Leia abaixo a tradução da matéria do The New York Times que fala sobre fãs do mundo todo que viajarão para Londres para prestigiar Benedict Cumberbatch em Hamlet, no Teatro Barbican.
Benedict Cumberbatch, um Hamlet que é um Ingresso Disputado em Londres
Por Michael Paulson
29/07/2015LONDRES — Clare Newman não ia se arriscar. Se Benedict Cumberbatch fosse interpretar Hamlet, ela estaria lá.
O teatro onde ele estaria se apresentando — o Barbican — estava oferecendo ingressos primeiro para seus apoiadores, então ela e duas amigas se inscreveram para a associação de nível máximo. Os ingressos foram oferecidos eletronicamente para aqueles em uma fila digital, então a sra. Newman e suas amigas entraram simultaneamente de oito navegadores.
O resultado: a sra. Newman adquiriu seis assentos — três para a primeira apresentação na próxima quarta-feira, três para a apresentação final três meses mais tarde. Embora more em Isle of Wight, a aproximadamente três horas e meia de distância, ela visitará Londres mais três vezes, apenas para encontrar outras na aldeia global de fãs de Cumberbatch, uma rede vasta, criada e nutrida pela mídia social, cujos membros mais afortunados e determinados — da Sibéria, Nova Zelândia e Peru e todos os pontos no meio — estão prestes a descer a esta cidade para o que muitos veem como o evento teatral de suas vidas.
A aparição do sr. Cumberbatch como Hamlet — uma temporada de 12 semanas que termina em 31 de outubro — é facilmente o evento mais antecipado da temporada teatral de Londres. Sua produtora chefe, Sonia Friedman, disse que acreditou que foi a peça que vendeu mais rapidamente na história britânica, com seus assentos antecipados vendidos em horas.
“É loucura, e mostra a atração do cara”, disse a sra. Newman, 33, editora de um jornal esportivo que, como muitos, caiu num feitiço Cumberbatch via “Sherlock” da televisão, e que desde então esteve trabalhando para acompanhar os trabalhos artísticos dele, de audiobooks a “Além da Escuridão: Star Trek”, enquanto também faz arte de fã em homenagem durante seu tempo livre.
“Vou ser honesta quanto a isso: não sou a maior fã de Shakespeare”, ela acrescentou. “Mas essa é a peça clássica, o aro pelo qual um ator tem que passar, e se funcionar — e tenho toda fé de que funcionará — pode fazer dele o ator definitivo de uma geração.”
O sr. Cumberbatch, 39, é mais conhecido por seu trabalho na televisão e no cinema, incluindo sua atuação indicada ao Oscar como Alan Turing em “O Jogo da Imitação”. Ele não é nenhum estranho ao palco — seus papéis mais recentes foram em “After the Dance” e “Frankenstein” no Teatro Nacional aqui — mas desde então, a paixão de sua base de fãs só se intensificou, conduzida por mulheres que usam o Twitter, o Tumblr e múltiplas outras ferramentas para compartilhar notícias, fotografias e comentários sobre suas aparições ao vivo e performances na tela.
As fãs dizem que o acham atraente — mesmo se invariavelmente dizem que a aparência dele seja inconvencional — mas muitas também dizem que são atraídas ao que elas veem como uma decência no modo como ele parece conduzir sua carreira e sua vida.
“É uma combinação de sua atuação, escolha de papéis e carisma básico”, disse Ann K. McClellan, a presidenta do departamento de inglês da Universidade de Plymouth State em New Hampshire.
A sra. McClellan, 44, é uma erudita de Sherlock Holmes e uma fã do sr. Cumberbatch; ela vai viajar para Londres com duas amigas no mês que vem para vê-lo em “Hamlet”, e chamou a viagem de “destino de férias” parecido ao que alguns fãs de futebol americano realizam para ver um Super Bowl.
Liderado pela diretora teatral britânica Lindsey Turner, este “Hamlet” está sendo desenvolvido com extraordinário sigilo — nenhum dos principais concordou em falar sobre isso, e os pôsteres do projeto incluem não o sr. Cumberbatch, mas um menino.
A sra. Friedman, que disse que ainda não tinha visto um ensaio, só ofereceria a mais básica das descrições do projeto, dizendo, “É uma sala fechada — esse é o processo.” Ela admitiu que o cenário seria “atemporal”, o tempo de execução menos do que a duração total e o show “muito acessível, muito divertido.” E ela disse que ficou emocionada que a maior parte do público é provavelmente mais familiar com o episódio “The Hounds of Baskerville” de “Sherlock” do que com o príncipe da Dinamarca.
“Espero que, para aqueles que nunca viram Shakespeare, seja muito rock-and-roll, e muito empolgante, e que eles entendam que Shakespeare é tão fácil de entender quanto um programa de televisão ou um filme blockbuster”, ela disse.
Hamlet, é claro, é um dos grandes papéis teatrais, e foi interpretado por muitos astros do cinema ou da televisão, de Laurence Olivier a Jude Law. Atualmente o teatro Shakespeare’s Globe tem uma trupe circunavegando o globo, tentando apresentar a peça em cada país antes do 400º aniversário da morte do bardo ano que vem.
Mas a combinação da temporada limitada, a devota base de fãs do sr. Cumberbatch (uma admiradora na Indonésia tem um negócio vendendo cupcakes Cumberbatch) e a internacionalização do comércio via internet fez deste “Hamlet” um ingresso incomumente difícil.
“As pessoas estão vindo do Japão, da Rússia, planejando se encontrar em grupos — elas estiveram lendo a peça antecipadamente, olhando filmes, se preparando”, disse Naomi Roper, uma advogada de 37 anos em Londres que cuida do Cumberbatchweb, um site popular que segue os projetos e aparições públicas do ator. “Algumas delas não só são novas a Shakespeare, mas espectadoras de teatro pela primeira vez — tive muitas perguntas sobre dress codes e esse tipo de coisa.”
Uma maioria dos assentos foram vendidos a preço total no verão passado, muitos por um sistema online, com preços variando de 30 libras a 62,50 libras (entre US$47 e US$97). Algumas fãs gastaram tanto quanto 100 libras para filiações de nível alto para conseguir a primeira leva de ingressos, e outras ofereceram histórias de dificuldades de como conseguiram ingressos. Stefanie Boehm, uma estudante de 19 anos da Áustria, disse que era o número 2.821 na fila quando se logou, e disse que esperou três horas para comprar ingressos para o teatro de 1.100 lugares. Ayako Nemoto, 37, de Tóquio, disse que não conseguia terminar a compra online, então ligou para o Barbican 72 vezes antes de chegar à bilheteria.
Um bloco de ingressos com desconto — 60 lugares por apresentação, a 10 libras cada — vou vendido mês passado em uma loteria online. Uma última oportunidade será disponibilizada ao longo da produção: 30 ingressos serão oferecidos todo dia para aqueles na fila. O Barbican disse que está tentando evitar o uso de ingressos adquiridos por mercados secundários. Um punhado de instituições de caridade, a maioria delas relacionada às artes, receberam ingressos podem leiloar para angariar fundos, ou dar para beneficiados; e quatro matinês serão realizadas para grupos escolares e universitários. E a produção será transmitida em salas de cinema pelo mundo pelo National Theater Live no dia 15 de outubro.
Para muitas fãs, porém, ver “Hamlet” pessoalmente é o único caminho a seguir.
Courtney Bowden, voluntária de uma companhia de ambulância de 19 anos da Nova Zelândia, disse que estava vencendo o medo de voar para chegar a Londres, fazendo uma viagem que ela chamou de “minha maior vitória na vida até agora.” Lisa Siregar, 29, de Jacarta, Indonésia, disse que ela e quatro amigas tem ingressos, mas ainda estão esperando conseguir vistos. Sabrina Baribeau, uma estudante de 18 anos de Repentigny, Quebec, disse que levaria sua avó, que está tentando aprender inglês para a ocasião.
Outras estão dispostas a aparecer sem ingressos. Eleanor Thibeaux, 28, de Oakland, Califórnia, disse que ela e amigos vão voar para Londres para tentar ingressos pela loteria. “Se entrarmos, fantástico”, ela disse. “Se não, vamos para Munique e afogar nossas mágoas na Oktoberfest.”
Quanto a se o extremo interesse possa impulsionar a produção para uma vida mais longa, a sra. Friedman hesitou. “Adoraria se pudesse, mas veremos”, ela disse. “Não houve discussões. Veremos como vai.”
Fonte | Tradução: Aline.