Na última quinta-feira (22), Benedict participou de uma conferência de imprensa de The Child in Time em Londres e pegou todo mundo de surpresa. Nós fizemos a cobertura do evento em nossas redes sociais, mas ela consistiu mais em fotos compartilhadas pelos jornalistas do que em informações. Estávamos esperando as entrevistas serem divulgadas e eis que já temos a primeira, publicada hoje pelo Inquirer.net. Confiram abaixo a tradução:
Benedict Cumberbatch: De Sherlock Holmes a presidente
Por Ruben V. Nepales
Acrescente “presidente” à lista dos muitos papéis distintos de Benedict Cumberbatch. Mas esse título mais recente é de verdade – o ator agora é presidente da Lamda (London Academy of Music and Dramatic Art), a escola de teatro mais antiga do Reino Unido, da qual ele graduou em 2000.
Nas telas, Benedict continua a brilhar em dois projetos televisivos. Ele assume o papel principal em “Patrick Melrose”, uma série limitada baseada em cinco romances semi-autobiográficos escritos por Edward St.Aubyn, que foram compilados num volume único intitulado “Os romances de Patrick Melrose”. O aclamado ator de teatro interpreta o alter ego fictício do autor, Patrick, que vem de uma família inglesa rica e disfuncional, lidando com mortes, álcool e vício em drogas.
Em “The Child in Time”, Benedict não apenas atua, como também produz. Na primeira produção dramática da sua produtora, SunnyMarch, ele assume o papel do protagonista principal no romance premiado de Ian McEwan – Stephen Lewis, um escritor de livros infantis cuja única filha, Kate, desaparece enquanto os dois estão no supermercado. É uma história de viagem no tempo marcada pelo trauma e a tristeza.
Na tela grande, Benedict tem vários projetos iminentes: “Vingadores: Guerra Infinita”, “Mowgli” (imagine sua voz melíflua como Shere Khan), ”Rio”¹, “O Grinch”, “Gypsy Boy”, ”The Man in the Rockefeller Suit”², “Rogue Male” e “Magik”³.
Mas, atualmente, o papel de maior prioridade tem sido o de pai de Christopher Carlton e Hal Auden, seus filhos com sua esposa Sophie Hunter, uma diretora de teatro e ópera.
Trechos da nossa recente conversa no hotel The May Fair em Londres, onde ele apareceu tranquilo vestindo uma camisa de cambraia, camiseta e jeans escuros:
Você vai fazer mais teatro?
No que diz respeito ao trabalho, estou tentando encaixar as coisas de acordo com compromissos familiares no momento. O teatro é bem punitivo por esse motivo, então essa é a única razão para eu não estabelecer uma data.
Mas ser o presidente da Lamda é uma ótima desculpa para fazer teatro e levar a maior quantidade permitida de alunos para uma sala de ensaio, um ensaio de figurino, assim como para um espetáculo.
Como foi ser parte da épica foto da turma em celebração do aniversário de 10 anos dos Estúdios Marvel?
Eu fiquei do lado da Lizzie (Elizabeth) Olsen. Foi incrível. Você se sente um pixel numa foto imensa. Sim, foi incrível ser parte daquilo e meio emocionante também, até mesmo por aquilo representar 10 anos das vidas de pessoas e os altos riscos que elas correram, quando se trata de uma franquia desse tamanho, e o quão bem sucedidas elas tem sido em melhorar o resultado em cada filme.
Fale sobre sua nova série, “Patrick Melrose”.
É uma história extraordinária de um ser humano incrível. Não é segredo que Patrick Melrose é basicamente o alter ego do autor, Edward St. Aubyn. É bem parecida com sua história de vida – sobre um garoto que cresceu em circunstâncias muito privilegiadas, mas que, em segredo, foi abusado sexualmente por seu pai durante anos.
A história então pula para Patrick com seus 20 e poucos anos, quando ele era um completo viciado em heroína e um ser humano muito caótico prestes a perder sua sanidade e sua vida, coletando as cinzas de seu pai em Nova York. Depois, no terceiro episódio, baseado no terceiro livro, chamado ”Alguma esperança”, ele está lidando com os primeiros passos para a sobriedade e tentando encontrar uma verdadeiro propósito na vida.
No quarto episódio, ele é um marido e um pai, e está tentando fazer um bom trabalho e falhando, ainda por causa do tenso relacionamento com sua mãe. No quinto episódio, temos o clímax. No velório e funeral de sua mãe, ele finalmente se reconcilia com quem ele é e com quem ele precisa se tornar para realmente se salvar, e passar de vítima para sobrevivente.
Pra você, o que “The Child in Time” representa?
Ele examina a infância e o tempo literalmente, como no título, “The Child in Time”. É sobre o que é se desenvolver como criança e o que é regredir agindo como uma criança, e o experimento fracassado que Stephen Lewis tem com isso. Stephen foi alguém cobrado para se tornar adulto muito cedo em sua vida.
Para ter uma infância, ele experimenta deixar de lado todas as práticas sociais normais relacionadas a ser um adulto e regride para um comportamento infantil. Isso o destrói. É de certo modo uma terapia ou apenas uma válvula de escape – e, infelizmente, desancora sua sanidade.
O que o atraiu para o projeto?
Eu me atraí por esse papel de homem comum, bem distante de alguns personagens mais extremos que eu já interpretei e alguém de quem eu senti que poderia me aproximar mais, e inclusive, sob um ponto de vista técnico, eu até usei minhas próprias roupas.
Apesar da obra ser uma ruminação e muito poética em sua natureza ao invés de procedimental, foi basicamente uma investigação da realidade de como aquilo seria, com pouco filtro no caminho.
Além disso, era um ótimo roteiro adaptado, de um novelista (Ian McEwan) que eu sempre admirei, mas, curiosamente, esse livro escapou de minha atenção.
O que você tem assistido na televisão ultimamente?
Eu estou assistindo a “Wormwood” no momento.
O que mais você assiste?
O noticiário (risos). Eu tenho assistido muitos screeners ⁴ por conta das votações [do BAFTA e do Oscar] e pra finalmente conferir o trabalho dos meus colegas, apenas me inspirando e querendo ver ótimos filmes.
Você parece ser fascinado pelas palavras de Ian McEwan. Por que elas o atraem?
McEwan sempre explora aquela arte singularmente brilhante de apresentar um mundo reconhecível, mas com um toque sombrio incomum, uma subcorrente de ameaça, perigo, perda ou ansiedade. Há sempre alguma coisa perfeita em relação à sua escrita. É muito direta.
Agora vamos falar de música. Ela o ajuda em sua performance?
Demais
Há alguns momentos em que eu ouço um pouco de música para afastar o barulho de um set e apenas como um ponto de foco. Há certos momentos em que há uma faixa bate de forma perfeita com um sentimento particular de perda, de abrir mão, ou de vivenciar uma coisa que precisa que eu me abra.
Eu não lembro da música – o que é irritante, eu sei – mas é da Wild Beasts, uma banda inglesa. Eles são incríveis. Antes de eu pular do telhado do Hospital St.Bart (Bartholomew) como Sherlock Holmes (numa cena), eu tive uma conexão emocional com o John (Watson). Eu faço muito sem música, mas é um presente quando você encontra uma música que o leva em direção a um estado emocional ou que lhe dá uma ferramenta para ajudá-lo nisso.
Tradução: Gi | Fonte
Observações:
1 Rio ganhou outro título, Let It Fall Back (o que foi confirmado mais recentemente)
2 A participação de Benedict em The Man in the Rockefeller Suit não foi confirmada e até o momento é apenas um rumor
3 Infelizmente, não há qualquer informação nova sobre Magik, cujo lançamento foi adiado várias vezes e no momento é desconhecido.
4 Screeners são DVDs enviados para os membros votantes das academias de cinema e televisão para que eles possam conferir todos os indicados.
E, para quem perdeu no dia, lembramos que é possível conferir fotos em MQ da conferência aqui: