Confira a tradução da entrevista de Benedict ao site Shortlist em que fala do Doutor Estranho, da época em que ensinava inglês em um monastério budista no Nepal e sobre entender as coisas do universo.
Por Chris Mandle
São quatro horas de uma tarde fria e Benedict Cumberbatch está preso em uma espiral. Embora tenha ganho notoriedade através de uma enorme quantidade de performances premiadas — homens complexos que pensam brilhantemente como Alan Turing, Hamlet, Julian Assange — hoje ele está preso em um ciclo de movimentos repetitivos que reencena no estúdio do tamanho de um hangar. Dê um soco. Bloqueie um soco. Torça o pulso assim. Atire um homem através de um portal extra-dimensional ao meramente manipular a estrutura da realidade. Depois repita até que esteja perfeito. Soque. Bloqueie. Torça.
Cumberbatch está confrontando o vilão do filme, interpretado por Mads Mikkelsen, o ator Dinamarquês cujos olhos estão mergulhados em maquiagem roxa iridescente, intrincados e escamosos, parecendo uma infecção ocular deslumbrante e bonita. Mais tarde, ele nós o avistamos na cantina comendo um curry verde tailandês com um ar acidental de ameaça.
Assim que a luta acaba, Cumberbatch anda vagarosamente. Ele não é tão classe alta em pessoa, muito menos arrogante do que seus papéis no cinema sugeririam. Ele desenvolveu um costume de tocar gentilmente os pelos faciais que estão grudados ao seu rosto, o que o faz parecer errático e hiper estimulado, empolgado e neurótico. “Eu consigo fazer crescer uma [barba], na verdade”, ele diz. “Mas você sabe como é. A continuidade é importante.” Pausando novamente para beliscar cuidadosamente o buço entre seu polegar e indicador antes de se lançar em uma explicação de por que, depois de todo esse tempo e já tendo se consolidado como uma história de sucesso global, ele está assumindo uma franquia de super herói.
“Isso não estava na minha lista de afazeres”, ele diz. “Mas eu gostava de quadrinhos de super heróis quando era mais jovem — eu gostava do Batman do Tim Burton. Eu tinha os pôsteres na minha parede. No playground nós ouvíamos à trilha sonora do Prince e fazíamos imitações do Jack Nicholson.”
Ele adota um sotaque americano cinzento e fecha um olho para imitar Michael Keaton. “‘Eu sou o Batman’, sabe?”
Poder dos hippies
“Eu achei que esta seria uma coisa muito interessante de fazer. Este personagem poderia ser muito piegas — mas parte do nosso trabalho no cinema é levar as pessoas para além da imaginação. [Strange] fica esticado nesta luta bizarra, que está além do nosso entendimento de, sabe…” ele puxa a barba gentilmente, “realidade perceptiva sensorial.” Ele diz a palavra como um encantamento.
No que diz respeito a filmes super herói, Doutor Estranho é uma venda difícil. Enquanto os filmes anteriores da Marvel não causaram problemas com seus super heróis — o Homem de Ferro é basicamente um cara rico que pode construir robôs, o Capitão América é um cara comum desenvolvido com esteroides — a história do Doutor Estranho foi concebida durante a era hippie da Marvel, quando Stan Lee se obcecou com cosmologia, encantamentos e dimensões alternativas.
A história vê um neurocirurgião arrogante que, uma vez que suas mão são danificadas em um acidente de carro, procura ensinamentos antigos para se restaurar para sua glória passada. Ao fazê-lo, ele descobre a habilidade de dobrar a realidade, torcer nossa existência e fazer o tipo de coisas que alguém poderia postular depois de tomar um monte de ácido. Reverter o tempo. Manipular as probabilidades. Projeção astral. É um conceito que floresceu nos anos sessenta, mas em 2016 poderia facilmente afundar ou nadar.
“Eu estava intrigado com tudo isso”, o ator diz. “As drogas experimentais, cultos, psicodélicos, espiritualismo. Lá atrás, as pessoas usavam essas ideias para explorar coisas que não entendiam. Era uma forma de barganha. Agora, nós sabemos muito mais.” Ele parece bem triste quando diz isso, como se a busca implacável de entendimento da humanidade tivesse deixado a vida moderna um pouco chata.
A própria fase hippie de Cumberbatch foi breve — um ano lecionando em um monastério budista tibetano no Nepal. “Eu costumava a ensinar inglês aos monges de manhã”, ele diz. Ele fazia caminhadas com seus amigos nos fins de semana, até que se perderam nas montanhas durante uma viagem particularmente desagradável que o viu quase quebrar seu pescoço. “Nós bebemos água da chuva espremida de musgo, pegamos doença de altura, eu tive disenteria.” Ele tinha tido sonhos ruins, sonhos de estar sendo roubado.
Indo fundo
“Eu não sou nem um pouco racional”, ele diz. “Eu bato nas paredes tentando entender coisas no universo. Coisas em um nível molecular, ou ritmos circadianos. São fascinantes, estão embutidos em nós. Toda forma de vida tem um ritmo circadiano, de um fungo celular a um humano, para regular nosso relógio biológico. Eu acho que existe espiritualidade na ciência, existe maravilha na lógica, e o mundo fica bizarro quanto mais você pensa nisso.”
Quando ele sai pela tangente científica ele é fascinante, difícil de seguir, ainda tocando seu pelo facial. “É extraordinário e insondável que só tenhamos cinco sentidos para entender e apreciar [o mundo]”, ele reflete. “Quando eu estava no monastério, li o livro do Fritjof Capra, O Tao da Física.” Ele deve ter a impressão que de eu não li O Tao Da Física. Alguém chama o nome dele. “Bem, a coisa sobre isso é que”, ele diz, como uma apresentação de elevador, “mesmo que consigamos explicar tudo, as explicações são maravilhosas.”
Com um floreio teatral, ele se levanta, mostrando como seu figurino de super herói é flexível (“Eu tenho quadris bem duros”) e retorna ao palco para mais. Soque, bloqueie, torça. Assim como antes.
Tradução: Aline | Fonte