O site de entretenimento Collider divulgou ontem uma entrevista exclusiva com o Benedict sobre Brexit, que estreia hoje na HBO americana. Confiram abaixo a tradução:
Collider: Muito obrigada por falar conosco sobre Brexit e sua performance nele, de onde quer que você esteja gravando agora.
BENEDICT CUMBERBATCH: Estou em Praga. Vou gravar à noite, então meu dia de trabalho ainda não começou. Acho que começo lá pelas 22h30min e vou até às 7h30min da manhã. Só estou me preparando para me divertir. Está fazendo menos 7 graus aqui, e provavelmente vai cair para menos 10 mais tarde, então vai ser divertido.
Devo dizer que é incrível como só umas mudanças no cabelo podem mudar a aparência de alguém drasticamente, tanto que, quando você apareceu no filme pela primeira vez, eu suspirei em choque.
CUMBERBATCH: Se você não quiser ser reconhecida enquanto está fazendo as tarefas do seu dia-a-dia, eu totalmente recomendo usar um “não-moicano”, que é o que eu estava usando e é o oposto de um moicano. Você suspirou em surpresa. Eu tive que usar um chapéu durante todo o período de filmagens, que ficava literalmente colado na minha cabeça quando eu não estava no set. Eu tenho um álbum de fotografias incrível: durante esse período, incluindo meu aniversário, eu tirava meu chapéu e então tirava uma foto dos meus amigos e parentes ao verem meu cabelo. É basicamente uma representação maravilhosa de choque, consternação, horror e confusão. É uma coleção maravilhosa de reações humanas. É ótimo.
Qual foi a sua reação ao se ver daquele jeito?
CUMBERBATCH: Eu fiquei tipo “Ok, bom, estamos mais perto de me fazer parecer com ele”. Eu precisava ter uma boa peruca em cima, para marcar onde o cabeço ia ser raspado e para onde ele ia. Uma vez que fiz isso e coloquei as lentes de contato, fiquei feliz. Estava mais parecido com alguém cuja aparência é radicalmente diferente da minha, apesar de ele não ser muito conhecido pelo público. As pessoas diziam “foi você quem nós escalamos, não ele. Não tem problema, você não precisa se parecer com ele”. E eu disse “Eu acho que, sendo quem sou, eu preciso. Eu quero entrar na pele dessa pessoa. E quero me parecer com ele. Eu quero pensar como ele e me mover como ele, e isto é parte disso. Então, vou fazer isso”. Eles ficaram tipo “Você tem certeza?” e eu disse “Sim, eu realmente tenho certeza. Eu preciso fazer isso”. Mas estou extasiado com o resultado.
Quando a possibilidade e a oportunidade de interpretar esse cara apareceram para você, foi um daqueles casos em que você aceitou o papel imediatamente ou precisou de convencimento?
CUMBERBATCH: Eu não precisei de convencimento, porque sou um grande fã do trabalho do James Graham, por seus trabalhos anteriores no teatro. Parece um thriller. E eu pensei “esse cara é intrigante, esperto, irritadiço e corajoso, mas ele também é humano. Ele não quer se envolver nessa briga pela qual ele sente fortes emoções por causa das pessoas envolvidas. E as pessoas envolvidas, quando ele se envolve, tentam fazer com que ele se afaste”. Este drama está observando a situação profundamente, através do ponto de vista bem subjetivo dele, com aquele monólogo no começo, por dentro da campanha e as pessoas que a organizaram, da campanha opositora, do país como um todo, e com aquela incrível cena do grupo focal. Tudo isso foi feito com inteligência e humor, com uma fluidez engajante e ritmo, e é muito dramático; e, às vezes, é um drama emocional e doloroso. Eu fiquei intrigado com o roteiro, então conversei com James sobre ele, sobre ele como personagem, sobre as fontes usadas paras as histórias e os pontos de vistas e todos os personagens. Eu disse “Eu quero muito fazer este filme. Podemos tentar fazer o timing funcionar?”. E meu agente concordou com isso, porque o roteiro era muito bom. E foi assim que eu me envolvi no projeto.
E você já tinha trabalhado com o diretor, Toby Haynes, em Sherlock. Ele também já estava envolvido com o projeto ou você achou que ele seria a escolha certa para esse filme?
CUMBERBATCH: Eu acho que o Toby já estava envolvido. Eu não produzi o filme, então não tive nada a ver com isso. Toby realmente foi o cara certo. Eu não lembro quem se envolveu primeiro – Se Toby se envolveu primeiro e eu depois, ou vice-versa – mas ele foi outro atrativo, sem dúvidas. Eu certamente conversei com ele sobre o tipo de filme que ele queria fazer com essa história e roteiro incríveis, e sobre como o resultado final ficaria. Nós dançamos juntos algumas vezes, em outros projetos nossos, porque nós gostamos tanto de trabalhar juntos em Sherlock. Foi uma boa combinação para ambos. Foi um benefício enorme de fazer esse filme.
O que você gosta em trabalhar e colaborar com ele? É uma questão de ser mais fácil quando você sabe como alguém trabalha?
CUMBERBATCH: Sim, você tem uma estenografia. Ele expressa suas emoções. Ele é um ser humano muito transparente. Existe também a amizade. Não é apenas um relacionamento de trabalho respeitoso, mas há também amizade e apoio. A estenografia é a maior coisa. Eu também sabia que ele levaria o filme para além de um drama sobre homens conversando numa sala. Especialmente com a cinematografia de Danny Cohen, eu sabia que o filme teria um impacto visual e um estilo, e que então haveria um toque especial na edição, coloração e trilha sonora que daria a ele uma coisa além do que estava no papel, o que foi bem espetacular. Então, eu tinha confiança de que seria muito bom tê-lo como diretor e, além disso, de que eu me divertiria fazendo esse filme com ele.
Independente de qualquer que seja sua opinião pessoal sobre o Brexit, você sentiu como se conseguisse lidar com o que ele é e o que significa, antes de fazer este filme, ou você sentiu como se precisasse cavar nele para ter um entendimento mais amplo dele?
CUMBERBATCH: Bem, eu sempre observo o que faço, como um contador de histórias e como um ator, enquanto trago à vida um entendimento a um personagem que é outro além de você, o que a maioria deles é, a não ser que sejam muito próximos de você, o que é muito raro. Por qualquer motivo, existem diferenças, então você tem que praticar a empatia. Uma das coisas ótimas sobre ser um ator é que você está continuamente conseguindo aprender coisas novas, e entender pontos de vista ou experiências de vida e visões do mundo que são diferentes das suas. Isso foi definitivamente um atrativo para mim. Outra parte do desafio foi colocar minha cabeça completamente na mente de um estrategista chefe do Vote Sair, e entender como ele fez o que fez como estrategista, mas também o que atraiu essa estratégia e a noção de entender a mentalidade das pessoas que votaram para sair, que foram 52%. Então, isso foi ótimo. Para mim, foi uma experiência muito gratificante, e talvez algo que fiz mais enquanto fiz este drama porque foi tão intensamente focado e grande, na época. Polarizou as pessoas tão grandemente. É uma das contradições mais interessantes de Dominic. Ele é um homem que acredita na causa, mas não nos meios de conseguir isso. Ele pensa que este referendo é uma ideia idiota porque finge que ideias muito complexas podem ser forçadas a respostas binárias simples. Não é possível ser preto ou branco, sim ou não, vermelho ou azul, e sair com alguma coisa que vai agradar a todos. Entender isso melhor ao interpretá-lo me fez abrir os olhos. Acho que é uma das coisas que eu gosto de praticar, como ator. Eu consigo ir a lugares onde não necessariamente iria, na minha vida. É uma das verdadeiras alegrias disso, na verdade, e a emoção disso. Nem sempre é algo que eu procuro. Pode ser só um sentimento que me faz querer aceitar um trabalho, ou um roteiro, ou uma pessoa envolvida com ele. Mas com isso, foi a coisa toda. Foi a experiência de fazer algo diferente de mim.
Depois de interpretar Dominic Cummings, você se achou gostando dele, de todo, ou isso não é algo com que você se preocupa, quando interpreta um personagem?
CUMBERBATCH: Você se inclina naturalmente. Se torna empático com seu personagem e o entende. A ideia de gostar ou desgostá-lo, do que estamos falando, Facebook? A vida é um pouquinho mais complicada. Eu gostei muito de conhecer Dominic. Ele foi incrivelmente generoso e aberto e acessível, e foi durante a produção e tem sido desde então, também, quando não precisava ser. Então, eu tenho muito tempo para pessoas que são assim, e eu o trato com uma quantidade de respeito similar. Você entende o ponto de vista de alguém muito melhor, se trabalhar de dentro do ponto de vista dele. É uma coisa boa para praticar como um ser humano, no geral. Você não se acha gritando de um lado ou de outro, você vai para algum lugar no meio e diz, “Espere, eu quero ouvir todos estes pontos de vista. Eu quero tentar entender alguma coisa”. O luxo o tempo que você tem quando está fazendo um projeto é legal, então gostei muito dessa experiência.
Este é um cara tão interessante porque ele tem êxito em sua campanha, mas não tem a reação que você esperaria que alguém tivesse quanto tem êxito em alguma coisa. Ele é uma pessoa tão fascinantemente complexa.
CUMBERBATCH: Ele é. O drama se trata de tentar incitar este homem de volta ao reino político que causou por causa de seu status e as pessoas envolvidas. Não se trata do problema ou da ideologia. Ele lamenta que nós acabamos neste drama. Lendo qualquer um dos blogs dele agora, é bem assim que ele se sente, na vida real, e nós refletimos esta frustração. Ele venceu, mas não com o resultado que qualquer um de nós ou ele sente que realmente merecemos. Então, ele é complexo, mas quem não é? E o que com esta situação com o Brexit não é complexo? Como audiência, você gostará dele ou não gostará dele, mas espero que vá além desses binários. Pessoas julgam pessoas. A vida é curta. Você tem seus amigos, e você tem pessoas que você não necessariamente quer que seja seus amigos, mas eu espero que as pessoas vejam que existem muitas graças salvadoras neste cara, que está do lado de fora do estabelecimento, tentando desesperadamente duro para chutar as portas e fazer algo que valha a pena, e dar vida a um descontentamento que esteve vivo por muito mais tempo do que esta campanha. Ele diz, “Nós não criamos isso. Esteve lá por anos. Nós só estamos usando isso com o voto, mas esteve lá por anos”.
Você interpretou outra pessoa da vida real que divide mesmo as opiniões das pessoas, quando interpretou Julian Assange em O Quinto Poder. Como você acha que o filme envelheceu, nos cinco anos desde que foi lançado nos cinemas?
CUMBERBATCH: Eu não sei. Não o vi desde que foi lançado. Não tenho certeza. Teria que ver de novo.
É surreal trabalhar em um projeto que é tão atual que você quase pode ver se desenvolver em tempo real enquanto o está fazendo?
CUMBERBATCH: Sim, é extraordinário. Este é um drama histórico, pela natureza de ser sobre a campanha de 2016, e 2015, antes dessa campanha começar, e o resultado em 2016. Nós abrimos nossos jornais e a rotatividade de eventos é tão rápida. Tudo está em fluxo constante. Existe uma história e uma manchete que é digna de um novo roteiro de James Graham, todo dia. Então, isso é bem uma capsula do tempo. De uma maneira, como qualquer coisa na história, e como o WikiLeaks e história de Julian, nos ensina alguma coisa, do contrário não estaríamos contanto essas histórias. Não teriam relevância. É fascinante, como ator, estar ligado a estes personagens da vida real, e depois ver as histórias deles desenvolvidas e o resultado deles. É bizarro fazer este trabalho, e depois vê-lo amarrado à história que continua se desdobrando.
Em 2018, você deu uma das Melhores Performances na TV do Ano em Patrick Melrose, e você também teve O Grinch e Vingadores: Guerra Infinita lançados, e gravou Brexit. Parece um ano ótimo para um ator, trabalhar em gêneros tão diferentes e conseguir fincar seus dentes em alguns personagens legais que são diferentes um do outro? É tipicamente o que você ambiciona?
CUMBERBATCH: Sim, absolutamente. Acertou na mosca. Tem sido um privilégio enorme, quando você conseque essa quantidade de escolha e variedade. É claro, alguns levaram muito tempo para serem feitos, como O Grinch, e o trabalho em Vingadores foi há um ano ou algo assim. Mas ver isso tudo sair, você diz, “Sim, é uma safra de trabalho muito boa para sair”. Estou emocionado. Tem sido um ano adorável para mim.
Tudo indica que Brexit estreará na HBO Brasil no dia 2 de fevereiro, às 22h (horário de Brasília).
Tradução: Gi e Aline | Fonte