Leia abaixo uma entrevista que Benedict deu ao site CONTROLRadioUK sobre os desafios de adaptar a minissérie Patrick Melrose como protagonista e produtor executivo:
Benedict Cumberbatch estrela na produção original da Sky Patrick Melrose, um novo drama de cinco partes baseado nos muito amados romances de Edward St Aubyn. Adaptado por David Nicholls (Um Dia), cada episódio retrata um capítulo na vida do perturbado Melrose, de sua infância abusiva à idade adulta regada a drogas. Hugo Weaving e Jennifer Jason Leigh também estão entre um conjunto de elenco excepcional em um conto que às vezes é sombrio mas sempre adornado com uma sagacidade cintilante.
Benedict Cumberbatch – Patrick Melrose e produtor executivo
Como você se envolveu com a série?
Michael Jackson e Rachael Horovitz tinham os direitos da série de livros de Patrick Melrose de Edward St Aubyn e vieram a mim. Eu sabia que haveria um grupo largo de atores que provavelmente também tinham lido os livros e disseram, “Hum, não me importaria em tentar”. Eu tive muita, muita sorte de estar no lugar certo na hora certa. Eu expressei meu desejo em um fórum do Reddit e recebi uma ligação! Eles queriam me encontrar quando eu estava em Nova York, tomamos café da manhã e eu estava um pouco atrasado e assustado já que ainda estava correndo relendo os dois últimos romances na noite anterior e na manhã do encontro! Eu não tinha percebido que eles estavam apenas pensando em mim para o papel naquele ponto e então eu ainda estava nervoso mesmo quando eles estavam claramente lançando suas ideias sobre adaptar esses livros extraordinários para a televisão.
Quem é Patrick Melrose?
Patrick é um personagem desesperado para se distanciar de sua terrível infância e como resultado está, psicologicamente, em todo lugar. Ele é viciado em drogas e quase suicida, mas também incrivelmente engraçado e brilhante. No coração do assunto estava algo que eu achei que mostrava um mundo que eu achava que conhecia, e o virou de cabeça para baixo através da perspectiva deste personagem realmente único que sofre tanto e parte nesta jornada extraordinária de vitimização a sobrevivente; e é um campeão de sua circunstância de uma maneira. E pelo post mortem mais ricamente cômico como bisturi de um sistema de classe alta que está desmoronando, um poder relacionado a isso que dissolve enquanto as histórias continuam. É um trecho extraordinário na vida de um homem. E o apelo do personagem através de dessas mudanças de uma criança inocente, a um rapaz de 20 anos assustado e auto destrutivo a um sóbrio de trinta e poucos anos a um marido e pai — a um órfão… que ótima tela com a qual brincar.
Você falou com algum viciado em interpretá-lo?
Sim, um time marido-e-esposa maravilhoso, Cher e Russel da 3D Research. Eles trabalharam conosco em uma capacidade consultiva e são orientadores profissionais a muitos corpos profissionais diferentes sobre vício e abuso de drogas. Eles mesmos lutaram com vício e foram incrivelmente sinceros e encorajadores e apoiadores durante o processo criativo inteiro, em ensaios e pela duração da produção. E claro o próprio Teddy! A parafernália e o negócio do consumo foram muito complexos e importantes de entender assim como, claro, foram os efeitos físicos e psicológicos dessas substâncias. Mas o mais importante foi a tração por trás do apetite, o vício, a necessidade psicológica que essas drogas criam. O que eles estão substituindo? Com a heroína, todos com quem falei dizem que se trata do abraço caloroso que você nunca recebeu da sua mãe. O alívio do sofrimento da existência. Mas não é apenas se abstrair da sua realidade porque algumas dessas drogas, especialmente as mais ativas ao invés dos opiáceos, exacerbarão suas tensões neuróticas e memórias e te atirarão no poço de si a um vórtice de sua própria criação. Na instância da cocaína, é o ímpeto de motor a jato de cidadelas de cristal se estilhaçando, ou seja, a mais alta das altas, depois a heroína como medicamento para facilitar o pouso. É claro, foi importante acertar as tecnicidades. Este é um viciado muito rico e experiente quando nós o conhecemos. Então aprender a injetar e qual é o efeito no corpo e na mente foi de importância fundamental.
Você conheceu Edward St Aubyn?
Sim — nós nos encontramos socialmente antes, mas depois que me envolvi não queria abordar Teddy cedo demais. Eu não queria começar a vasculhar e tentar entendê-lo e Patrick cedo demais. Depois eu esbarrei nele em uma festa; ele disse, “Eles livros vão acontecer?” Eu disse, “Sim, definitivamente vão”. Ele foi generoso e uma companhia incrivelmente boa. Ele é incrivelmente erudito, inteligente e sagaz, mas também é incrivelmente empático e gentil. Ele é mais generosamente irônico do que a ironia amarga e desgostosa que permeia os elementos menos atraentes do personagem no livro — o que você desfruta a uma distância, mas acho que você não gostaria de ter em volta. Ele não tenta esconder que Patrick é um alterego. Como alguém tão bom saiu de algo tão ruim é um milagre, então eu o respeito só por isso, muito menos como ele embebeu sua arte com isso.
Em 2012, você disse que esse era o papel que você queria fazer…
Eu me lembro de dizer isso em uma convenção de fãs na Austrália. Também disse Hamlet — esses eram os dois únicos papéis que eu tinha listado. O último romance tinha sido publicado em 2011 e esse foi o ano que eu tinha começado a ler a série. É uma coisa horrível de dizer, considerando como algumas dessas pessoas são monstruosas, mas eu senti que eu tinha uma tranca leve no mundo. Eu tinha pouco entendimento daquele meio — o brilho mas a frieza do cinismo e da ironia. Eu me lembro da minha mãe dizer, “Oh, que chatice: oh, querido, não vamos falar disso, é uma chatice.” Uma chatice, como se ninguém estivesse investindo algum tipo de emoção ou cuidado sincero nas coisas. É tudo tão superficial. Minha avó, devo enfatizar, era uma pessoa carinhosa e amigável. Havia essa pressão social de manter tudo leve e borbulhante como conversa de coquetel.
Então o abuso e o vício em drogas na história acontecem na aristocracia?
Sim, então um medo quanto a isso era, estamos olhando para problemas de classe alta, isso vai ostracizar pessoas ou alienar pessoas? O tipo de pessoa que luta contra com o vício, o tipo de pessoa que vivenciou abuso, infelizmente varia através de todas as divisões de classe e então existe uma universalidade nisso que eu acho que traduzirá, além desse exame de bisturi a laser dos espasmos da morte do comportamento do velho mundo e atitudes do pior das classes mais altas. Elas podem ter as ideias mais extraordinárias de posse e propriedade e do que é riqueza — mas essa história é sobre como a verdadeira riqueza é o amor, e como o amor verdadeiro, puro, bom e inocente pode vencer. Mas cara, é uma luta chegar lá.
Você também está produzindo…
Sim, nós chegamos como uma companhia produtora bem depois que eu me envolvi, Tínhamos recebido muito material que não caberia em uma compressão de duas-e-meia, duas-horas em um formato de filme então fez mais sentido começar a olhar livros e adaptações. Faz sentido que isso fizesse parte do nosso cartão de visitas, mas estou tão interessado em desenvolver material em que não estou como estou em estar no material que desenvolvo.
Quais são os desafios de ser o produtor e o protagonista?
Você tem que usar chapéus diferentes em horas diferentes. Em algumas ocasiões eu achei isso um pouco confuso, mas principalmente fui mais um produtor em na preparação e na pré-produção, ajudando toda vez que minha preparação na atuação me permitia ajudar a juntar a equipe de produção ao elenco. Aí você deixa os outros assumir, e quando você começa a gravar não têm tanta produção que você possa ou precise fazer. Quando não estou ocupado como ator, eu olho para o lado de produção e direção das coisas — mas ver a quantidade de trabalho que Edward teve dirigindo todos os cinco episódios, agora não é uma boa hora. Eu tenho dois filhos pequenos e atuar nessa parte foi o bastante.
É uma ótima equipe, do diretor de Deutschland 83 Edward Berger a David Nicholls e o elenco.
Sim. Nós consideramos muitos diretores maravilhosos, mas Ed sempre foi nossa primeira escolha. Quando eu o conheci ele disse, “Eu vejo esses livros como cinco filmes muito, muito diferentes e não só a energia da câmera, mas o foco da narrativa”. Eu estava ligeiramente preocupado com o humor e a classe, que são tão fundamentais para acertar isso, mas aí Ed tem um ótimo senso de humor. O humor alemão é de um jeito próximo do humor britânico. Embora eu ache que ele na verdade é mais suiço/austríaco… ah bem. Ele tem um ótimo senso de humor em todo caso.
E você contratou David Nicholls?
Não, Michael e Rachel já tinham começado a adaptar o material com ele, mas Ed não estava a bordo, nem James Friend que o filmou, a superlativa Karen Hartley-Thomas, que fez cabelo e maquiagem, e o adorável Keith Madden, nosso designer de figurino.
Acho que você não contracenou tanto com Hugo Weaving como seu pai?
Infelizmente, não, e eu adoro ele. Ele tem talento formidável e está extraordinário em seu papel — uma alma torturada carismática, assustadora e poderosamente presente que tortura de volta. O que ele faz com Patrick é muito cataclísmico — você tem um senso do fato de que ele tinha sido destruído quando criança. Hugo atacou o papel com todas as armas, mas é o homem mais doce, suave e engraçado. Eu acho que ele foi o membro do elenco mais amado pela equipe.
E quanto a Jennifer Jason Leigh?
Eu consegui trabalhar com ela como a versão envelhecida de Eleanor e ela foi incrível. Ela fez uma transformação extraordinária e deu uma ótima performance na câmera. Eu não consegui trabalhar a Eleanor mais jovem dela mas assisti eu assisti às filmagens completas dessas cenas antes da edição enquanto eu estava em algum lugar em Atlanta filmando Vingadores como Doutor Estranho. Ela faz escolhas tão corajosas e porque elas têm uma base profunda, se traduzem tão lindamente na tela. Uma atriz realmente notável para ver em ação. Pip Torrens foi extraordinário do começo ao fim como Nichollas Pratt. Um homem sempre blindado com boas palavras e uma sagacidade de um predador social aparentemente invencível que, sem dar spoilers, acaba em um momento de vulnerabilidade débil que parte o seu coração. E Holliday Granger foi fascinante como uma drogada jovem, hippie e anti-estabelecimento que então se torna muito estabelecimento e materialista. Uma aula magistral dela. Prasanna Puwanarajah, um amigo com que não trabalhei por um longo tempo, interpreta Johnny, e Anna Madeley, que interpreta minha esposa, eu tinha trabalhado com ela em The Child in Time, então ela foi bem fácil e ela está extraordinária como Mary, a esposa sofredora de Patrick. É um papel difícil e ela dá a ele uma jornada tão bonita é é terrivelmente emocionante e forte. E a fantástica Jessica Raine, que é a maravilhosamente atrevida Julia, a amiga de longa data e o caso de Patrick. A jornada dela de distanciamento irônico a depressão perdida é lindamente realizada. As mulheres nesta série são surpreendentes, como você verá.
Foi uma papel difícil de desempenhar em termos dos assuntos difíceis abordados?
A tarefa mais difícil foi conter aquela quantidade de mágoa e dor, ter que ir a um lugar onde isso estava correndo pelas veias e o derrubando em direção ao comportamento caótico e autodestrutivo e finalmente um colapso durante o memorial de sua mãe. Algumas das cenas no quarto de hotel Entrevista 7 em Más Notícias são bem difíceis. É como um show de um homem quando ele começa a quebrar o quarto de hotel — essas vozes esquizoides saem e começam a dialogar umas com as outras, então estou falando comigo mesmo. Esse foi um dia estranho no escritório, vamos colocar dessa forma. Eu aprendi em muitas ocasiões a deixar o trabalho na tela, ir para casa no carro, ligar o rádio e começar soltar para que eu entre pela porta e não seja: “Como foi seu dia?” “Bem, eu estava olhando para meu pai morto, pensando nele me estuprando e depois injetei cocaína no meu tornozelo esquerdo e quebrei um quarto de hotel antes de quase entrar em overdose de heroína e acordar cercado por meu sangue, vômito e agulhas. Sabe como é, a norma!”
Nós estamos cientes de que estamos colocando essa pergunta ao homem que interpretou Sherlock Holmes, mas Patrick Melrose tem uma base de fãs dedicada — existe alguma pressão ali?
Sim, existe mesmo e é um pouco intimidador. É claro que vivenciei isso com outras figuras literárias icônicas, mas fizemos algo radical com Sherlock — acho que também o levamos a uma enorme audiência nova. E houve uns poucos antes de mim e haverá uns poucos por vir. É literalmente o personagem mais adaptado na ficção. Essa é uma das duas únicas tentativas. Cada leitor tem seu próprio cinema passando ao ler ficção boa assim, e porque é uma longa narrativa de salvação, ler se torna uma coisa muito pessoal. Ninguém pode ser o Patrick Melrose de todos — embora talvez com este nova tecnologia de rosto poderiam colocar rostos de outros atores para fazer isso acontecer. Nicolas Cage como Patrick Melrose, talvez?
O que as pessoas devem esperar?
Bem… eu odeio essa parte porque você está me pedindo para me vender já que estou muito amarrado nisso mas… Acho que as pessoas receberão um regalo um pouco inesperado. Espero que elas fiquem entretidas com um material extraordinário entregue por alguns dos atores mais amados, jovens e velhos, e gravado de um jeito novo e bonito. Espero que as pessoas queiram ler os livros. Lembro que quando fizemos Sherlock pela primeira vez houve um pico nas vendas desses livros, e trouxe Conan Doyle a uma nova geração. Os livros Patrick Melrose são uma conquista extraordinária na literatura do século XXI. Eles passarão pelo teste do tempo, então vamos esperar que nossa adaptação passe.
Tradução: Aline | Fonte