Benedict concedeu uma ótima entrevista sobre cinema e ciência à revista Physics World do Instituto de Física do Reino Unido, um dos maiores do mundo. Ela aparece na edição deste mês da publicação, mas também está disponível online. Confiram abaixo a tradução:
Benedict Cumberbatch: o jogo da imitação
Por Andrew Glester
Há anos eu converso com cientistias e atores no meu podcast The Cosmic Shed, onde nós exploramos tanto ciência quanto ficção científica. Um ator entrevistado que já interpretou vários cientistas diferentes é o Benedict Cunberbatch. Ele estrelou três filmes com temática cientifíca: primeiro, como o botanista Joseph Hooker em Criação (2009); depois, como o matemático Alan Turing em O Jogo da Imitação (2014); e, mais recentemente, como o inventor Thomas Edison em A Batalha das Correntes (2019). Ele também já interpretou Stephen Hawking no telefilme A História de Stephen Hawking, em 2004, e Werber Heisenberg na adaptação da BBC para a rádio da peça Copenhagen, de Michael Frayn, em 2013.
“Eu realmente gosto de cientistas!”, Cumberbatch riu quando lhe perguntei como ele havia sido escalado nesses papéis. “Eu acho que minha aparência é parcialmente responsável por isso. Eu nunca seria capaz de realizar nada parecido com o que esses homens realizaram, mas eu acho que o que eu consigo é retratar a coisa neles que os permitiu realizar essas coisas – sua humanidade”.
São as ótimas histórias que atraem Cumberbatch para esses papéis. Em seu papel em Criação, foi a amizade íntima entre Charles Darwin e Hooker que chamou sua atenção, o fato de a dupla ter trocado mais de 1.200 cartas num período de quase 40 anos. Em uma delas, por exemplo, Darwin revelou como ele estava “particularmente contente com nossa conversa após o jantar; argumentar com você sempre limpa minha mente de um jeito maravilhoso”.
“Aquela história sobre como Darwin e Hooker tiveram problemas em sua amizade para que Darwin conseguisse publicar A Origem das Espécies…O amor de Hooker por Darwin e sua família e sua tentativa de fazer com que esse homem brilhante, porém complicado, conseguisse chegar mais perto de seu objetivo…Eu achei isso fascinante”, Cumberbatch diz.
Apesar de não ser um cientista – ele estudou drama na universidade – Cumberbatch possui uma paixão pela ciência há tempos. “Eu sempre amei botânica, sempre amei biologia”, ele diz. “Eu amo flores. Amo estampas de flores. Os desenhos antigos que Hooker e pessoas como ele fizeram e as condições em que os fizeram. Eu acho que essas pessoas foram brilhantes e se existe a oportunidade de trazer suas histórias à tona e examiná-las, é muito divertido”.
Físicos podem lembrar-se melhor de Cumberbatch por sua atuação em A História de Stephen Hawking, que foi indicado ao BAFTA TV Award de Melhor Drama em 2005. “Foi uma tentativa de abordar as maiores questões sobre a existência. Atadas a um homem com uma história biográfica extraordinária. Levar a beleza de sua ciência e sua batalha pessoal, quer dizer, que alegria. Que alegria!”. Cumberbatch, que também narrou as palavras de Hawking para a série documental O Universo de Stephen Hawking (2010), escrita pelo próprio Hawking, até mesmo leu no memorial para o físico falecido.
Cumberbatch é famoso por pesquisar sobre os papéis que interpreta extensivamente. “É um dos grandes privilégios desse trabalho ridiculamente privilegiado que eu tenho. Apesar de eu não conseguir compreender parte da matemática pura que é o centro dessas teorias, alguns dos princípios são lindamente simples e poéticos. Você vive sua vida como prosa, mas você pensa nela como poesia, e é isso que a arte pode levar à ciência. Ela pode extrair a imagem e a ideia e transformá-las numa coisa abstrata que pode ser absorvida mais facilmente”.
“Dito isso, filmes podem ser apenas comerciais para essas ideias – para o trabalho brilhante desses homens e mulheres”. Além disso, ele disse que a maior alegria que ele sentiu ao estrelar a série televisiva Sherlock (2010-2017) como Sherlock Holmes, foi quando as vendas dos livros originais dispararam. “As pessoas olham além disso para alguma coisa que elas podem se esforçar para compreender sozinhas”, ele diz. “Nós podemos ajudar a despertar um interesse no assunto. Filmes são ótimos trailers para o verdadeiro evento. Vender as histórias e a ciência por baixo”.
Como um fã de cinema e uma estrela do meio, Cumberbatch acredita firmemente que o filme, como uma forma de arte, pode exercer um papel na comunicação da ciência. “É maravilhoso que a ciência possa ser explorada com tudo que o cinema tem a oferecer como forma de arte, porque você consegue transformar ideias em realidade de um jeito que a palavra escrita geralmente não consegue”, ele diz. “Você pode ajudar a dar um pontapé na imaginação”.
Cumberbatch também acha que a própria ficção científica pode atrair pessoas para a ciência. “Há crianças que vão ver os filmes e pensam ‘Bom, um buraco negro provavelmente não vai se abrir no me jardim’, mas elas podem ficar fascinadas pela ciência”, ele diz. “Se você consegue cativar crianças através da arte do cinema, então você está fazendo um grande serviço à ciência”. De fato, o interesse do próprio Cumberbatch na ciência provavelmente veio da ficção científica, e ele recentemente interpretou cientistas no gênero – mais notoriamente o Stephen Strange nos filmes Doutor Estranho (2016) e Vingadores: Guerra Infinita (2018), da Marvel.
“Ciência e cinema ficarão unidos para sempre, porque há tanta ciência na arte de fazer cinema. As pessoas que cortam, fazem a correção de cor, editam e operam as máquinas e as luzes no dia da filmagem – essas são pessoas inteligentes com mentes muito científicas. Mesmo intrinsicamente, o cinema possui um circuito que precisa da ciência. É preciso de ciência para enviar luz pelo quer que você esteja projetando numa tela para ver uma imagem que volta para dentro da sua retina e faz brincadeiras com o seu cérebro.
Fonte | Tradução: Gi