Benedict conversou com a revista britânica The Week enquanto esteve no Festival de Cinema de Veneza, onde falou sobre sua carreira, sua experiência como produtor e a Jaeger LeCoultre. Confira:
O astro de Sherlock sobre personagens complexos, projetos de paixão e ambições diretoriais
Alexandra Zagalsky
Benedict Cumberbatch se senta embaixo de um gazebo rosa pálido em um pátio silencioso do hotel San Clemente Palace Kempinski em Veneza, terminando sua penúltima entrevista do dia. Trazendo um novo corte rapado e vestido em um terno de linho creme com uma camisa azul claro, o ator britânico parece adequadamente elegante e descontraído, transpirando charme magnético. O carisma de Cumberbatch deu a ele uma quase adoração de culto como um símbolo sexual, além de sua reputação como um grande talento com uma gama de atuação extensa; seu conjunto de habilidades variável permitiu que ele explorasse oportunidades de maneira geral, costeando através de adaptações de Shakespeare, produções do cinema independente, projetos televisivos intelectuais e apresentações de grande orçamento de Hollywood.
Cumberbatch é naturalmente atraído a personagens complexos e oblíquos. Seus vilões bardos lhe deram muito louvor: ele foi indicado a um BAFTA por sua performance como Ricardo III na série da BBC The Hollow Crown: The Wars Of The Roses, e sua atuação impressionante como Hamlet no Teatro Barbican em 2015 é o material de lenda, não menos importante porque se tornou o evento mais vendido na história do teatro de Londres.
No cinema, Cumberbatch mudou para personagens psicologicamente complexos incluindo Stephen Hawking (A História de Stephen Hawking), Julian Assange (O Quinto Poder) e Alan Turing (O Jogo da Imitação). Até seus personagens fictícios mais famosos – Sherlock Holmes e o super heróis da Marvel Doutor Estranho – são complicados e contraditórios. Invariavelmente, suas performances são dignas de serem escritas e geram discussão intelectual, quer ele esteja emprestando sua voz a um dragão tão vilanesco que é quase shakespeariano (Smaug nos filmes O Hobbit), ou interpretando um papel coadjuvante como Peter Guillam em O Espião Que Sabia Demais, cuja armadura é removida quando ele é forçado a esconder sua sexualidade. Seu próximo papel, como Dominic Cummings no teledrama que ainda vai ao ar Brexit, já causou rebuliço.
De volta ao pátio escondido em Veneza e uma tempestade está se formando. Chuva e relâmpagos estão previstos, e o céu está marmorizado com nuvens cinza sombrias. Este talvez não seja o tempo que os organizadores do 75° Festival Internacional de Cinema de Veneza tinham esperado, mas o cenário certamente é cinematográfico. Eu estou aqui como uma convidada da Jaeger LeCoultre, parceira oficial do festival de cinema pelo 14° ano consecutivo; Benedict é o novo embaixador da marca, o que funciona muito bem já que a Jaeger LeCoultre é a rainha da elegância subestimada, uma relojoaria séria conhecida por seus relógios classicamente estilizados e inovação consistente. Também é uma companhia que abraça idiossincrasias charmosas e bem consideradas, mas mais sobre isso mais tarde.
Como se vê, o ator britânico está menos relaxado do que parece – embora sempre tão educado. “Eu me levantaria, mas todas essas lajes estão se movendo”, ele diz apologeticamente quando aperta minha mão enquanto segura sua cadeira firme. O gazebo foi eregido em uma plataforma elevada, como algum tipo de tenda cerimonial, mas o chão está pouco firme e desnivelado. “Pise com cuidado porque se você ficar na errada você pode cair”, ele diz, alegremente, usando uma mão para indicar um desastre de cabeça.
Começamos discutindo seu “projeto de paixão” mais recente, Patrick Melrose, o drama televisivo de cinco partes criticamente aclamado baseado nos romances semiautobiográficos de Edward St Aubyn. Cumberbatch está soberbo como o personagem título, um homem assombrado por sua infância traumática mas abençoado por uma sagacidade cortante apoiada por uma consideração cáustica das classes altas da Britânia, nas quais ele nasceu. O ator falou longamente sobre a série, que foi ao ar em maio, mas está claro que nada de seu entusiasmo pelo projeto – produzido por sua companhia produtora de cinema e televisão independente SunnyMarch – desapareceu. Ele ainda consegue recitar suas falar; ele lembra os detalhes mais finos de cada romance, as descrições atmosféricas e dispositivos literários lúdicos; ele até fala do café onde ele encontrou os produtores executivos Michael Jackson e Rachel Horovitz, que possuem os direitos aos livros.
Um contador de histórias erudito, Cumberbatch é alguém de quem você aprende instintivamente. Se você tem alguma dúvida quanto a isso, ouça à narração dele do audiobook A Ordem do Tempo, uma exploração profundamente cativante das diferentes noções de tempo, escrito pelo autor best-seller e físico teórico Carlo Rovelli. O livro é brilhantemente executado graças à habilidade magistral de Rovelli de contextualizar teorias científicas complexas, mas Cumberbatch – suas palavras profundas, profundas e enunciadas – pode ser creditado por dar à ‘história’ uma qualidade instrutiva e meditativa.
A ciência – e, em particular, o conceito de tempo – é um tema que corre por grande parte do trabalho do ator. Suas representações do Professor Hawking e Alan Turing são exemplos óbvios disso, mas também existem maneiras mais sutis nas quais o tempo é distorcido para os personagens que ele interpreta. A história de Patrick Melrose apresenta a vida de um homem como uma série de épocas ao invés de um ciclo direto; The Child In Time, a adaptação para a tela da novela de Ian McEwan de mesmo nome, corta para frente e para trás no tempo como uma maneira de realçar o deslocamento sentido por um pai em luto; Sherlock era parcial a flashbacks, e Doutor Estranho pode manipular o tempo com suas mãos nuas. Estou vendo alguma coisa que ele não está?
“Acho que não tenho uma obsessão com o tempo. Quero dizer, talvez eu tenha, talvez não me conheça bem o bastante para admitir isso”, ele ri. “Eu tive experiências – acho que todos nós temos, sejam trágicas ou eufóricas ou inesperadas – onde o tempo se torna uma entidade muito diferente. Você o sente desacelerando ou acelerando ou parando completamente. Sempre é fascinante, e eu acho que quanto mais velho você fica, mais ciente você está de seu próprio tempo. É uma coisa muito natural de vivenciar.
“A vida muitas vezes tem a ver com perceber o que eu posso alcançar e o que não posso alcançar em uma certa quantidade de tempo. Ainda acho isso muito difícil, mas estou muito ambicioso quanto a isso. Eu tenho que admitir que sou ruim em marcação de tempo. Melhorei recentemente, mas consigo imaginar meus amigos lendo isso e dizendo, ‘Você sempre está atrasado pra c***lho!'”
Cumberbatch usa um revival de 50 anos de edição limitada do clássico relógio de alarme de mergulhador da marca. A ironia de carregar um alarme em miniatura não se perde no ator aparentemente menos-que-pontual, mas, como ele explica, é o tom que ele adora mais do que sua função literal. “É um som bonito como um pequeno relógio de alarme internalizado”, ele diz, tentando imitar o barulho. “É como se Rob Brydon estivesse preso dentro, fingindo ser um sino!”
Sua falta de pontualidade pode enfurecer seus amigos, mas o que Cumberbatch possui é um ótimo tempo cômico e um senso de humor carinhosamente fora de ordem. Em um ponto durante a entrevista, ele é distraído por seu cabeleireiro e maquiador Donald, que de repente apareceu embaixo do gazebo. “Adoro como você está aí de pé de frente para as rosas como se fosse um garçom discretamente me esperando devolver a máquina de cartão com minha senha!” ele diz, rindo de seu amigo. “Está feliz? Donald? Fale comigo!”
Ouvintes do sitcom da Radio 4 Cabin Pressure se lembrarão de sua vez como o hilariamente desajeitado Martin Crieff, o capitão de linha aérea incompetente do programa. Na tela, Cumberbatch ainda tem que interpretar um papel cômico autônomo, embora sua entrega sagaz brilha em Doutor Estranho e, realmente, Patrick Melrose, emprestando a estes dois personagens muito diferente mais substância; uma falibidade que gera mais empatia no espectador.
Cumberbatch visitou recentemente a manufatura da Jaeger LeCoultre na Suíça, então o que ele achou de uma atmosfera tão sanitizada e silenciosamente focada, dada a natureza agitada de fazer um filme e seus cenários e locações que mudam sempre? “Antes de visitar a manufatura, eu não sabia sobre as oficinas, ou mesmo sobre as oficinas, ou sobre o Vallée de Joux”, ele admite. O vale é o lar sagrado da relojoaria suíça e uma área de beleza natural intocada – verde, montanhosa e perfeita como caixa de chocolate. “Eu não sabia como o processo era manual, destro e análogo, para ser sincero”, ele fiz do trabalho realizado nas oficinas. “Tinha [um artesão] criando a reprodução esmaltada mais incrível de Banhistas [em Asnières] de Seurat em miniatura nas costas de um relógio Reverso. Outro foi reunir um turbilhão à mão, como um coração batendo sendo iniciado. Eu pensei, ‘Uau!’ Quero dizer, parece mesmo um coração, não parece?”
Está claro que Cumberbatch está verdadeiramente impressionado com o nível de detalhe que vai em um relógio Jaeger LeCoultre. Operações delicadas em peças que exigiram horas e horas de manipulação minuciosa – de gravação e chanfragem manual a esmaltagem e polimento espelhado – são mesmo executados à mão, e nem mesmo erros nano podem ser tirados por edição.
A Rainha também é uma fã: ela usou um relógio de bracelete de diamante Jaeger LeCoultre no Dia da Coroação dela em 1953. O modelo agora lendário Calibre 101 – duas novas versões ouro rosa das quais foram lançadas a tempo para o Festival de Cinema de Veneza – é configurada com diamantes baguete e alimentado por um micro mecanismo, que, até hoje, permanece o menor relógio do mundo. É a natureza exótica da inventividade da relojoaria que faz da Jaeger LeCoultre o caimento perfeito para Cumberbatch e vice-versa: o ator é feito para contar histórias, e a Jaeger LeCoultre tem muitas para recontar. Por exemplo, ele fica surpreso e deliciado de aprender que nos anos 50 a marca lançou o Memovox Parking, um relógio feito para o dono de carro moderno, com uma função de alarme que lembrava o portador de carregar o parquímetro.
Enquanto a entrevista se aproxima do fim, temos tempo para discutir SunnyMarch, a companhia produtora que Cumberbatch conduz com o amigo e parceiro de negócios Adam Ackland. “Como produtor, você usa um chapéu completamente diferente”, diz o ator. “Referente ao roteiro [para Patrick Melrose] você está olhando para onde [a escrita] fica ‘superlotada ou complicada demais para uma audiência televisiva [assistindo] pelos cinco episódios. O que nos atrevemos ou não a perder? Existem muitas outras restrições a considerar, como orçamento, locação, tempo e disponibilidade dos atores. Todas essas coisas entram na equação. Então isso foi algo maravilhoso de exercitar”.
Produzir, parece, pode ser também um trampolim para uma ambição ainda maior, como Cumberbatch divulga mais tarde: “Eu adoraria [ter minha mão na gaveta um dia] e dirigir um pouco, experimentar o que é ter todos os ingredientes e fazer eu mesmo essa reunião”. Enquanto dirigir pode ser provável de acontecer, performar permanece sendo sua verdadeira paixão. “Como ator, você não pode ser precioso. Bem, pessoalmente eu sei que não posso. É o mesmo de fazer uma performance ao vivo: você o faz essa noite e depois solta. Se pensar demais sobe como quer fazer as coisas diferentemente [na próxima vez], você falhou. A plateia será diferente e a piada fracassará, ou o momento parecerá falso porque você está alcançando uma memória ao invés de estar no presente. Então ‘cancele e continue’, como a grande Dama Judi Dench diz”.
É hora de ir. A agente de Cumberbatch está ansiosa que ele possa estar atrasado para o evento de hoje à noite: um jantar elegante para comemorar a arte do cinema, organizado no Palazzo Pisani Moretta do século XV e apresentado pela Jaeger LeCoultre. Benedict deve abrir o procedimento da noite com uma performance única do Letters Live. O Letters Live é a iniciativa literária, iniciada em 2013, na qual atores, músicos, diretores e acadêmicos famosos recitam cartas memoráveis da história. É entretenimento simples e puro, mas mais importante a leitura consolida charmosamente a conexão do contar de histórias entre marca e embaixador.
Enquanto eu deixo o pátio, algo bastante surpreendente acontece: Cumberbatch me alcança perto da entrada do hotel. Ele esteve pensando na pergunta do tempo e como ele se relaciona com suas próprias escolhas de atuação. “O tempo… bem, é Shakespeare”, ele diz. “Está em todo lugar em Shakespeare”. E com isso, assim como Doutor Estranho, ele se vai. Talvez ele seja um pouquinho obcecado com o tempo afinal.
Tradução: Aline | Fonte