam fazer Shakespeare, mas também porque muitos atores, especialmente atores ocupados, não têm tempo para fazer uma temporada completa no teatro.”
Foi surpreendentemente fácil conseguir todos a bordo. As questões eram logísticas, e Rupert fez um excelente trabalho acomodando agendas individuais.” Cooke já havia trabalhado com muitos dos atores no palco, e alguns eram amigos próximos dele.
Ele havia tentado trabalhar com Judi Dench muitas vezes antes (“quem não tentaria?”) mas não a conhecia. “Todos querem trabalhar com Judi Dench,” ele diz.
“Eu pensei, vamos tentar, nunca se sabe. Levou um tempo para achar as datas que ela estava disponível mas no fim, ela disse sim.”
“Um grande momento para mim,” ele continua,” foi estar no primeiro ensaio com ela. Ela estava brilhantemente preparada. Estava eu, Benedict, Sophie e um ou dois outros atores trabalhando nas cenas que estávamos ensaiando aquele dia. Quando ela saiu da sala no final, todos nós gritamos. Nós todos temos admiração por ela.”
“Ela foi, como você esperaria, absolutamente encantadora. Eu não conseguia acreditar que eu estava trabalhando com Judi Dench. Há poucas pessoas com as quais você tem esse sentimento. Ela está além em termos de seu talento.”
Cooke diz que Benedict Cumberbatch é um “animal na atuação”. “Quando você tem atores assim tão bons você consegue praticamente tudo que você precisa nas primeira três tomadas,” ele diz.
“Os instintos dele são brilhantes. Ele tem uma conexão com esse papel e traz algo novo a cada tomada. Eu o deixei fazer seu próprio trabalho muitas vezes porque suas escolhas são muito boas.” De acordo com Cumberbatch, é uma “felicidade” trabalhar com Dominic Cooke.
“É um casamento perfeito,” ele diz. “O homem é tão bom atrás de uma câmera quanto é em frente ao palco de um teatro.”
“Ele tem essa fantástica habilidade de comandar cenas de grande intimidade com poucas pessoas tão bem quanto os grandes momentos épicos, que são muitos nessa produção.”
“Ele sabe como criar uma grande escala, fazendo 30 extras parecer 300.” Sophie Okonedo, que interpreta Margarida de Anjou, esposa de Henrique VI – Tom Sturridge é Henrique – não precisa estar no set hoje mas ela me conta por telefone que conhece Cooke desde quando eram adolescentes.
“Ele é literalmente meu amigo mais antigo,” ela diz. “Olhar e vê-lo atrás das câmaras, eu me sinto como uma irmã orgulhosa. Meu peito está explodido de orgulho.”
“Todos nós estamos no paraíso trabalhando com ele”, ela diz. “Você consegue dele essas observações de ouro que você consegue de um diretor no teatro mas que não é comum conseguir nos filmes.”
“Ele entende completamente como dirigir atores e muitos diretores não sabem o que fazer conosco, particularmente nos filmes, onde há muitas outras coisas para se concentrar, como o que fazer com a câmera.”
Seis dias depois eu visito novamente, desta vez em Penshurst Place em Kent, para assistir uma externa de Ricardo III.
Ricardo está escoltando seu sobrinho Príncipe Eduardo, interpretado por Caspar Morley, de 13 anos, do Palácio de Westminster onde será a coroação de Eduardo.Eles chegam ao pátio para serem saudados pelo prefeito de Londres. Príncipe Eduardo percebe que sua mãe e seu irmão não estão lá para recebê-lo e está desconfiado de Ricardo.
É o último dia de Morley e ele está coletando assinaturas dos membros do elenco em seu roteiro. Ele diz que Cumberbatch tem sido muito prestativo em lhe dar conselhos. “Alguns atores podem ser arrogantes e com razão,” ele diz docemente.
“Uma carreira como ator é difícil de conseguir. Mas ele tem sido muito bom comigo. Esse é o meu primeiro trabalho fora das peças de escola.”
“Ele me disse para eu simplesmente me imaginar na cena e fingir que a câmera não estava lá. Eu espero que eu possa ser tão bom quanto ele um dia.”
Rupert Ryle-Hodges passa por perto, um pouco afobado. “Nós estamos lutando com a falta de luz natural hoje,” ele diz antes de sair correndo. Uma vez que essa cena de Ricardo III que estou prestes a ver for filmada, há mais duas de Henrique VI para serem completadas.
Enquanto Morley espera para ser chamado ao set ele conversa com sua supervisora e Cumberbatch e traz uma leveza para o que é o começo de um dia estressante.
Ele está segurando aquecedores de mão, que ele enfia dentro de seu chapéu antes da primeira tomada. Ele gosta da ideia de que quando ele assistir ao filme terminado ele vai saber que tinha aquecedores de mão enfiados dentro de seu figurino da cabeça.
A cena favorita de Morley para filmar (“apesar de ter amado tudo”) foi uma em que ele é asfixiado na Torre de Londres. Devido ao planejamento ser tal que os filmes são feitos fora de sequência, aconteceu semanas atrás para Morley.
“Estava muito frio aquele dia e nós tínhamos garrafas de água quente na cama,” ele diz. “Mas depois nós percebemos que o gorgolejar delas estava sendo captado pelo microfone.”
Ele começa a me dizer como que a experiência de estar em um set de filmagens o fez olhar para os filmes de forma diferente.
Hoje, ele está impressionado que a produção sabe os números dos voos de cada avião que irá passar. “Eu não tinha ideia desse tipo de coisa,” ele diz.
Os aviões são baixos e barulhentos. Mas há trabalho a ser feito. “Depois desse avião, VAMOS!” Grita Cooke, e o elenco se apressa para estar pronto para a ação.
Tradução: Gi e Juliana | Fonte