O site IndieWire divulgou uma entrevista exclusiva com Benedict sobre Patrick Melrose. Confiram abaixo a tradução:
“Patrick Melrose”: Como Benedict Cumberbatch se tornou um especialista em vício para entregar a melhor performance de sua carreira
Por Anne Thompson
“Patrick Melrose”, a minissérie em cinco partes do Showtime, não apenas é uma adaptação cinematográfica dos cinco romances causticantes de Edward St Aubyn, como marca a melhor performance que Benedict Cumberbatch já fez. Enquanto alguns podem preferir seu papel indicado ao Oscar em “O Jogo da Imitação”, o papel que o transformou num estrela na série vencedora do Emmy “Sherlock”, ou seu papel menos conhecido e indicado ao Emmy em “Parade’s End”, é o de “Patrick Melrose” que ele parece ter nascido para fazer.
A estrela britânica de 42 anos, que transita com facilidade de papéis em filmes de super-herói, como o Doutor Estranho da Marvel, para a urbana “Sherlock” da BBC e o grande drama de “Hamlet” de Shakespeare, recebeu sua sexta indicação ao Emmy (uma de cinco para a série) por sua interpretação avassaladora de um viciado em drogas problemático com terríveis segredos de família. A série, escrita por David Nicholls (“Um Dia’’) e dirigida por Edward Berger (“Deutschland 83’’), é divertida e tocante na mesma medida graças à performance simultaneamente flexível e precisa de Cumberbatch. Ele arrebenta como esse cara.
“Foi uma tarefa mais difícil do que ‘Parade’s End’’’, ele admitiu, numa ligação noturna direto de Londres. Cumberbatch demorou para conhecer os livros, que foram recomendados por seu amigo Patrick Kennedy (“Cavalo de Guerra”), mas primeiro teve que fazer Hamlet. “Tinha a questão do tempo’’, ele disse. Mas ele não desistiu de “Patrick Melrose’’.
“Esses livros são a melhor prosa do século 21’’, ele disse. “Eu pensei que eles dariam dramas extraordinários. Esse homem incrivelmente engraçado e brilhante sofre tanto logo no começo de sua vida e se torna suicida em seu vício – ele está comprometido psicologicamente e, ainda assim, ele consegue alcançar a salvação. É uma história de esperança, com grandes viradas dramáticas, mudanças de tom. É um reflexo melhor das extremas circunstâncias da vida do que muitas coisas’’.
Em 2014, Cumberbatch conheceu o casal de produtores Rachael Horovitz (“O Homem que Mudou o Jogo”) e Michael Jackson (“Civilizations”) em Nova York, sonolento por ter passado a noite toda relendo os livros. “Eu estava desesperado para impressionar’’, ele disse. “Felizmente, nós todos estávamos com as mesmas intenções. Eles me tinham em mente, foi um encontro maravilhoso’’. A dupla também o colocou como produtor executivo e fechou com o Sky Atlantic e o Showtime.
Produzir foi divertido para Cumberbatch. “Eu coloquei uma quantidade considerável de tempo criativo e gostei de contribuir’’, Cumberbatch disse. “Eu tire meu nome da folha de serviços, para que o elenco e a equipe de produção pudessem focar no que eu tinha que fazer em cada dia. Houveram algumas crises, mas outros produtores e os chefes de departamento estavam por perto para ajudar’’. Ainda que Cumberbatch tenha visto as primeiras edições e passado tempo na sala de edição fazendo sugestões, “É a edição final do Edward Berger. Nós todos nos unimos para termos uma conversa’’.
Cumberbatch foi atraído por um personagem que ele sabia como interpretar ou foi um absoluto desafio? Ele certamente não vivenciou as coisas pelas quais Melrose passou. “Você nunca sabe se você é capaz de fazer alguma coisa’’, ele disse. “Às vezes, você se escala para algum papel: ‘Eu sei quem é essa pessoa e quero fazer justiça a ela’. Não foi este caso. O coração do tema era uma coisa que eu achava que conhecia de alguma forma, mas queria abordá-lo pela perspectiva desse personagem único que sofreu tanto na sua extraordinária jornada como vítima. Ele foi um sobrevivente’’.
Nicholls e Berger projetaram para que cada um dos cinco episódios fossem diferentes em estilo. Eles transformaram o segundo livro da série, “Bad News’’, ambientado nos anos 80, no energético e hilário primeiro episódio, com Melrose em seus 22 anos de idade fazendo um estrondo por Nova York por causa do funeral de seu pai (Hugo Weaving), usando todo tipo de droga, desde anfetamina, heroína, cocaína e álcool até a sedativa metaqualona. Ele acaba rastejando pelo chão como uma foca grunhindo.
“O livro é um ponto de vista tão subjetivo, que faz seu coração bater mais forte’’, disse Cumberbatch. “É uma leitura difícil, uma câmara de pressão. Foi um desafio incrível como ator passar por tudo aquilo. Mas a satisfação é tão grande’’.
St Aubyn é “um modelador inventivo de ironia, sarcasmo e sagacidade proposital”, disse Cumberbatch. “Mesmo em seus momentos mais sombrios com Chilly Willy, quando a seringa horrível cai e perde a veia, existe algo engraçado nisso, assistir a um homem passar por um inferno. É uma comédia negra horrível, e se você acrescentar nessa situação o que essas drogas fazem com alguém psicológica e fisicamente, é muito engraçado. Apesar do mundanismo dele e o que ele está tentando fazer para acabar com sua vida de uma maneira espetacular, existe inocência no desenvolvimento atrofiado dele”.
Cumberbatch se tornou um expert nos efeitos de diferentes substâncias controladas — sem experimentar. “O álcool o leva a sua pior forma de vício, com delirium tremens e abstinência perigosa”, ele disse. “Eu tinha achado que opiáceos e cocaína eram mais difíceis de se lidar”.
Cumberbatch exigiu que especialistas em drogas no set analisassem sua performance para ter certeza de que ele acertasse tudo. “Você tenta forçar demais, ou pouco demais”, Cumberbatch disse. “Eu fiquei voltando e pedindo feedback e honestidade”.
Executar essas voltas foi empolgante mas complicado — precisou de pedaços. “Você consegue ser dramático”, Cumberbatch disse. “‘Esse é um momento sério’. Ou cortado com humor. Eu adoro como tragédia e humor giram em uma cena. Não existe comédia que não tenha partes sérias e nenhuma boa tragédia que não tenha comédia. Elas existem lado a lado”.
Ele gostou de experimentar coisas novas, de dar a Berger muitas escolhas na sala de edição. “É incrível como ele chega ao set com muito pouco preconceito, mas adora explorar de muitos jeitos diferentes”, Berger disse ao IndieWire. “Ele adora experimentar e adora tentar tomadas diferentes. E nenhuma delas é o caminho errado, todas parecem certas. A imensa energia e a imensa variedade de ideias e imensa explosão de ideias. Foi maravilhoso”.
O episódio dois, “Never Mind”, volta a 1967 e ao jovem Melrose na sua quieta casa de campo familiar no sul da França, onde coisas ruins estão acontecendo atrás de portas fechadas. Ele então luta através da recuperação e tenta gerenciar as mulheres em sua vida, incluindo sua mãe cada vez mais confusa (Jennifer Jason Leigh).
Interpretar Melrose nos últimos episódios se tratou de “desacelerar o frenetismo e o caos chamativos e como conter todas as influências fisicamente”, Cumberbatch disse. “O desafio foi equilibrar o humor contra algo muito mais sóbrio, foi incrivelmente nuançado. Você está conhecendo um homem no precipício através de ter desistido da única coisa no qual ele era bom: usar drogas. Ele está encontrando seu destino: tédio e ennui. Ele não tem propósito”.
No episódio 4, “Mother’s Milk”, a mãe dele é senil e quer que Melrose a ajuda a cometer suicídio. Para a sorte de Cumberbatch, St Aubyn estava disponível para conversar enquanto estava se preparando para o papel. “Foi mais fácil saber que a história é baseada no alterego finamente disfarçado do autor que viveu muito do que escreveu”, Cumberbatch disse. “Você tem como Patrick Melrose uma audiência imediata para quem ser autêntico e para quem entregar uma história. A experiência dele fala com uma seção muito larga da sociedade que sofreu abuso ou lutou contra o vício”.
O ator admite que pegou “um pouco emprestado” de St Aubyn, que ele conta como um amigo. “Teddy tem uma qualidade vertical, e se comporta sem cuidado”, ele disse. “Ele é aristocrático, jovial, acessível, não desagradável. Ele fala inglês articulado proposital e lindamente, com um sotaque de classe alta. Ele se apoia e uma palavra para forçá-la até o senso dela. Todo ator deseja um material fonte tão fantástico assim com um subtexto tão psicológico e descrições de monólogo interno e processos de pensamento profundos. Ele resume um personagem em uma frase, um relacionamento em uma página, o mundo inteiro em um romance”.
Tradução: Gi e Aline| Fonte