O site do jornal Los Angeles Times publicou uma entrevista com o Benedict, realizada após o anúncio das indicações ao Emmy Awards 2018, na qual ele fala sobre sua indicação e seu trabalho em Patrick Melrose. Confiram abaixo a tradução:
Benedict Cumberbatch teve uma reação bem inglesa ao saber de sua sexta indicação ao Emmy
Por Jessica Gelt
Aonde você estava quando recebeu as boas novas?
Eu estava no carro, indo para casa, saindo do leste de Londres, onde estamos filmando um filme sobre o Brexit, e meu telefone enlouqueceu. Eu pensei ‘Nossa, o que está acontecendo, ele está com problema?’. Mas depois eu vi coisas como ‘Parabéns, abraços’ e foi assim que eu descobri. Foi bem legal.
Você esperava essa honra?
Se sua ambição cresce para além de conseguir o papel e fazê-lo direito, você está encrencado como ator. Você não espera coisas assim – você faz o trabalho e segue em frente. Estou muito feliz, porque significa que o projeto tem outra vida com mais foco nele. E essa é a recompensa disso tudo, porque temos muito orgulho de estarmos associados a essas obras-primas [os livros]. Todos nós começamos com o intuito de dar uma nova vida e um novo formato e um novo público a eles. Então, estar na idade e no momento certos da minha carreira para interpretar este papel com um elenco de matar e sob uma direção incrível – para todos nós, em todos os departamentos – nós começamos o projetos sentindo que isso era recompensa suficiente. É a cereja do bolo, digamos assim, mas não vamos ficar envergonhados, vamos aproveitá-la e ter uma grande noite.
Esta é sua sexta indicação ao Emmy e você agora está empatado com Laurence Olivier com o segundo maior número de indicações na categoria de série limitada. É uma sensação insana?
É incrível. Eu realmente não sei o que falar sobre isso. É o tipo de coisa para se colocar na lápide do túmulo. Eu não sei – é, estou sem palavras. Esta é minha reação bem inglesa a isso. Talvez eu deva tentar outras categorias? Direção de arte?
Considerando a seriedade do material, o público pode se encontrar rindo em momentos que parecem inapropriados. Adicionar esse toque cômico, quase absurdo, a um material tão sombrio foi intencional?
A rica verdade da vida é que a alegria e a tristeza, a felicidade e o desespero, não vivem em corredores separados e se encontram – seja num ataque de risos num funeral ou encontrando alguma coisa engraçada na pior situação possível e sendo irônico. É necessário e verdadeiro e é o que faz esse material ter um apelo universal. Ele vive numa seção muito branca, privilegiada, na elite da sociedade, mas o vício não se manifesta apenas num círculo social – não é único a apenas uma parte da sociedade. Então você deve se sentir estranho, tipo ‘Estou rindo de alguém que parece estar prestes a morrer por causa de drogas, e então me sentindo como se estivessem arrancando alguma coisa de mim e eis que dei uma volta de 180º em páthos’. Sou sempre conquistado por propostas brutais que vão aos extremos. Está tudo nos livros.
Patrick Melrose é um personagem tão complexo. Como você o abordou?
Esse é um dos maiores atrativos do material – você tem a oportunidade de fazer essas variações e isso é um desafio. Você não sente que está num ritmo estável e você pode entregar nuanças. Funciona, e você meio que pode colocar a mão na boca e rir ao mesmo tempo, e eu acho que isso também é engajante. Ele seria uma companhia muito difícil na vida real, mas quando você se dá conta da dor que origina tudo isso, e quando você vê o quão charmoso e engraçado ele pode ser, é uma maravilha. Isso meio que é o que o torna um herói, porque ele deixa de ser uma vítima para se tornar um sobrevivente no final da história, e este é um tema muito potente atualmente. Quando criança, ele conseguiu desafiar as figuras autoritárias de sua vida.
Qual foi a coisa mais desafiadora em interpretar um personagem num estágio tão avançado de vício em drogas?
A corporeidade. Achei importante não ter só uma energia – que todas as substâncias tivessem seus momentos na tela. Mas você vê a luta contra o vício com o coquetel de drogas do primeiro episódio, e depois a sobriedade sendo esse fragmento chato, morto, com ele sendo assombrando por memórias fraturadas, porque ele ainda precisa admitir o que aconteceu. É difícil estar num lugar que é bem tedioso – aceitar isso e interpretar isso e mudar o ritmo. Afetou tudo, desde a vocalização até os movimentos físicos. Eu também conversei com [St. Aubyn] sobre o que ele lembrava e o que ele presenciou. Coisas eram descritas pra mim e eu as interpretava, as encaixa no meu corpo, as manifestava. De certa forma, esse tipo de coisa é perigosa para a saúde, porque é bem intensa, apesar da comédia oculta. As duas comunidades que eu mais quis validar na minha performance foram a de pessoas que foram abusadas quando crianças e de pessoas que sofreram de algum vício. Tentar imaginar [como é ser abusado sexualmente] foi o mais difícil. Parecer drogado ou em tratamento e ter tremores de delírio – eu tive que distender todos os músculos do meu pescoço – mas foi uma coisa mais fácil de fazer do que se colocar na posição de imaginar um horror daquele. E quando você sabe que está interpretando uma espécie de alter ego do escritor…eu não consigo elogiá-lo o bastante como ser humano e como um escritor extraordinariamente talentoso…é muito desconcertante.
Foi difícil terminar a série? Ou é bom terminar uma série limitada e seguir em frente, sem se preocupar com uma segunda temporada?
Foi difícil. Apesar de ela terminar num ato de heroísmo sutil profundamente inspirador e de ela parecer completa. Ao final do funeral e velório da mãe dele no quinto episódio, temos a jornada completa do personagem. Mas foi triste dizer adeus a ele. Eu passei horas delirantes, maravilhosas, assustadoras, alegres e chocantes com ele nas páginas dos livros, e com ele como pessoa. Então, pra mim, não terminou. Ele é um amigo para toda a vida. Eu sou o cara de sorte que tem a chance de continuar minha amizade com a origem de Patrick Melrose.
Tradução: Gi | Fonte