O site Collider, juntamente com outros veículos de comunicação, teve acesso ao set de filmagens de Doutor Estranho, em Londres, onde puderam visitar os bastidores e entrevistar o elenco. Confira abaixo a tradução da entrevista com Benedict Cumberbatch, em que fala de sua escalação, dos figurinos,da evolução de Stephen Strange e do que o fez aceitar o papel.
Por Haleigh Foutch
Quando você se senta para entrevistar Benedict Cumberbatch no set de Doutor Estranho, pode esperar vê-lo vestindo a icônica capa vermelha semiconsciente do personagem e o olho de Agamotto. Você certamente não espera vê-lo em uma túnica simplista gasta pelo tempo e calças com pelo facial seriamente desgrenhado e evidência de possível congelamento. Mas foi exatamente o que ganhamos quando me juntei a um time de jornalistas no set de Londres do filme dirigido por Scott Derrickson. Longe do super herói confiante e superiormente bem vestido, pegamos Cumberbatch em uma primeira cena, quando Strange é apenas um pupilo nascente em Kamar-Taj, vestindo o que Cumberbatch descreve como suas roupas de “primeiro dia de escola”.
Com um toque delicioso de teatralidade, Cumberbatch entrou na tenda da imprensa tremendo com ataques de frio espástico fingido com pedaços de neve falsa salpicados em sua barba falsa. Ele também está determinado a ficar com o sotaque americano que usar como o próximo super herói protagonista a se juntar ao universo cinemático sempre em expansão da Marvel. Você terá visto o set nos trailers por agora, que encontram Strange e a Anciã no pico do Monte Evereste, o que você ainda não viu é o que acontece a seguir quando ela deixa Strange no pico da montanha e o deixa para provar seus poderes e fazer seu caminho de volta ao Kamar-Taj. Basicamente, a Anciã está chutando o bebê pássaro do ninho.
Alerta de spoiler: o bebê pássaro aprende avoar. Como todos nós sabemos, ele passa a se tornar o Mago Supremo, mas primeiro ele tem que chegar lá e é disso que se trata a jornada de Doutor Estranho. Enquanto estávamos no set, conversamos com Cumberbatch sobre essa jornada, como ele acabou no papel depois de anos de escalação de fã, por que o Manto da Levitação pode ser “O Manto das Limitações”, e a evolução de Strange de neurocirurgião convencido ao (ainda bem convencido) Mago Supremo. Veja o que ele tinha a dizer na entrevista abaixo.
BENEDICT CUMBERBATCH: Eu trago saudações do Evereste. Olá.
Então por que você aparece desse jeito agora?
CUMBERBATCH: [Para a publicista]: Quer dizer, eu tenho que conseguir dizer a eles, certo? Eu acabei de sair de um refrigerador — não, quero dizer, quase. Estive preso no lado do Monte Evereste. Eu não sei o que posso dizer. É um processo tão estranho, ainda não estou acostumado com ele. É, fui literalmente exposto, no que estou usando, a algumas das temperaturas mais geladas na terra e estou me esforçando para voltar por onde eu vim para este lugar. Então, é um teste curto às habilidades dele neste momento no tempo — estou com um sotaque. Tudo bem estar com um sotaque. Tenho que ficar com o sotaque, tenho que falar — Então, ele vive ou morre se ele consegue fazer isso ou não, então é um momento importante para voltar. É uma resposta longa. Só estou voltando do Everest.
Nós vimos a arte conceitual dos diferentes trajes e dos diferentes níveis de treinamento–
CUMBERBATCH: É, eles não são incríveis? Isso é novidade, isso está bem no começo. Você tem as calças verdes e a camiseta folgada. Eu passo por todas as classes. Acho que é justo dizer que, sim, estou interpretando o Doutor Estranho, eu chego lá. (Voz do set: “Pode se controlar?”) Sou eu ouvindo a voz interior da Marvel dizendo, “Você não pode dizer isso ainda!” Mas eu passo. É uma das coisas que me atraíram ao papel, é o fato de que é largamente uma história de origem, quero dizer isso é parte dela, mas é claro que já todo o capítulo antes onde ele é o neurocirurgião que sofre o acidente. É fantástico. Me dá uma desculpa como ator para aprender com meu personagem, que é algo que você consegue aprender autenticamente — eu não sou um expert em artes marciais, certamente não sou nenhum feiticeiro, então todas essas coisas, o movimento do corpo, a fisicalidade, as mudanças pelas quais ele passa mental e fisicamente, obviamente não estamos filmando em sequência, mas é uma ótima parte.
É uma ótima parte para o personagem que me fez querer interpretá-lo em primeiro lugar. É, este é ele. Tipo de roupa primeiro dia de escola. Parece ficar não mais legal, enquanto nele parece legal, fica mais quente; parece ficar mais e mais pesada, e o Manto da Levitação, que é um amigo querido, mas às vezes em certas tomadas se torna o Manto das Limitações, porque eu posso viajar nele ou dizer, “Meu Deus, meu corpo inteiro estava se movendo assim?” Mas, sabe, qual super herói ou qual ator interpretando um super herói não reclama do figurino? É um estouro. É um verdadeiro estouro. Alex [Alexandra Byrne], nossa figurinista, ela é, é um gênio do caralho. Quero dizer, ela está lá em cima.
Por que você quis fazer este papel?
CUMBERBATCH: Eu nunca fiz um papel principal em um filme grande assim, em franquia grande assim. Um dos motivos foi, eu queria saber como era a caixa de brinquedos. E é insano, a quantidade de facilidade que todo mundo recebe, mas a quantidade de arte e habilidade que é trazido a todo aspecto da filmagem. Quero dizer, você vai para a sua primeira adaptação de figurino e é um de trinta. É uma miríade, mas é por um motivo. Existem tantos figurinos incríveis nisso. E você passa por um processo, quero dizer, a forma do meu corpo mudou um pouquinho com o treinamento, e então esse movimento, certas coisas trazidas à coreografia das lutas. Então é — bom, eu preciso ser capaz de fazer isso nele e eles adaptam o figurino aos seus movimentos, que é outra parte fascinante do processo. Mas vê-los fazendo esse ofício, quero dizer, o verdadeiro olho que tive nesse personagem, muitas vezes o caso com qualquer filme, mas especialmente um assim, que é tão visual e tão baseado em linguagem ilustrativa, foi o trabalho de arte, o trabalho de arte e movimento impressionistas em cada estágio da história. Então quando eu entrei na sala da Alex aqui pela primeira vez, eu falei, “Uau, isso é ótimo!” E aí eu vi como eles iriam fazer a Tilda parecer, e — eu não sabia então que o Mads estava dentro — para onde Kaecilius iria, para dar a você um verdadeiro entendimento de como o mundo seria. Alguns dos desenhos de Charlie Wood. Quero dizer, ele é outro gênio.
Você já leu os quadrinhos?
CUMBERBATCH: Não, não esses. Eu tive uma educação em quadrinhos muito escassa — não porque eu fui açoitado para ler Chekhov e Dickens, mas eu li Asterix nas férias quando era criança, e Tin Tin estava incluso, eu lembro, por alguns anos. Nunca fui geek sobre nada. Nunca fui obcecado com uma coisa por muito tempo. Eu era um pouco de borboleta e pega. Eu trocava de disciplinas, quer fosse instrumentos musicais ou esportes ou o que fosse, e é a mesma coisa com isso. Eu realmente o descobri ao ouvir sobre esse filme e encontrar Scott pela primeira fez e entrar nele com Kevin e me abrir e dizer, “Certo, isto é, como todos os quadrinhos, muito de sua era”, e minha primeira pergunta foi, “Como vocês fazem esse filme? Por que vocês fazem esse filme agora?” e as respostas foram tão atraentes que eu disse, “Estou dentro”.
Há algum peso adicional ao personagem e ao papel, sabendo que isso está abrindo um canto inteiramente novo neste Universo Marvel que já existia?
CUMBERBATCH: Sim, um pouco mas eu acho que interpretar qualquer papel icônico quando você está assumindo uma grande função, entrando na sombra de pessoas que vieram antes de você e não consegue processar esse [inaudível]… Eu estou empolgado em ver onde os Illuminati e o que mais pode acontecer, como isso funciona, e onde isso vai parar. Então sim, estou ciente do lugar dele dentro do panteão cômico disso tudo, o Marvelverso, mas eu não mando email para o Kevin dizendo, “Quando vamos fazer o próximo filme?” Estou empolgado em ver. Estou empolgado em ver. E como você sabe, de todas essas encarnações anteriores, eles desenrolaram maneiras inesperadas do formato e da jornada dos quadrinhos, então eles conseguem preencher aquele espaço mágico de fazer coisas que parecem agradar aos muito fãs e trazer algo novo. Então, acho que ele essa será a peça central para a jornada desse cara.
Parece que fãs estiveram indicando você para o papel por anos, estou curioso quando isso se tornou real para você como algo que está lá fora no qual você estava interessado.
CUMBERBATCH: Bem sério, quando isso foi falado pela primeira vez, eu me encontrei com Kevin, me encontrei com Scott e, cronologicamente falando, não me lembro. Estive assistindo a Making a Murder e percebendo como ela soa familiar, é muito assustador, mas sério, não consigo lembrar exatamente quando. Mas eu lembro — acho que vai de duas maneiras. Acho que você pode se atirar à mercê da Internet e ser parte da mídia social e entrar numa sala com pessoas que querem foder você, matar você, talvez alguns os dois ao mesmo tempo, ou você dá um passinho para trás e faz sua coisa própria no seu próprio mundo. E então coisas vazam e você diz, “Oh, isso é interessante, isso é formidável, isso é calunioso, mas o que eu posso fazer?” [Risos] Você deixa as coisas fluírem para ter alguma sanidade e ser capaz de fazer seu trabalho e não se sentir pré julgado. Isso nem é uma palavra, mas você sabe o que eu quero dizer. Acho que as pessoas têm uma opinião sobre isso então acho que estou dizendo que eu provavelmente estava com medo demais de olhar as palavras dos fãs sobre isso.
Mas fico lisonjeado que as pessoas pensaram que eu era um bom encaixe e talvez isso ressoou com o pessoal lá em cima. Foi difícil em um ponto, por causa da agenda deste lado do Atlântico, então estou muito — é um elogio enorme para mim e então para me empoderar a trabalhar com essa ideia do personagem que eles [inaudível] e então acomodar minha produção de Hamlet e ir para a quarta temporada de Sherlock, então é outro motivo para entregar todo dia, cumprir aquela promessa. Mas é um personagem muito rico. É uma coisa fácil ter uma boa refeição todo dia. É ótimo. Sim, estou empolgado. Estava muito nervoso em fazer a capa da Entertainment Weekly, porque eu pensei, “Certo, este é a primeira prova, este é o primeiro momento visual.” Até então eu obviamente conhecia muito dos momentos mais icônicos em sua história em quadrinhos, mas ainda assim sou eu. Não é um desenho, não é um artista; sou eu e estou meio assustado, mas pareceu ir muito bem e Kevin e todo mundo ficou feliz e eu meio que dei um passo para trás e disse, “Ótimo” e fui ao trabalho. Dessa maneira você pode tentar ter parte disso assim como servir o que já está lá.
Então grande parte do que aprendemos hoje é como este filme vai ser bem diferente do que a Marvel está ambicionando. Então será que talvez haja um critério que os fãs talvez possam —
CUMBERBATCH: Sabe, vocês viram o trabalho de arte, vocês ouviram o que as pessoas disseram, vocês viram os sets, podem assistir um pouco da ação. Vocês se decidam. Eu não quero colocar coisas e fantasias [lá] porque no minuto em que fizerem isso, você recebe afastamentos, como um ator, como Harry e Sally – Feitos Um para o Outro Encontra Robocop 3, então eu entendo como —
Quando isso vai sair?
CUMBERBATCH: Certo? Isso soa muito bom. Estou tentando inventar algum diálogo para esse. Sabe, é uma abreviação que pode ser muito ilusória. Esta não é uma resposta de saída. Acho, também, que é só para deixar isso respirar e ser ele mesmo também. Sabe, eu vi algumas coisas do trabalho de arte e é bonito — os visuais estão bem lá fora, mas são muito científicas assim como alternativas, então há um pouco de tudo do original, mas muito temperado.
Nós obviamente já conhecemos a história de Strange, então como a personalidade ele evolui de ser, sabe, o neurocirurgião convencido ao Mago Supremo?
CUMBERBATCH: Ele ainda é bem convencido no final do filme. Não, eu diria que a maior curva para ele é que ele aprende que nem tudo se trata dele, que há um bem maior. Mas o que ele acha que está fazendo como neurocirurgião, que foi bom porque beneficiou a saúde das pessoas foi apenas um adiantamento de suas tentativas de controlar a morte e controlar seu próprio destino e o das outras pessoas, mas isso ainda é dirigido pelo ego. Então ele se torna mais “sem ego”, mas ele é, eu diria, mas solitário talvez no final do filme. Eu diria que ele é um feiticeiro vigoroso no final do filme, então esta é uma grande mudança. Mas quero dizer, sério, o cara passa por tudo que você poderia possivelmente imaginar, quero dizer ele é um guia de sua profissão, ele está completamente no controle de sua vida, ainda assim existem coisas faltando que são bem óbvias, mas é uma vida boa, ainda assim ele tem este acidente de carro, e fica obcecado em se curar e não percebendo que curar é algo além de se tornar o que ele costumava ser que precisa nutrir algo que está dentro dele. Vem tudo do mesmo caminho.
O cara, como a maioria de nós, é carne incorrupta do começo de sua vida, ele é alguém que não está marcado com o pecado original ou qualquer porcaria dessa. Ele é alguém que veio a esse mundo e teve experiências que o moldaram ao ponto em que o conhecemos pela primeira vez. Sempre terá que haver influência. Acho que existe alguma explicação clara disso neste filme, mas potencialmente mais abaixo da linha… para mais disso sair também. Ele é difícil, ele é arrogante, mas meio que brilhante e charmoso e você pensaria, “É, eu iria querê-lo na minha cabeça se precisasse de cirurgia no cérebro”. Ele é bom o bastante para justificar sua arrogância e ele respeita outras pessoas mas não quando ele pensa estar certo e ele fará o que considerar necessário a ser feito quando souber ou sentir que está certo e o problema do ponto de vista da humildade é que ele está certo, ele é muito, muito bom no seu trabalho. Então, o brilho dele alimenta o ego dele, a perfeição incontestável defensiva dele. Então, eu não sei, você pega um cara, quero dizer, o arco difícil é de alguém que mora em Nova York, é um neurocirurgião de primeira, remuneração superior, mais meritocrático talvez, alguém com a habilidade e o trabalho duro, médico júnior, cirurgião júnior, agora um neurocirurgião de primeira que conquistou seu caminho à remuneração superior da sociedade, para não ter nada. Nada mesmo. Sem nenhum centro espiritual, sem mãos, sem dinheiro, ninguém na vida dele que deixará chegar perto, para se importar com ele, e então ele tem que se construir novamente do fundo e ele é um homem desesperado quando chega a Catmandu. Enquanto ele entra nesta coisa que está a um milhão de milhas longe de qualquer visão do mundo ou sistema de crença ele fica entretido, então é o desespero que o leva ao caminho da Anciã e ao espiritual… e então o diabo anda à solta.
Tradução: Aline | Fonte