O site do jornal The Independent postou hoje uma matéria sobre a quarta temporada de Sherlock, que conta com entrevistas com o elenco, inclusive do Benedict. Confira abaixo a tradução:
No set de Sherlock – por que esta versão de Conan Doyle tocou audiências de todos os lugares?
O refazimento moderno por Steven Moffat e Mark Gatiss das atemporais histórias detetivescas pegou 12 BAFTAs, sete Emmys e um Peabody Award
Quando o Primeiro-Ministro David Cameron foi em viagem oficial para a China em Dezembro de 2013, uma pergunta preocupava os habitantes que ele conheceu mais do que todas as outras: por que você não pode persuadir a BBC a fazer mais episódios de Sherlock?
Isso nos dá um indício da estatura de uma série que poderia, sem muito medo de contradição, ser descrita como a mais popular no mundo.
Exibida em 240 territórios mundo afora, o refazimento moderno por Steven Moffat e Mark Gatiss das histórias detetivescas atemporais de Sir Arthur Conan Doyle pegou 12 BAFTAS, 7 Emmys e um prestigioso Peabody Award. Arrecadou nada menos do que 76 prêmios pelo mundo.
Como se isso não fosse prova suficiente do sucesso internacional que a série se tornou, a página global de Sherlock no Facebook agora tem mais de cinco milhões de fãs. Ah sim, e o grupo pop coreano SHINee recentemente lançou um single titulado “Sherlock”, inspirado pelo drama da BBC.
A popularidade é apenas sublinhada no dia em que o The Independent está no set no centro de Londres. Estamos assistindo às gravações da quarta temporada. Sherlock se tornou uma parte tão essencial da temporada festiva quanto uma briga de família, e o episódio de abertura, “As Seis Thatchers”, sai na BBC1 às 8.30pm no dia de Ano Novo.
Estamos cercados atrás de barreiras de mental portáteis do lado de fora do “221b Baker Street” (na verdade, é a vizinha North Gower Street, que agora se parece muito mais com a Baker Street Sherlockesca da imaginação popular).
Ao nosso lado estão milhares de apaixonados por Sherlock, que vieram de todo canto do mundo para dar uma olhadela sem seus heróis, Benedict Cumberbatch (que interpreta o papel principal), Martin Freeman (o companheiro constante de Sherlock, Dr John Watson) e Amanda Abbington (Mary, a esposa de John, que tem um passado suspeito).
Os fãs são recompensados quando Cumberbatch milagrosamente se materializa de uma rua vizinha – e é recebido pelo tipo de gritaria desinibida que normalmente é reservada para os palcos no Wembley Stadium. Parando para conversar com as pessoas do outro lado da barreira, ele é infalivelmente educado com as legiões de seguidores que acompanham cada movimento da produção através de um site chamado “Setlock”.
O ator, que é tão charmoso e elegante quanto seu alter ego é isolado e distante, se senta com The Independent num hotel da vizinhança antes de gravar, para falar sobre Sherlock.
Ele começa avaliando por que, mais de um século após este heterodoxo “detetive consultor” aparecer pela primeira vez no papel, ele continua sendo uma figura tão adorada.
De acordo com Cumberbatch, 40, “Ele é um personagem tão icônico. Ele tem sido amado pelo mundo todo pelos últimos 129 anos. Há alguma coisa muito peculiar e excêntrica nele que o torna essencialmente inglês e absolutamente universal ao mesmo tempo. Ele é o personagem literário mais adaptado para as telas de todos os tempos. É muito o que honrar. Então, sem pressão!”
Desde que Sherlock foi transmitido pela primeira pela BBC1 em 2010, a magnitude do comprometimento dos fãs surpreende os produtores da série. Gatiss, que sonhou com a premissa de tirar Sherlock da era vitoriana e colocá-lo nos dias atuais com Moffat, no trem em algum lugar entre seu trabalho no set de Doctor Who no sul do País de Gales e sua casa em Londres, continua o assunto.”Na verdade, eu estava respondendo algumas cartãs de fãs esta manhã. Algumas eram tão antigas, que eu senti vergonha. Eu tive que começar a mentir sobre pacotes de cartas terem sido extraviados! Mas desde a China até a Rússia, a devoção é surpreendente. Você recebe cartas sobre como a série afetou as vidas das pessoas. Algumas pessoas tiveram uma depressão que foi curada, algumas fizeram amigos por causa da série. É muito gratificante ter tido esse efeito – só por fazer 10 episódios!”.
Gatiss, 50, que também teve sucesso com a troupe de comédia The League of Gentlemen, acrescenta “Como enormes fãs de Sherlock Holmes, Steven e eu achamos incrível ter o privilégio de ter as chaves de Baker Street por um tempo e de fazer uma série que estimulou tanta paixão. Nunca poderíamos ter previsto a escala disto. Desde o episódio piloto, nós sempre sentimos orgulho dela, mas o escopo internacional da coisa é alucinante e intimidador! Foi repentino e improvável. Alguma coisa aconteceu no momento em que o roteiro e o elenco se encontraram. É uma dessas séries. Nunca acontecerá de novo. Nós todos tivemos sucessos antes, mas este é um fenômeno que inflamou bem na hora certa”.
Então, de um jeito apropriadamente Sherlockiano, vamos tentar deduzir as razões pelas quais esta versão de Conan Doyle em particular tocou audiências por todos os cantos. Moffat acha que a escalação dos dois personagens centrais é fundamental. ”Nós provavelmente pegamos esse momento em fita. Assim como vários Watsons, Martin teve a chance de fazer uma audição com Benedict. Na hora que nós os vimos atuando juntos pela primeira vez, nós soubemos que lá estava a série”.
A química entre os dois principais é o que continua a fazer desta iteração de Sherlock tão cativante. Cumberbatch, que também estrelou recentemente no novo filme da Marvel, Dr Estranho, afirma que “as pessoas simplesmente amam o relacionamento entre Sherlock e John. Ambos tem muita autoconsciência e são muito afetuosos, mas também muito honestos um com o outro. Eles são um time realmente complementário. John humaniza Sherlock, e Sherlock dá a John uma dose de adrenalina e aventura e a chance de viver um vida menos comum. Essa é uma combinação muito potente”.
Cumberbatch continua o raciocínio, ‘”o relacionamento com John traz o Sherlock de volta para a dimensão humana, da qual ele se distanciou por uma grande porção de sua vida. Isso o torna um detetive melhor e um ser humano melhor”.
“Eu não quero dizer que o Sherlock fica interessado de repente em segurar bebês ou comer iogurte gelado. O maior presente que Watson lhe deu é fazê-lo mais humano. E se você é um ser humano melhor, mais provável de você sentir empatia e, portanto, ser um detetive mais habilidoso”.
Freeman, de 45 anos, que também se destacou em O Hobbit, Fargo e The Office, observa que são as diferenças entre Sherlock e John que os une. “Sherlock é o cérebro e John o coração da série. E ao mesmo tempo, Sherlock pode ser desagradável. Mas eu acho que pelo o que sabemos do passado do John e de seu caráter, John gosta de ação. John gosta de agitação. E, novamente, John tem uma experiência militar, então ele está acostumado a receber ordens de pessoas que ele talvez não goste.
Mas no final ele gosta do Sherlock porque eles complementam um ao outro naquela amizade, os dois trazem alguma coisa nela. Se ele não tivesse conhecido o Sherlock, John não estaria no meio de tantas histórias divertidas e excitantes acontecendo em Londres, com mortes e perigos característicos e intrigas e tudo aquilo. Então eu acho que é por isso que o John continua voltando para Sherlock.”
O ator, do qual Abbington, sua antiga parceira na vida real, interpreta Mary, sua parceira nas telas, continua que “John é um homem muito esperto, capaz e inteligente. Ver uma pessoa e pensar ‘Cristo, ele é muito mais inteligente do que eu’ é excitante para o John.
“Na vida real você acaba fazendo amizade com pessoas que não têm nada a ver com você, e John e Sherlock não são tão parecidos como pessoas. Mas eu acho que esse é parte do motivo para eles serem amigos.”
A muito antecipada temporada abre com “The Six Thatchers”, escrito por Gatiss e baseado no conto de Conan Doyle “As Aventuras dos Seis Napoleões”. Muito inexplicavelmente, bustos de gesso de Margaret Thatcher estão sendo esmagados com martelos — claramente um caso para Sherlock.
Além disso, todos os personagens estão se acostumando com a nova filha de John e Mary. Gatiss revela que “isso muda tudo. O título não-oficial do nosso episódio é ‘The Three Watsons’ (N/T: Os três Watsons em tradução livre) porque o bebê altera a dinâmica, não de uma maneira emocional, mas porque este é um lugar diferente para colocar os personagens”.
Outro elemento da nova temporada que desestabiliza Sherlock e John completamente é a chegada do vilão realmente assustador Culverton Smith (Toby Jones), o envenenador cruel da história de Conan Doyle “A Aventura do Detetive Moribundo”.
Moffat, 55, revela que “ele é completamente diferente. Ele é o vilão mais sombrio que nós já tivemos. Sempre teve alguma coisa encantadora e envolvente sobre o Moriarty. Havia algo fascinante e realmente amoral, ao invés de imoral, sobre Charles Augustus Magnussen.
“Mas este cara é o mais puro mal. Sherlock está na verdade assustado com ele. Ele é o vilão mais malvado que já tivemos. Eu não acho que quando você vê-lo, você discordará. Ele é horrível.”
O clamor global para mais episódios de Sherlock irá continuar — como os os questionadores chineses de Cameron testemunharão. A notícia excelente é que todo mundo envolvido quer fazer mais.
Freeman reflete que “minha percepção é sempre de que se você gosta de alguma coisa, então a deixe respirar e dê uma chance, mas pare alguma coisa quando você não está mais se divertindo. Mas no momento, eu estou me divertindo muito!”
Porém, no final de contas, “a série se chama Sherlock. A série não tem o nome de qualquer outra pessoa, então você sabe, na próxima vez nós provavelmente estaremos todos mortos e será apenas o Ben. Porque no final de contas ele é a coisa que a série não pode continuar sem!”
Sherlock tem se dado tão bem neste formato, Freeman consegue até prever uma série spin-off acontecendo. “Nós realmente nos divertimos quando estávamos nos anos 1890 [para o último especial festivo, “A Abominável Noiva”]. Ocasionalmente eu olharia para o Ben e depois olharia para mim mesmo no espelho e falaria ‘Graças a Deus nós estamos finalmente interpretando Holmes e Watson ao invés de John e Sherlock’. Então nós interpretamos eles como Conan Doyle pretendia, e foi muito legal fazer isso.”
Então qual período Freeman gostaria que os personagens explorassem da próxima vez? “Eu gostaria de fazer 1066. Seria sobre como Sherlock e John lidaram com a Invasão Normanda!”
Tradução: Gi e Bru | Fonte